“House of Cards”, “Orange is the New Black”, e agora “Stranger Things”. Com certeza você já ouviu falar dessas séries. E não é por acaso. Elas se tornaram sucessos de público e têm uma coisa a mais em comum do que simplesmente serem viciantes e muito bem produzidas: compartilham da fórmula mágica da Netflix.

Essa receita milagrosa é baseada no gosto de seus próprios assinantes. Apesar de soar um pouco como “pão e circo”, uma vez que a companhia escuta e dá aos seus clientes o que eles gostam e querem assistir, a estratégia vem dando certo.

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Veja, por exemplo, o seriado político estrelado por Kevin Spacey. O primeiro grande hit da empresa de streaming não foi por sorte. Antes do roteiro, o serviço de streaming analisou que muitas pessoas já se interessavam pelo tema e que, inclusive, já tinham assistido ao seriado britânico homônimo no qual a nova série foi baseada.

Para a escolha do elenco e da direção não foi diferente. O algoritmo da Netflix já informava que David Fincher era o nome ideal, tal como Kevin Spacey era idolatrado pelos assinantes da empresa. O perfil combinava com o papel e tudo indicava que poderia dar certo. E deu.

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Na época do lançamento do seriado, Jonathan Friedland, chefe de comunicações da companhia, disse ao The New York Times que “pelo fato de terem uma relação direta com os consumidores, sabiam exatamente o que as pessoas gostavam de assistir”. Segundo conta, isso ajudou o serviço a encontrar e observar o público-alvo de “House of Cards”.

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No caso de “Orange is The New Black”, a situação muda um pouco de figura, o que ajuda a explicar as diversas utilidades do algoritmo da Netflix. Diferentemente do seriado estrelado por Spacey, a série sobre uma prisão feminina teve pouquíssima publicidade pré-estreia. Pouquíssmo se falava sobre Litchfield e quase ninguém tinha ouvido falar da história de Piper Kerman.

Tudo pode ter sido baseado nos resultados de outros seriados da Netflix que envolvem discussão racial, temas ligados ao universo LGBT, drama, humor negro e, claro, a vida atrás das grades. Prison Break, Oz e Weeds são exemplos da uma mescla de alguns desses assuntos. A última, inclusive, também foi criada por Jenji Kohan.

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É claro que de nada adiantaria ter todas essas informações em mãos se a execução fosse atrapalhada. Não são poucos os filmes que surgiram como potenciais sucessos, mas que decepcionaram por conta de roteiros, direções e atuações ruins. Orange não pecou em nenhum desses pontos, muito pelo contrário. Somente com um episódio já é possível ficar apaixonado pelo seriado e com grande vontade de saber o que vai acontecer agora que Piper está presa.

Mais recentemente, o mesmo pode ter acontecido com o sucesso Stranger Things. Fenômeno mundial por trazer toda a nostalgia dos anos 1980 de volta, o seriado conta com referências a diversos filmes que marcaram época, tais como “E.T. Extraterrestre”, “Conta comigo”, “Alien”, entre outros.

Com a informação de que a Netflix realmente analisou os dados do serviço para decidir sobre a criação de um seriado sobre políticos corruptos estrelado por Kevin Spacey e dirigido por David Fincher, não é difícil de imaginar que a série que mescla filmes de sucesso lançados décadas atrás tenha bebido da mesma fonte.

Uma pesquisa de 2013 mostrou que o público de 18 a 36 anos eram os maiores assinantes do serviço de streaming.

Reprodução

Isso, por si só, já ajuda a explicar porque uma série que se passa em 1983 e traz referências de mais de trinta anos atrás fez sucesso. Quem um dia mesclou suas próprias fitas com músicas de David Bowie, The Smiths e The Clash, hoje conta com a assinatura de um serviço de streaming chamado Netflix.

A Netflix, é claro, não revela os segredos do sucesso de seus seriados e filmes que surgiram após House of Cards e adota até mesmo um tom um tanto vago quando é questionada sobre o assunto. Enquanto isso, ela segue dando ao povo o que eles querem e essa é uma estratégia simples e brilhante ao mesmo tempo.