Meninas de um lado, meninos de outro. Aqui, a competição não é focada na guerra entre os gêneros, e sim em jogos eletrônicos. Mas, cenas como essas não são tão comuns em campeonatos de e-sports. Apenas recentemente, as mulheres estão gradativamente competindo e conquistando espaço no mundo dos games. Mas, essa realidade tende a mudar. Se as mulhres ainda são minoria no mercado profissional de e-sports, elas já são a maioria entre os jogadores de videogame no país. Os dados são da pesquisa Games Brasil 2019.
Esse time de Call of Duty – um famoso jogo de tiro – é o primeiro time 100% feminino a jogar a modalidade em campeonatos no Brasil. Foram 4 meses de treinos diários para elas disputarem com os outros participantes finalistas. Dessa vez, elas não ganharam a competição, porém, conquistaram algo bastante relevante. Repare no público e nos jogadores da competição. Dos 16 times que jogaram, com 5 pessoas cada, só o time delas era composto apenas por mulheres.
Esse time faz parte da organização profissional feminina chamada Athena’s que possui mais de 30 mulheres jogando profissionalmente em 5 modalidades de jogos eletrônicos diferentes. A Athena’s começou no ano passado abrindo seletivas de cada jogo. Hoje, elas ainda não recebem salário e nem possuem uma sede própria, como outras organizações gigantes de times de e-sports. Porém, o projeto disponibiliza acompanhamento psicológico, consultoria de carreira, marketing pessoal, periféricos para jogar – como teclados, mouses, mouses pad e headset – e custeia toda a operação que envolve participar de um campeonato. Um exemplo, é o transporte de jogadoras que moram longe. Além disso, o prêmio das finalistas é dividido exclusivamente entre elas.
Competições profissionais crescem cada vez mais. Grandes torneios oferecem prêmios milionários, e ser um atleta de e-sports já virou sonho de profissão para muitos jovens. Mas não é nada fácil. Para se tornar profissional nessa área é preciso muito treino, patrocinadores, apoio familiar, dedicação e tempo. Para as mulheres, além de toda essa lista de dificuldades, mais um fator tem que ser levado em conta: o preconceito.
A Nathalia tem 27 anos e passou por uma seletiva de 600 meninas para fazer parte do time profissional da Athena’s na modalidade Legue of Legends. Desde criança, ela ama videogame, mas a paixão sempre teve que conviver lado a lado com dificuldades gigantescas.
Para a Aline, jogar em ambientes masculinos nunca foi um problema. Porém, as lembranças de momentos de preconceito estão vivas.
Nesse quesito, o mundo digital tem paralelo com o mundo real. Não é segredo para ninguém que, aqui, no país do futebol, as jogadoras têm muito menos visibilidade, credibilidade e ganham salários bem menores do que os jogadores homens. Esse ano, a Copa do Mundo feminina teve bastante repercussão na mídia. Mas, esse foi apenas um pequeno passo no caminho para que um dia as condições sejam mais iguais. A Thayla é goleira profissional desde 2013 e passou por diversos times nacionais. Teve que trabalhar e estudar enquanto se dedicava ao esporte. Em sua curta carreira, ela ouviu de muita gente que as traves do gol deveriam ser menores para mulheres, assim como o campo de futebol e até o tempo de duração de uma partida deveriam diminuir, para que as mulheres jogassem melhor. Hoje ela sonha em jogar em algum time espanhol ou português. Por lá, as mulheres no futebol são mais valorizadas que no Brasil.
O cenário do esporte feminino tanto real quanto virtual pode parecer desanimador à primeira vista, porém, é por meio do próprio esporte que é possível fazer transformações e quebrar barreiras. A Bianca sabe que o caminho é longo para viver do seu próprio sonho. Ela tem 22 anos e estuda para ser técnica em enfermagem – já a opção de viver de e-sports para mulheres ainda não existe.