O desafio de enterrar o emaranhado de fios expostos da cidade de São Paulo

Renato Santino18/05/2018 21h29, atualizada em 19/05/2018 22h00

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Se você mora em alguma capital ou cidade grande, já deve estar acostumado a ver cenas como essas. Os postes de fios elétricos e cabos de telecomunicação já são praticamente um cartão postal urbano. Por esse motivo, a Anatel e a Agência Nacional de Energia Elétrica, a Aneel, emitiram uma decisão em conjunto no começo de abril. A medida obriga as operadoras Oi, Claro, Tim e Vivo a organizar seus fios em em 2129 postes na cidade de São Paulo em um prazo de até 90 dias.

Essa questão acaba deixando muita gente confusa. Afinal, as empresas de telecomunicação pagam uma taxa para poder usar os postes – são três reais e catorze centavos por poste. O pagamento dessa taxa não deveria ter como contrapartida a manutenção da rede? Como a Eletropaulo explica, não é bem assim.

Em cada poste de energia elétrica, há uma faixa de mais ou menos 50 centímetros que as operadoras podem usar. Nessa faixa, deveria haver no máximo seis cabos. Um para cada operadora, e cada um com uma etiqueta descrevendo o que ele faz e a quem ele pertence. Só que, segundo a Anatel, a organização acabou ficando um pouco esquecida conforme o mercado de telecomunicações foi crescendo.

Se as operadoras não resolverem esse problema em 90 dias, ficam sujeitas a um processo administrativo, que pode gerar para elas um problema bem maior do que cabos bagunçados. A Eletropaulo diz que nesse caso pode até mesmo cortar os cabos que estiverem bagunçados, por força de uma decisão legal de dezembro do ano passado.

A gente entrou em contato com as operadoras notificadas para saber o que elas acham da decisão. A Oi disse estar avaliando a notificação, e a Claro disse que obedece a regulamentação e segue os padrões técnicos exigidos na instalação dos cabos. A TIM disse que já estava planejando organizar sua rede na cidade junto com a Eletropaulo e a prefeitura, e a Vivo diz já ter feito os arranjos necessários e que está aguardando vistoria da Anatel. Mas mesmo que elas resolvam o problema, ainda há outra situação que precisa ser considerada.

Pois é. O enterramento da fiação, que já é realidade em cidades como Londres, Paris e boa parte de Nova York, pode um dia chegar até São Paulo. Mas ter uma rede subterrânea de cabos não é o paraíso que muita gente imagina que seja. Além de ter um custo maior do que as redes aéreas que a gente usa hoje em dia, elas também têm uma série de problemas.

As redes subterrâneas têm diversas vantagens. Por exemplo, elas não ficam vulneráveis a ameaças externas como quedas de árvores, por exemplo. Mas o próprio fato de que elas ficam debaixo da terra também gera algumas dificuldades que a gente não costuma considerar. Os cabos podem ser perfurados por obras, podem ficar prensados por causa de mudanças no terreno e as galerias que contém os cabos podem sofrer infiltração de água. E tem outro problema que gera ainda mais custo.

Ou seja, enterrar os fios pode até ser melhor, mas também gera problemas. E na hora de pagar a conta, é preciso tomar muito cuidado para que ela não caia no bolso de quem nem mesmo vai se beneficiar de uma rede enterrada. Isso exige que as agências reguladoras, as concessionárias de energia, as operadoras de telecomunicações e a prefeitura conversem bastante sobre o assunto.

Quando a gente fica sem luz ou sem internet por causa de um problema na infraestrutura, o impulso é culpar logo de cara a Eletropaulo ou as operadoras pelo problema. Mas é importante saber que o gerenciamento desse bem público é uma questão muito mais complicada. E que o enterramento da rede vai exigir ainda muita conversa antes de sair do papel. A gente só espera que essa conversa não seja tão cheia de linhas cruzadas quanto os postes de São Paulo.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital