As empresas tradicionais não têm respostas para competir com a Xiaomi no Brasil

Samsung e Motorola, que dominaram o mercado brasileiro de celulares por muitos anos não se mostram capazes de reagir
Renato Santino25/04/2019 01h34, atualizada em 25/04/2019 12h00

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Nesta quarta-feira, 24, a Samsung anunciou a chegada ao Brasil de três celulares da família Galaxy M: o M10, o M20 e o M30. Os três dispositivos são razoavelmente simples, com preços oscilando entre R$ 900 e R$ 1.500 dependendo da versão escolhida.

A situação é curiosa diante de um mercado que foi inundado, ainda que informalmente, pela Xiaomi, que tem chamado a atenção de basicamente qualquer brasileiro que esteja de olho em um celular novo. Os três aparelhos da Samsung podem até ser baratos, mas o fantasma da chinesa assombra basicamente qualquer lançamento realizado no Brasil.

Vamos olhar, por exemplo, o celular mais barato do trio, o M10. O dispositivo conta com 3 GB de memória RAM com câmera dupla e uma tela grande de 6,2 polegadas, 32 GB de armazenamento interno. Não são especificações ruins quando pensamos que se trata de um aparelho de R$ 900, completamente dentro da realidade brasileira.

E então nós vamos olhar o que oferecem os aparelhos chineses que estão entrando no mercado oferecem pelo mesmo preço. Temos dispositivos como o Redmi Note 6 Pro e o Mi A2, que podem ser encontrados por cerca de pouco mais de R$ 100 a mais, mas com capacidades consideravelmente superiores. Ambos com 4 GB de RAM, tela com resolução muito superior (Full HD+ contra HD+) e processador superior.

Isso também vale para o Galaxy M20, que é só um pouco melhor. Ele se iguala em preço aos modelos destacados e em várias das especificações, mas fica bastante para trás em desempenho: uma comparação rápida no AnTuTu mostra uma diferença considerável de 30 mil pontos entre um Mi A2, por exemplo, e o M20 da Samsung.

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Pelo que percebemos do mercado brasileiro, a Samsung parece ter cortado todos os custos possíveis para fazer da linha M o mais atraente possível para os brasileiros diante de uma competição que ficou bastante feroz nos últimos meses com o início da distribuição massiva de celulares da Xiaomi por meio de importadores independentes. As vendas, inclusive, serão limitadas aos canais online, o que ajuda na contenção de custos e barateamento.

Mesmo assim, é fácil perceber que a competição está difícil. Afinal de contas, os importadores muitas vezes não precisam lidar com todos os encargos tributários que as grandes empresas têm, além do fato de que os aparelhos da Xiaomi já são naturalmente mais baratos no exterior do que os concorrentes, por uma série de políticas da chinesa, como margem de lucro reduzida e investimento em marketing e pesquisa e desenvolvimento limitados.

E fica muito claro que esse não é um problema só da Samsung. Qualquer fabricante vai ter problemas para bater de frente com a chinesa e os importadores em preço, como é possível ver, por exemplo, no caso da Motorola. A empresa foi a primeira a trazer ao Brasil um aparelho com Android One, o Motorola One, mas o dispositivo, com quase um ano no mercado, não consegue competir em preço ou configurações com o Mi A2. Toda a linha Moto G, que sempre foi a grande queridinha dos brasileiros por unir preço e qualidade, foi completamente obscurecida por aparelhos chineses.

A questão é saber até onde essa invasão chinesa irá. Os celulares da Xiaomi ainda são limitados a bolhas de entusiastas na internet, mas essa bolha está aumentando rapidamente, impulsionada pelas redes sociais. As empresas com operação nacional como Samsung e Motorola ainda terão ao seu lado o varejo físico, que ainda é responsável por movimentar muitas vendas de smartphones, mas o futuro pode ser preocupante para o negócio de celulares dessas empresas se o nome da Xiaomi continuar se espalhando com a força atual.

Um reflexo já foi notado. Pela primeira vez, um aparelho da chinesa entrou na lista dos mais pesquisados do Zoom, o site de comparação de preços: o Mi 8 Lite. Isso é um sintoma de que as coisas estão mudando. É ver até onde isso vai.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital