Review: iPhone 8 é mais do mesmo

Renato Santino15/11/2017 04h40, atualizada em 15/11/2017 13h40

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O iPhone 8 chegou ao Brasil. O aparelho é o modelo mais acessível (o que não quer dizer barato) da nova geração de iPhones, e tende a ser o aparelho mais procurado pelo público justamente por ser menos caro que seus irmãos 8 Plus e X. Mas será que o aparelho realmente faz jus ao preço?

É o que vamos descobrir na análise a seguir:

Design

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Não tem como falar que a Apple foi inovadora nesse sentido, por nenhum aspecto. O iPhone 8 é idêntico ao iPhone 7, que era idêntico ao iPhone 6s, que era idêntico ao iPhone 6, lançado em 2014. São 4 anos seguidos mantendo a mesma linguagem de design, enquanto a concorrência se renova e dita tendências, como a do celular (praticamente) sem bordas, que só foi seguida no iPhone X.

Como mudança, a Apple trouxe a traseira de vidro, que tem como objetivo permitir o carregamento sem fio, embora o recurso deva ser aproveitado por poucos por requerer um acessório comprado à parte. Com o passar dos anos, leitores podem ter reparado como somos contra o vidro como acabamento traseiro de celulares nas nossas análises, por uma série de motivos; marcas de dedos, sensação de fragilidade e o fato de o aparelho ficar escorregadio são os principais.

A sensação de fragilidade está lá, como sempre, mas eu posso atestar que o aparelho resistiu a pelo menos uma queda (acidental!) durante os meus testes sem qualquer dano. Os outros fatores parecem ter sido uma preocupação da Apple. Pelo menos na versão branca do celular, que foi a testada por nós, é muito difícil perceber marcas de digitais no corpo do aparelho, o que indica que houve um esforço para amenizar esse problema. Além disso, o vidro do iPhone se mostrou bastante aderente, o que impede que ele fique escorregando da mão, então ponto para a Apple por isso.

Também vale a pena notar que o iPhone 8 é o único smartphone top de linha com tela abaixo de 5 polegadas no mercado atualmente, o que faz dele uma opção extremamente portátil e confortável para quem prefere um aparelho menor, que caiba de forma mais ajustada na mão e prefere digitar com uma mão.

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Desempenho e bateria

A Apple possui uma vantagem sobre qualquer fabricante de celulares. Ela pode produzir o software de acordo com o hardware que planeja desenvolver e vice-versa; isso faz com que seu sistema operacional sempre seja otimizado ao máximo com o novo iPhone, o que traz ganhos significativos de desempenho.

Uma segunda particularidade que o ecossistema da Apple apresenta é o fato de, por ter poucos modelos usando seu sistema operacional, os aplicativos desenvolvidos na App Store também são projetados para rodar sempre de forma perfeita nos iPhones mais recentes, de modo que você não vai achar um jogo ou aplicativo que exceda o que o iPhone 8 é capaz de oferecer. Isso também se reflete em uma experiência fluida de uso de apps da plataforma.

Isso permite que o iPhone 8 funcione de forma lisa como nenhum aparelho Android é capaz de fazer, mesmo com configurações que, no papel, parecem inferiores. Afinal de contas, até o Moto E4 sai de fábrica com 2 GB de memória RAM, e os Androids mais avançados já estão chegando aos 8 GB. Só que o AnTuTu, uma das principais ferramentas de benchmark não deixa mentir: em termos de poder computacional, o iPhone 8 só ficava atrás do iPhone 8 Plus na comparação do mês de setembro, obtendo 20 mil pontos a mais que o OnePlus 5, o Android mais bem colocado no ranking. A lista já está um pouco defasada, no entanto, com o iPhone X já tendo superado todos os resultados até o momento, mas é fato que os três modelos da Apple ainda encabeçam o ranking.

O poder do iPhone 8 fica mais evidente com as tarefas mais exigentes, como os aplicativos do ARKit, que acabam exigindo o máximo do aparelho. A plataforma de realidade aumentada do iOS 11 permite a criação de aplicações que usem a câmera do celular para colocar informações sobre o mundo real, como fazia Pokémon Go, ao mesmo tempo em que mapeia o ambiente, o que permite que o objeto virtual fique fixo em algum ponto da casa, permitindo movimentar o celular sem que a imagem se movimente. O sistema exige muito dos componentes, e é interessante ver como o aparelho lida bem com isso.

Muito disso se deve ao processador A11 Bionic, que usa um processo de 10 nanômetros e finalmente viu um salto no número de núcleos. Por muitos anos, a Apple fez miséria com chipsets de dois núcleos, mas agora o seu processador conta com seis: dois deles dedicados a tarefas de alto desempenho e que consomem mais energia e quatro para quando não houver tanta necessidade de poder de processamento, para poupar bateria.

Falando em bateria, aqui está um ponto fraco do iPhone 8. O aparelho teve sua bateria reduzida em 7,1% na comparação com o iPhone 7, ficando em 1.820 mAh. A Apple justifica a redução alegando que o A11 é mais econômico do que o seu antecessor A10, muito graças ao processo de 10 nm usado para produzi-lo. No entanto, na prática há poucos ganhos na mudança, justamente pela redução na bateria.

O resultado é que o iPhone 8 continua com uma autonomia de bateria bastante baixa. Enquanto eu testava o aparelho, em dias de uso normal, nada muito exigente, o iPhone 8 chegava constantemente ao final do dia precisando de uma recarga urgente. É um resultado ruim comparado com vários tops de linha Android que costumam superar a marca do dia completo com folga. Além disso, é importante notar que o celular é novíssimo, e a tendência é que a autonomia da bateria fique pior com o passar dos meses e anos, então é bom prestar atenção nisso.

Câmera

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Aqui está o maior ponto forte do iPhone 8, e, infelizmente, também um ponto fraco. Ao mesmo tempo em que a câmera é de altíssima qualidade, ela também poderia ser melhor, porque a Apple reservou boa parte dos recursos mais legais dessa geração para os modelos 8 Plus e X, que usam duas câmeras.

Vamos falar primeiro da parte boa. Dentro do que poderia fazer com um sensor, a Apple fez uma excelente câmera traseira, uma das melhores do mercado. Nos nossos testes, o iPhone 8 até chegou perto de replicar o efeito do “modo retrato”, que desfoca o segundo plano da imagem sem precisar do segundo sensor. Ou seja: ainda que tenha uma configuração mais simples, a câmera de 12 megapixels com abertura de f/1.8 do iPhone 8 faz um trabalho ótimo.

É particularmente interessante reparar como a câmera foi capaz de registrar cores muito vivas em suas fotos, que pode ser visto nas demonstrações abaixo:

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Em situação de pouca luz, a câmera não faz feio. Nos nossos testes, o iPhone 8 foi capaz de preservar detalhes mesmo com iluminação baixa, como visto na imagem abaixo.

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 Um recurso bacana que vai passar despercebido por muitos é o flash do iPhone 8. Fotógrafos e entusiastas em geral condenam o uso dessa fonte de iluminação, por causar distorções na imagem. Um dos problemas é que, ao disparar o flash ao fotografar um rosto, por exemplo, o fundo tende a ficar mais escuro enquanto a face fica superiluminada. O iPhone 8 usa um método diferente chamado de “Slow Sync Flash” (“Flash de sincronização lenta”) no qual o obturador fica um pouco mais lento. Isso resulta em fotos mais naturais, dando tempo para que a luz preencha o cenário em vez de apenas iluminar o rosto.

 Agora o lado negativo: pelo preço cobrado, a câmera poderia ser melhor, como a do iPhone 8 Plus. A falta de recursos como o modo retrato e o novíssimo modo de iluminação dinâmica, que permite modificar o plano de fundo aplicando uma nova luz (ou removendo ela por inteiro no plano de fundo).

A Apple justifica a ausência dos recursos pelo fato de usar apenas uma lente, mas o fato é que o Pixel 2 tem um sensor apenas e possui as mesmas funções graças a uma forma inovadora de usar sua câmera, utilizando inteligência artificial e fotografia computacional para aplicar melhorias. A Apple poderia fazer o mesmo, mas não o fez.

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O iPhone também peca por restringir as opções avançadas para que fotógrafos com um pouco mais de experiência façam ajustes mais delicados em suas imagens. Opções como controle de tempo de exposição, ajuste de ISO, balanço de branco continuam ausentes na câmera padrão do iPhone há anos, forçando o usuário a baixar um app alternativo (normalmente pago) para ter essas ferramentas. É fato que o modo automático do aparelho é ótimo, mas a empresa poderia oferecer essas funções para quem quer ter mais controle sobre suas imagens.

Tela


Existem vários pontos que devem ser observados para falarmos da tela do iPhone 8. Vamos começar pela parte boa: a Apple faz um trabalho impecável de calibragem de cores exibidas pelo painel, de modo que poucos aparelhos conseguem, por opção das próprias fabricantes. A Samsung, por exemplo, usa painéis de altíssima qualidade, mas prefere exibir cores ultrassaturadas, com a justificativa de que é a preferência do consumidor; o resultado pode ser facilmente percebido ao ver elementos vermelhos no painel, que se aproximam mais da tonalidade laranja do que da cor original. A Apple prefere apostar na precisão,

O lado negativo está na resolução do painel, que fica muito abaixo de qualquer concorrente Android top de linha. Na verdade, muitos celulares intermediários possuem uma resolução superior do que os 1334×750 do iPhone, com uma densidade de 326 pixels por polegada (ppi). Para comparação, o Moto G5S Plus, que custa menos da metade, tem uma tela de 1920×1080 com densidade de 424 ppi. Enquanto isso, um Galaxy S8, por exemplo, chega aos 570 pixels por polegada com o display de 2960×1440.

