Novas tecnologias prometem revolucionar o setor elétrico e baixar os custos

Renato Santino20/10/2017 20h24, atualizada em 21/10/2017 21h00

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Muita coisa mudou no mundo desde o século 19, não é mesmo? As nossas roupas já não são as mesmas, nossos hábitos mudaram e até nosso jeito de falar se transformou. Mas se tem uma coisa que mudou muito pouco no último século foi a força que move todas as inovações da tecnologia que nós acompanhamos: a energia elétrica. Se não fosse por ela, não teríamos smartphones, PCs, TVs e nem mesmo carros autônomos como os que estão sendo testados nos Estados Unidos. Mas mesmo assim, a fonte de onde tiramos a energia elétrica para abastecer nossos produtos continua mais ou menos a mesma: combustíveis fósseis.

Apesar de todos esses anos meio parado, o setor elétrico está prestes a passar por uma grande revolução, conforme o mundo troca as fontes de energia não-renováveis por alternativas limpas e reutilizáveis. Nesta sala, um grupo de jovens empreendedores aqui mesmo do Brasil já se antecipam à essa revolução, bolando algumas ideias que prometem tornar o acesso à energia limpa mais fácil e barato. A Lívia trabalha na empresa que está financiando essas novas ideias, e o motivo dela está na ponta da língua.

Energia solar não é uma tecnologia exatamente nova, mas continua distante da maioria dos brasileiros. Uma recente pesquisa da Agência Nacional de Energia Elétrica, a Aneel, descobriu que apenas 0,01% de toda a energia gerada no Brasil vem de placas fotovoltaicas. Até porque instalar essas placas em casa não é nada barato. Uma simples residência que precise de até 400 kilowatts/hora por mês deve desembolsar mais de 15 mil reais pelo kit inicial. Isso sem falar no obstáculo técnico, já que, dependendo do clima, sua casa pode acabar sem energia caso alguma coisa bloqueie a luz do Sol por muitos dias seguidos.

Ainda assim, o futuro parece ser mesmo o de energias renováveis. Uma pesquisa recente mostrou que a produção de energia solar já cresce mais rapidamente do que qualquer outra fonte no mundo inteiro. Isso sem falar no fator custo, que também pesa na hora da escolha. A conta de luz do brasileiro tem aumentado nos últimos anos, ao passo em que a atual rede de distribuição de energia sofre para atender à demanda.

Trazer energia solar para as pessoas de forma prática e barata é o desafio do momento. E é o que o Marco Aurélio, criador do Cartão Solar, quer fazer. Com esse cartão, dá pra comprar uma cota em uma usina de energia solar bem longe da sua casa, e receber um desconto na conta de luz. Funciona assim: a usina do Marco gera energia através de luz solar, manda essa energia para a distribuidora da sua cidade e depois a distribuidora leva ela até você. O consumidor ganha um desconto na conta de luz por estar usar usando uma fonte de energia limpa, mesmo que de forma indireta. Você acaba ajudando o meio ambiente sem precisar instalar placas na sua própria casa. E ainda economiza.

Outra iniciativa que aposta em energia solar à distância é a Enercred. A ideia é parecida: uma usina no interior de Minas Gerais gera energia para a Cemig, a Companhia Energética de Minas. A Cemig então atua como uma bateria, armazenando essa energia e levando ela até as casas das pessoas por cabos, como os que a gente já conhece. Quando o consumidor final compra um pedacinho da usina da Enercred, a central de distribuição sabe que tudo o que ele está consumindo vem de energia solar, e a conta vem mais baixa. A diferença é que o consumidor pode controlar todos os seus gastos e pode até dividir essa energia com mais pessoas num condomínio, por exemplo, tudo pela internet. Eles se definem como “o Nubank da distribuição de energia solar”.

Na mesma sala em que trabalham o José Otávio e o Marco, tem também a Dooak, uma empresa que oferece financiamento de projetos de instalação de placas fotovoltaicas. Tem ainda a Cubi Energia, uma startup que oferece uma plataforma de análise de dados para quem quer controlar, em detalhes, quanto a sua empresa está gastando com energia. Graças à tecnologia deles, mais de 28 mil kilowatts/hora de energia foram poupados, e mais de 7 toneladas de CO2 deixaram de ser emitidos. Se uma empresa não pode depender de energia solar, ela pode, pelo menos, parar de gastar energia comum à toa.

Financiamento, intermediação, materialização e análise do consumo. Essas são apenas algumas das propostas nascendo nesta incubadora que prometem acelerar a adoção da energia solar no Brasil. Se alguma delas vai dar frutos, por enquanto, é difícil antecipar. Mas uma coisa é certa: o mundo está cada vez mais se voltando para fontes renováveis de energia. E a próxima revolução no setor elétrico pode estar prestes a estourar. Por que não começar pelo Brasil?

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital