Momo é o nome de uma espécie de “lenda urbana” que surgiu na internet em 2018. Tudo começou com um misterioso perfil no WhatsApp e logo se espalhou pelo resto das web, chegando a vídeos no YouTube. Histórias de uma “boneca Momo” e de um tal “Momo challenge” têm deixado muita gente assustada. Neste artigo, vamos explicar exatamente como tudo começou.

A tal “Momo” começou a chamar a atenção em 2018 com um número de telefone que mostrava a imagem bizarra acima como foto de perfil. Mas em relação ao que esse número de telefone faz, os relatos são muitos, poucos são confirmados e a maioria são contraditórios.

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Há quem diga que o número envia imagens e vídeos perturbadores. Outras pessoas dizem que se trata de um chatbot, um robô virtual que emite respostas automáticas pré-programadas com base nas mensagens recebidas. Há também quem ficou sem resposta ao tentar um contato.

Logo, começaram a pipocar correntes e histórias diferentes sobre a natureza e o objetivo do tal Momo, especialmente no YouTube, Facebook e no próprio WhatsApp. Há quem diga que o contato com o personagem resultou na instalação de um vírus no celular, outros dizem que houve pessoas sendo induzidas ao suicídio. Como é impossível rastrear a origem destes boatos, o ideal é tratar tudo como “fake news”.

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Em 2019, surgiram relatos de que a imagem da tal Momo começou a aparecer em vídeos infantis no YouTube sobre slime, aquela geleia de brinquedo que faz sucesso entre as crianças. Em vez das pessoas brincando, os vídeos apresentavam a Momo ensinando como fazer para cortar os pulsos, no chamado “Desafio Momo” ou “Momo Challenge”. Pais relatam que seus filhos ficaram traumatizados com as imagens, e estão até com dificuldade para dormir.

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Em nota, o YouTube se defendeu das acusações e diz que não vê evidências da promoção de qualquer “Desafio Momo” ou “Momo Challenge” no YouTube. O departamento de comunicação do YouTube Kids também nega que vídeos da personagem tenham furado o filtro de conteúdo infantil.

“Ao contrário dos relatos apresentados, não recebemos nenhuma evidência recente de vídeos mostrando ou promovendo o desafio Momo no YouTube Kids. Conteúdo desse tipo violaria nossas políticas e seria removido imediatamente”, disse o YouTube em uma nota.

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O YouTube confirmou também que qualquer vídeo a respeito da Momo viola suas diretrizes de conteúdo e, portanto, não pode receber anúncios. A empresa mantém políticas rígidas sobre onde a publicidade pode aparecer, de modo a proteger as marcas de se associarem a conteúdos danosos aos telespectadores ou mentirosos, como é o caso da personagem.

A história da boneca Momo

O que se sabe com certeza é que a imagem que ilustra o tal perfil não é de um filme, de um demônio ou de uma pessoa deformada, como disseram alguns. E também não se trata de uma foto comum adulterada no Photoshop, como talvez possa parecer.

A foto mostra, na verdade, apenas uma parte de uma escultura japonesa. O autor da obra é Keisuke Aisawa e ela foi exibida pela primeira vez no museu Vanilla Gallery, em Tóquio, sob o nome de “Guai Bird”, inspirada numa lenda urbana japonesa.

A lenda japonesa em questão se chama “Ubume” e fala de uma mulher que morre durante o parto e volta à vida num corpo deformado. “De certa forma, sua razão de ser é assustar as crianças, mas não deveria ter sido usada da maneira como foi”, disse o criador da escultura quando ficou sabendo da polêmica.

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De onde veio o nome “Momo”, ninguém sabe ao certo. Alguém achou uma boa ideia pegar uma foto de parte da escultura e espalhar mensagens assustadoras para mexer com a cabeça de jovens e viralizar com facilidade na internet. E, aparentemente, conseguiu.

Em março, Keisuke declarou ao tabloide britânico The Sun que havia destruído a escultura original. Segundo ele, a peça estava “podre” e foi jogada no lixo. “(A escultura) não existe mais, não foi feita para durar”, disse. “Não foi feita para ser usada para fazer as crianças se machucarem ou causarem algum dano físico. Eu não me arrependo de tê-la jogado fora.”

Perigo real

Mas por trás do que parece ser uma simples brincadeira de mau gosto, há um sério risco para a sua segurança online e também para a saúde mental de crianças. Além dos vídeos incentivando o suicídio, pessoas mal intencionadas estão usando a foto da escultura e o mistério em torno do personagem “Momo” para roubar dados pessoais.

Emilio Simoni, diretor do Dfndr Lab, da empresa de segurança PSafe, diz que “muitas pessoas estão criando números novos com a foto do personagem e publicando. Não sabemos qual a intenção destes números novos, pode ser fraude ou estelionato.”

Já segundo Camillo Di Jorge, country manager da ESET e especialista em segurança da informação, o fato de o tal “Momo” ter sumido após um pico de popularidade e de ter sido descoberto pela imprensa é um sintoma típico de golpe como os que circulam frequentemente no WhatsApp.

O principal risco é de se tratar de um golpe de engenharia social (também conhecido como “phishing”). “Se isso for mesmo um grande chatbot, imagine uma máquina fazendo perguntas e coletando dados de contatos. É perigoso a partir do momento em que a gente não sabe aonde vão parar essas informações”, diz Camillo.

Num primeiro momento, o simples contato entre uma pessoa e o “Momo” não apresenta um risco imediato de contaminação por vírus, outra preocupação de muitas pessoas. Mas se você falar com o perfil e receber um link, é melhor não abrir. Este link, sim, pode induzir o usuário à instalação de um malware no smartphone ou PC, ou ainda coletar mais dados sigilosos.

De acordo com Emílio, a principal recomendação é: “não procurem adicionar o número e falar com este perfil”. “Na dúvida, se você já entrou em contato e a pessoa do outro lado te mandar instalar um aplicativo ou clicar no link, não faça isso”, completa. E, como sempre, é importante tomar cuidado ao repassar informações delicadas pela internet.