É algo que muitos usuários podem não perceber, mas um olhar só um pouquinho treinado vai reparar. Basta aproximar um pouco mais a tela dos olhos e já passa a ser fácil de perceber os pixels de forma individual, o que é a referência dourada de Steve Jobs quando anunciou a primeira Tela Retina, que tinha uma definição tão alta que os olhos não poderiam perceber os pixels. A concorrência deixou a Apple para trás nesse aspecto há um bom tempo.

Um último ponto importante a ser observado é a escolha pelo LCD sobre o OLED, tecnologia que ficou reservada para o iPhone X. Essa opção traz algumas vantagens e desvantagens. O lado bom é que o LCD é mais capaz que o OLED em relação a brilho, de modo que o iPhone é capaz de oferecer excelente elegibilidade mesmo sob o sol forte; do lado negativo, o OLED apresenta melhor contraste.

A maior desvantagem, no entanto, está no fato de que o LCD consome mais energia, já que o OLED acende cada pixel de forma individual, de forma que espaços escuros na tela faz com que pontos permaneçam apagados e poupem bateria (usar um papel de parede preto seria uma boa dica para economizar energia). No caso do LCD, há uma luz branca de fundo permanentemente acesa, e cada pixel “filtra” a iluminação para exibir cores diferentes, de forma que há desperdício de energia iluminando setores escuros do painel.

Software

Uma das particularidades do iPhone que o diferencia do Android é o fato de que o iOS é só um. É o mesmo sistema rodando em celulares diferentes que variam pouco ano a ano, mas sempre são controlados pela mesma empresa. Isso traz vantagens grandes em relação a desempenho, permitindo fazer mais com menos.

Por esse motivo, é bastante difícil fazer uma análise de software do iPhone; o celular é o que é por causa do sistema operacional, e o sistema operacional só é o que é para sustentar a experiência completa do iPhone.

Isso não significa, porém, que não haja críticas a serem feitas ao iOS 11, que sai de fábrica com o iPhone 8. Ficou bem evidente nos últimos meses que a Apple lançou o sistema ainda incompleto, com bugs esquisitíssimos que não condizem com a filosofia perfeccionista da empresa fundada e guiada por Steve Jobs. Coisas como uma calculadora que faz contas erradas se você digita rápido e um teclado incapaz de digitar a letra “i” são inaceitáveis para a companhia que fez seu nome com produtos que prometem qualidade máxima.

Ainda assim, no iPhone 8, o iOS 11 ainda extrai o máximo que o iPhone pode oferecer, rodando de forma lisa em qualquer situação. Adições como mais liberdade de personalização e o ARKit são bem-vindas e são exploradas com perfeição pelo hardware do celular.

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Conclusão

O iPhone 8 é um celular muito bom, sem qualquer discussão sobre isso. A questão é que ele está pressionado por outros dois celulares muito melhores lançados pela própria Apple. A ausência de recursos incríveis de câmera presentes apenas nas versões com câmera dupla do iPhone em 2017 é algo que eu não consegui esquecer durante meu período de testes com o aparelho.

Recursos exclusivos não seriam um problema tão grande se o iPhone 8 não custasse R$ 4.000; por esse preço, é plenamente justificável esperar o melhor que uma companhia tem a oferecer. E, para ser bem honesto, as mudanças nem são tão grandes assim sobre o iPhone 7 para justificar o upgrade.

Pulando do iPhone 7 para o 8, você tem alguns ganhos: recarga sem fio (com um acessório caro vendido à parte), uma traseira de vidro (que é mais frágil do que o alumínio), uma câmera melhor, mas sem muitos recursos avançados, um processador melhor e um ano a mais de atualização do iOS (provavelmente). É pouco, o que nos faz questionar por que a Apple não chamou o aparelho de iPhone 7s, como fez na última década inteira.

Assim, se você estiver de olho em um celular da Apple não é a melhor opção. Se você tiver dinheiro ilimitado, o iPhone X é a alternativa a ser procurada. Se quiser alguém da família 8, o modelo 8 Plus é mais interessante. Se estiver pesando custo e benefício, o iPhone 7 Plus ainda é um excelente modelo e conta com recursos que o iPhone 8 ainda não tem. Para finalizar, o iPhone 7 também ainda é um aparelho ótimo, sem grandes desvantagens na comparação com 8, e muito mais barato.

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Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital