O choque é diário para quem vive nas grandes cidades. Você sai de casa para ir ao trabalho e “boom”… tudo parado, trânsito para todos os lados. A cena se repete no final do dia… E para tentar escapar desse mar de carros, motoristas do mundo inteiro não dão a partida sem antes conectar seu aplicativo de navegação favorito; de preferência aquele que tira a gente do trânsito…
Mais de 100 milhões de pessoas em todo o mundo usam o Waze todos os dias para dirigir. O aplicativo usa a localização dos smartphones através do GPS para determinar a velocidade do tráfego. Em seguida, o algoritmo do app faz cálculos para direcionar os motoristas pela rota mais rápida. E se o trânsito estiver ruim nas vias expressas e grandes avenidas, o Waze manda a gente para as ruas locais – é assim que funciona. Funciona?!
Com 4 milhões e 400 mil usuários ativos todos os meses, São Paulo é a maior cidade do Waze no mundo. Todos os dias, o paulistano usa o aplicativo, em média, por pelo menos 90 minutos – uma hora e meia. E, claro, a maioria ainda aposta suas fichas que, SIM, o Waze sempre dá o melhor caminho…
A nossa equipe dirige diariamente pelas ruas de São Paulo desde muito antes de o Waze existir. Mas em 2010, quando o app foi lançado por aqui, a gente também passou a usar o aplicativo para tentar fugir do trânsito caótico da cidade. A questão é que, de um tempo pra cá, a gente começou a duvidar um pouco dessa eficiência quase mágica do Waze. Será que realmente estamos indo mais rápido acreditando cegamente na ferramenta ou aquele nosso velho e bom caminho “de cabeça” é melhor?! Antes de tirar qualquer conclusão, voltamos às ruas: definimos três trajetos e fizemos, ao mesmo tempo, em dois carros; um seguindo o caminho do Waze e outro apenas pelas vias principais… olha só o que deu.
Pela manhã, com o trânsito ainda bastante carregado, saímos aqui do Olhar Digital, na região do Morumbi, na zona sul de São Paulo, e fomos até o Estádio do Pacaembú; na região central da cidade. Uma viagem de aproximadamente 10 quilômetros. O Waze errou um pouco o tempo estimado de chegada. A viagem levou 44 minutos. O aplicativo mudou a rota no meio do caminho, passou por ruas com obras e bastante congestionadas e, ainda assim, chegou 2 minutos antes do nosso motorista, que veio seguindo apenas sua intuição. Pouca diferença, mas… ponto para o Waze.
A história mudou nas próximas duas corridas. Na primeira, saímos do Pacaembu em direção ao Aeroporto de Congonhas; 14 quilômetros de distância. Resultado: com Waze, 45 minutos. Sem Waze, 38 minutos… jogo empatado, mas com uma diferença um pouco maior. Na volta para o Morumbi, lá de Congonhas, nova vitória da intuição humana. Com Waze, 21 minutos; sem Waze, 17 minutos!
O resultado da nossa experiência reflete um pouco do que aponta um recente estudo sobre transportes da Universidade de Berkeley, na Califórnia: o relatório diz que provavelmente os apps de navegação – e aí não só o Waze – estejam contribuindo para um trânsito mais lento em geral. Em algumas situações, essas ferramentas até podem funcionar para um ou outro indivíduo, mas, no geral, pioram o congestionamento. O pessoal do Waze afirma que o app foi projetado para espalhar os carros pela rede e aliviar o tráfego, e que o aplicativo funciona, mesmo que uma multidão de motoristas usa a mesma ferramenta… Nós conversamos com o CEO do Waze, que, de passagem pelo Brasil, ofereceu a sua visão do problema.
O matemático responsável pelo estudo da universidade californiana Alexandre Bayen foi categórico ao dizer que à medida que mais e mais motoristas usarem os mesmos aplicativos para se locomover, os problemas definitivamente vão piorar. Mais do que isso, ao mandar motoristas para ruas que não foram projetadas e não estão preparadas para um fluxo intenso de veículos esses apps podem acabar com a qualidade de vida dos moradores daqueles bairros. É de se pensar: mais de quatro milhões de pessoas usando o Waze em São Paulo, o resultado são inúmeras pessoas cortando o mesmo caminho ao mesmo tempo. E, de repente, aquela ruazinha tranquila e pacata está travada. O que fica fácil de imaginar é que, desta forma, o trânsito não está sendo evitado, mas apenas transferido para as ruas menores…
Ainda não há uma cartada final para abençoar ou demonizar o Waze e outros apps de navegação. O fato é que os congestionamentos não são bons para ninguém – nem para a economia do país, que perde 267 bilhões por ano com toda essa lentidão. O que dá para entender, pelo menos por enquanto é que, no início quando ainda pouca gente usava esses aplicativos de navegação como o Waze, os ganhos eram mais claros. A gente realmente conseguia fugir do trânsito e chegar mais rápido. Mas parece que com a adoção em massa de uma mesma solução, o Waze já não resolve mais o problema e há quem diga que os benefícios não vão além do que simplesmente indicar um caminho – como os antigos GPS já faziam…