Sundar Pichai parece ter tomado uma decisão sábia quando optou por interromper as férias para tratar da polêmica causada pelo manifesto de um agora ex-funcionário do Google. Isso porque, horas após se saber que a companhia em que Pichai é CEO resolveu demitir o tal empregado, emergiu uma campanha de boicote que conta até com a simpatia do WikiLeaks.

“Censura é para perdedores. O WikiLeaks está oferecendo um emprego ao engenheiro demitido do Google James Damore”, escreveu no Twitter o chefe da organização especializada em vazamentos, Julian Assange. “Mulheres e homens merecem respeito. Isso inclui não demiti-los por expressar ideias educadamente, e sim contra-argumentando”, continuou ele, que aproveitou o momento para fazer propaganda do seu livro “Google Is Not What It Seems” (“Google não é o que parece”, em tradução livre).

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Damore teria sido mandado embora devido a um manifesto de 10 páginas em que ele usa argumentos pseudobiológicos para justificar a escassez de mulheres no mercado de tecnologia e critica a falta de abertura do Google em relação a funcionários que tenham posturas conservadoras.

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Conforme notou o Gizmodo americano, corre pelo Twitter uma campanha crescente entre entre pessoas alinhadas ao que Damore escreveu em que a gigante de buscas é colocada contra a parede por supostamente ter tomado a iniciativa de dispensar o engenheiro — informação ainda não confirmada pela companhia.

Algumas críticas, entretanto, soam desencontradas, tanto que há quem compare o Google ao regime nazista e quem acuse a empresa de ser comandada por nazistas, enquanto ao menos um tuiteiro escreveu que, por ter perdido público na esteira da polêmica, “só judeus usam” o Google agora — lembrando que os judeus estavam entre os principais alvos do regime de Adolf Hitler.

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Mike Cernovich, classificado pelo Gizmodo como “popular teórico da conspiração direitista”, acrescentou que afiliações políticas deveriam estar protegidas por leis antidiscriminação nos Estados Unidos, sugerindo inclusive a imposição de uma cota para republicanos nas empresas.

No texto em que anunciou ter trocado as férias pela polêmica, o CEO Sundar Pichai reconheceu que o autor do manifesto “tinha o direito de expressar sua visão sobre aqueles tópicos” e garantiu que o Google mantinha uma política de “não tomar ações contra ninguém por incitar essas discussões”. Apesar da aparente contradição, pode ser que Damore tenha sido demitido não por se expressar, e sim porque parte do que ele escreveu fere o código de conduta do Google.

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“Partes do memorando (…) passam da linha ao avançar estereótipos de gênero no nosso ambiente de trabalho”, afirmou Pichai. “Nosso trabalho é construir bons produtos para nossos usuários que façam a diferença em suas vidas. Sugerir que um grupo dos nossos colegas tem traços que os tornam biologicamente menos adequados para aquele trabalho é ofensivo e não é OK.”