Seria esta a alergia mais misteriosa do mundo? Doença ou mera loucura? De um tempo para cá, vem crescendo o número de pessoas que dizem sentir coisas desagradáveis e até estranhas quando expostas a campos eletromagnéticos. O problema é que hoje, a maioria de nós vive rodeado de eletrônicos. E, sim(!), todos eles – por menor que sejam – emitem ondas eletromagnéticas: o celular, roteadores Wi-Fi, TVs, computadores, o forno microondas…até o ferro de passar roupas. Já pensou ter que “evitar” tudo isso em pleno século 21? Pois é, saiba então que milhões de pessoas vivem assim: tentando se esquivar de toda e qualquer radiação ou fonte de eletricidade.
A Organização Mundial da Saúde não considera a Hipersensibilidade Eletromagnética uma doença. O fenômeno ganhou força e notoriedade em 2015, com a série “Better Call Saul”, da Netflix. No enredo, o irmão do protagonista sofre do problema e, além de evitar a todo custo sair de casa, faz com que todos que o visitam deixem celular, computador e até a chave do carro da porta pra fora. Uma situação bastante delicada e até complicada para outros entenderem…
Então, para compreender melhor e aprofundar essa história, a gente conversou com o engenheiro elétrico e professor Cléber de Paula. Logo de início, ele explicou que sim, o ser humano é mesmo sensível a campos eletromagnéticos. Em alto grau, essa exposição pode causar problemas neurológicos e fisiológicos ao interromper funções do sistema nervoso humano. Mas, detalhe, esses campos precisam ser muitíssimos intensos para causarem qualquer efeito em alguém. E, segundo o professor, toda radiação e campo eletromagnético gerado por dispositivos que nos rodeiam no dia a dia é bastante baixa para causar sintomas físicos em alguém.
A estimativa é que entre 3% e 5% da população mundial declarem sentir algo anormal causado por campos eletromagnéticos. É bastante gente! Nós até procuramos alguém com a síndrome aqui no Brasil para ilustrar nossa reportagem, mas não encontramos ninguém a tempo.
Claro, tamanha controvérsia e incertezas, existem muitos de estudos sobre a hipersensibilidade eletromagnética. Muitos deles questionam os riscos da exposição a campos eletromagnéticos, mas até hoje, nenhum traz provas substanciais sobre o possível problema. A maneira clássica de testar se alguém é sensível a algo nocivo é expô-lo a ele sob condições controladas e ver o que acontece. Aqueles que participam dizem mesmo sentir sintomas quando expostos a campos eletromagnéticos, mais do que quando expostos a um cenário “falso” que não envolve exposição ativa. Intrigante é que quando os experimentos são realizados em dupla-ocultação, sem que o participante nem o pesquisador saibam qual cenário é qual, os efeitos desaparecem.
A verdade é que a ciência está longe de convencer se essas alergias a eletrônicos e campos magnéticos são mesmo legítimas. Mas também não dá para duvidar e dizer que essas milhões de pessoas estão malucas, inventando uma situação. A OMS recomenda tratamento psicológico aos que se dizem “eletrossensíveis”. Pelo jeito, não é isso que eles fazem. Para se proteger, muitas pessoas que se dizem afetadas pelos campos eletromagnéticos se isolam da sociedade moderna, vivendo em caravanas isoladas ou em comunidades remotas.
Mais recentemente, até o 5G – a próxima geração de banda larga móvel – virou alvo de questionamentos. No início do ano, um grupo de 170 cientistas sinalizou suas preocupações sobre a tecnologia para a União Européia, dizendo que era preciso revisar os limites de exposição, citando riscos para a saúde dos cidadãos. O ponto de interrogação está nos efeitos das ondas milimétricas, também conhecidas como frequência extremamente alta, que o 5G vai explorar…