Imunidade ao coronavírus pode durar décadas, diz novo estudo

Caso isso seja comprovado, não será necessário administrar uma nova dose da vacina
Vinicius Szafran18/11/2020 20h05, atualizada em 18/11/2020 20h15

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Muito se especula sobre a imunidade ao coronavírus. Após tomarmos a vacina, poderemos ficar tranquilos por quanto tempo? Uma nova dose será necessária? Segundo um novo estudo, que trouxe as respostas mais promissoras que já tivemos até o momento, essa imunidade pode durar anos – e até décadas.

Oito meses após a infecção, a maioria das pessoas recuperadas da Covid-19 ainda têm células imunológicas suficientes para afastar o vírus e prevenir doenças, de acordo com a pesquisa. Uma lenta taxa de declínio no curto prazo sugere que essas células podem persistir no corpo por muito tempo.

A pesquisa, publicada online pelo Instituto de Imunologia La Jolle, ainda não foi revisada por pares ou publicada em um jornal científico. Ainda assim, é o estudo mais abrangente e de longo alcance da memória imunológica ao coronavírus já feito.

As descobertas provavelmente serão um alívio para os especialistas preocupados com o fato de que a imunidade ao vírus pode durar pouco e que as vacinas talvez precisem ser administradas diversas vezes para controlar de fato a pandemia.

O estudo também se encaixa em outra descoberta recente: que os sobreviventes da Sars, doença causada por outro coronavírus, ainda carregam certas células imunológicas importantes, mesmo após 17 anos de sua recuperação.

Outros laboratórios encontraram evidências consistentes com o novo estudo. Pesquisadores da Universidade de Washington já haviam mostrado que certas células de “memória” que foram produzidas após a infecção persistem por pelo menos três meses no corpo.

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Imunidade ao coronavírus pode durar décadas, diz estudo. Imagem: Vitalii Matokha/Shutterstock

Um estudo publicado semana passada também descobriu que os recuperados da Covid-19 têm células imunes assassinas poderosas e protetoras, mesmo quando os anticorpos não são detectáveis. Vários imunologistas entendem essa como a resposta convencional, aquilo que costuma acontecer após qualquer infecção. Mesmo assim, ficaram empolgados com a notícia.

No novo estudo, um pequeno número de pessoas não tinha imunidade duradoura, talvez devido à baixa carga viral a que foram expostas. Segundo Jennifer Gommerman, imunologista da Universidade de Toronto, a vacina pode superar essa variabilidade individual. “Isso ajudará a focar a resposta, para que você não obtenha o mesmo tipo de heterogeneidade que veria em uma população infectada”, disse ela.

Nos últimos meses, relatos de redução nos níveis de anticorpos criaram a preocupação de que a imunidade possa desaparecer depois de algum tempo, deixando as pessoas vulneráveis ao vírus novamente.

Porém, muitos imunologistas notaram que a queda no nível de anticorpos é natural. Além disso, os anticorpos são apenas uma parte de todo o sistema imunológico. Por mais que eles sejam necessários para impedir uma segunda infecção, as células imunológicas que se “lembram” dos vírus com mais frequência são responsáveis pela prevenção de doenças graves.

É muito comum que as pessoas sejam infectadas novamente por um patógeno específico, mas o sistema imunológico reconhece o invasor e acaba com a infecção rapidamente. O coronavírus demora para causar danos, o que dá tempo de reação ao sistema imune.

Alessandro Sette, imunologista do Instituto de Imunologia La Jolla e coautor do estudo, juntamente com seus colegas, recrutaram 185 homens e mulheres que se recuperaram da Covid-19, com idades entre 19 e 81 anos. A maioria teve apenas sintomas leves e forneceu apenas uma amostra de sangue, mas 38 forneceram várias amostras ao longo de muitos meses.

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Casos de reinfecção ainda são raros. Imagem: CI Photos/Shutterstock

A equipe rastreou quatro componentes do sistema imune: anticorpos, células B (que produzem mais anticorpos se for necessário), e dois tipos de células T (que matam células infectadas). A ideia era construir uma imagem da resposta imunológica ao longo do tempo, observando suas variáveis.

Eles descobriram que os anticorpos eram duráveis, com diminuições modestas de seis a oito meses após a infecção, embora houvesse uma diferença de 200 vezes nos níveis de cada participante. As células T tiveram uma decadência lenta e leve, enquanto as células B aumentaram em número – uma descoberta inesperada que os pesquisadores ainda não sabem explicar. O estudo é o primeiro a mapear a resposta imunológica a um vírus de forma tão detalhada.

As preocupações sobre o tempo de imunidade se devem principalmente às pesquisas com os vírus que causam resfriados comuns. Uma delas, liderada por Jeffrey Shaman, da Universidade de Columbia, e frequentemente citada, sugere uma diminuição rápida da imunidade e reinfecções podendo acontecer dentro de um ano.

É difícil prever exatamente quanto tempo dura a imunidade, porque ainda não se sabe ao certo quais níveis de várias células imunológicas são necessários para se proteger do vírus. Até agora, os estudos sugerem que a proteção daqueles que se recuperaram pode ser feita até mesmo com um pequeno número de células B e T.

Os participantes do estudo vêm produzindo grandes quantidades dessas células, ao menos por enquanto, e nada indica que esses números vão decair repentinamente.

O principal fator para a reinfecção com os coronavírus do resfriado comum são as alterações genéticas virais, algo que pode não ser tão preocupante no caso da Covid-19.

Via: The New York Times

Vinicius Szafran
Colaboração para o Olhar Digital

Vinicius Szafran é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital