Covid-19: visons sacrificados na Dinamarca estão saindo das covas

Processo de decomposição dos animais, mortos após serem infectados com o coronavírus, faz com que eles inflem e saiam das covas rasas nas quais foram enterrados - aumentando o risco de contaminação
Renato Mota30/11/2020 17h49

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A pandemia de Covid-19 criou, ao longo dos meses, alguns cenários de terror. Mas nenhum é parecido com o que está acontecendo na Dinamarca, onde milhões de visons contaminados com o Sars-Cov-2 estão saindo das suas covas e arriscam contaminar a água da região onde foram enterrados.

Desde o início da pandemia, esses animais se mostraram mais suscetíveis ao contágio e transmissão do coronavírus. No país nórdico, onde eles são criados para extração da pele, uma mutação do vírus infectou 12 pessoas, e toda população de 11 milhões de visons teve que ser exterminada – o que devastou também a indústria de casacos de pele dinamarquesa, a maior da Europa.

Os animais foram então enterrados às pressas em dois locais separados, um perto de um lago que recebe banhistas e outro próximo a uma fonte de água potável. Porém, há relatos que alguns dos visons enterrados estão saindo das suas covas rasas por causa dos gases de nitrogênio e fósforo produzidos por sua decomposição.

“Alguns gases podem se formar, o que faz com que tudo se expanda um pouco e, na pior das hipóteses, [os animais] são empurrados para fora do solo”, explicou o assessor de imprensa da Polícia Nacional, Thomas Kristensen, à agência estatal DR. As covas dos visons possuem, em média, um metro de profundidade.

O ministro da Agricultura, Rasmus Prehn, afirmou que planeja exumar as 10 mil toneladas de visons mortos e incinerá-los, o que exigiria a aprovação da agência de proteção ambiental – medida que foi ignorada quando os mamíferos foram sacrificados e enterrados inicialmente. A ministra do Meio Ambiente, Lea Wermelin, reconheceu que o enterro em massa não foi o melhor método, mas que a disseminação de Covid-19 nas fazendas tornara o descarte urgente.

Os animais mortos são tratados com desinfetante e cobertos com cal quando enterrados. A área está sob vigilância e, a longo prazo, será cercada. O governo dinamarquês admite que existe um risco de infecção associado aos cadáveres – embora seja pequeno.

“O vison morto infecta menos do que o vison vivo. Mas ainda pode haver bactérias na pele deles”, afirma Kristensen. Sobre os animais estarem saindo das covas, o assessor diz que “é uma situação extraordinária, por isso não podemos falar nada a respeito”.

Nicolai Dybdal/Shutterstock

A Dinamarca é o maior exportador mundial de pele de vison. Imagem: Nicolai Dybdal/Shutterstock

Mudanças no vírus

Mutações de vírus são uma parte natural de sua biologia, e não necessariamente representam um perigo maior ou menor para quem é infectado. No entanto, Mette Frederiksen, primeiro-ministro dinamarquês, diz que neste caso, as autoridades de saúde acreditam que a nova variação pode ter uma menor sensitividade aos anticorpos produzidos contra versões mais antigas do vírus, como relata a agência Reuters.

Na prática, isso significaria que uma pessoa que tenha sido infectada poderia estar mais suscetível a uma reinfecção. Isso também poderia atrapalhar os esforços globais para o desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19.

Até o momento, todas as mutações detectadas do Sars-Cov-2 não afetam especificamente a forma como o vírus interage com os anticorpos, já que não afetaram significativamente a proteína S (ou “spike”) utilizada para ligar-se aos receptores celulares e invadir as células e que são atacadas pela resposta imunológica do organismo. Recentemente, no entanto, foi detectada uma mutação na proteína, mas que também não parece ser especificamente na área atacada pelos anticorpos e não deve ser relevante o suficiente para atrasar uma vacina.

Via: BBC/The Guardian/DR

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital