Garimpo tecnológico: um raio-x dos metais preciosos presentes no smartphone

Renato Santino08/09/2017 21h53, atualizada em 09/09/2017 22h00

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Unidos, nossos bolsos são uma verdadeira mina de metais preciosos. Um smartphone pode conter até 62 tipos de metais diferentes em sua composição; entre eles ouro, prata e platina. Para se ter uma ideia, a cada tonelada de smartphones é possível extrair cerca de 300 gramas de ouro. Ou seja, a cada 40 smartphones reciclados dá para tirar cerca de um grama de ouro. Na natureza, para conseguir esse mesmo grama de ouro é preciso processar cerca de uma tonelada de minério!

Se você ainda está perdido nessa relação, a gente fez umas continhas para simplificar: o smartphone que você carrega no bolso, dada a cotação do dia que a gente fechou esta reportagem, tem aproximadamente 3 reais e 30 centavos de ouro. Parece pouco? Multiplique então esse valor pelos quase 200 milhões de smartphones em uso no Brasil. Isso mesmo, em uso. Sem contar os que já estão encostados ou esquecidos no fundo da gaveta, a gente tem mais de 650 milhões de reais em ouro distribuídos pelos bolsos do país. Ou seja, tem dinheiro sendo jogado no lixo!

O ouro é um excelente condutor elétrico – praticamente indispensável em eletrônicos de boa qualidade. Mas, como a gente disse no início, são mais de 60 metais presentes em um smartphone. Além dos preciosos e mais conhecidos, um grupo que chama atenção são os “metais de terras raras”. Eles estão lá, na penúltima linha da Tabela Periódica – são elementos usados em novos materiais que proporcionam enormes alterações das características físicas, químicas ou mecânicas mesmo quando usados em quantidades minúsculas. Todos com nomes esquisitos e complexos, os “terras raras” são responsáveis, por exemplo, pelas telas sensíveis ao toque dos nossos celulares.

Agora, de onde vem tudo isso?! Se a gente já se acostumou com o “Made in China”, quando olhamos para a realidade dos metais presentes em um smartphone, vemos que o país mais populoso do mundo não só domina produção e a tecnologia, mas também boa parte da matéria prima para produzir esses dispositivos. A China é responsável por quase 97% dos “metais terras raras” em todo o mundo. Não bastasse, com extração anual de 450 toneladas, os chineses também são os maiores produtores mundiais de ouro. Fora eles, boa parte do ouro mundial vem também da Austrália e da Rússia.

Já a maior produção de prata está no México e, em seguida, no Peru. Bom, olhas eles aí de novo: a China é o terceiro maior país produtor de prata também. E a platina, outro metal precioso presente nos nossos smartphones, vem principalmente da África do Sul, Rússia e Canadá. O problema é que esses metais um dia vão acabar na natureza. Segundo um estudo da Universidade Yale, 12 metais usados em abundância na produção de smartphones simplesmente não têm substituto. Mais do que isso, pesquisadores do MIT – o Instituto de Tecnologia de Massachusetts – concluíram que os recursos naturais, os metais valiosos, as terras-raras, tudo isso vai ser cada vez mais consumido à medida em que cresce a demanda. Resumo dessa história: é preciso reciclar esses metais; reaproveitar o lixo eletrônico. Se isso não for bem feito, à risca, uma hora a indústria simplesmente não vai mais ter como mais fabricar novos dispositivos. Já pensou?!

Agora que muita gente pensa: ótimo, é só reciclar e garimpar o ouro e todos os metais preciosos de dentro dos smartphones. Infelizmente, a equação não é assim tão simples. A maioria dos metais está impressa nas placas de circuito. Nada disso é processado no Brasil. Lembra daqueles 650 milhões de reais distribuídos nos smartphones pelo país?

Isso mesmo, todo o material coletado e até já separado por aqui é vendido para algumas das pouquíssimas usinas de reciclagem no mundo devidamente equipadas para extrair o metal amarelo, na Alemanha, na Bélgica, no Canadá, na Suécia e no Japão.

Se alguém teve a brilhante ideia, esqueça a hipótese de desmontar seu smartphone e raspar o ouro com uma lâmina e vender no joalheiro mais próximo. Tem gente que tenta extrair os metais preciosos na marra. Mas é preciso pensar nos outros tantos metais pesados presentes na carcaça do aparelho que podem destruir ainda mais nosso meio ambiente se não forem devidamente descartados.

Dois bilhões de usuários de smartphones trocam de aparelho, em média, a cada 11 meses em nível mundial! Apenas 10% são reciclados de forma correta e têm seus componentes reutilizados. Ou seja, temos um problema dos grandes. E provavelmente uma mina de ouro em armários, gavetas e lixões…

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital