Pesquisador transforma alto-falantes em ‘armas acústicas’

Dispositivos podem ser programados para produzir sons de alta intensidade em frequências que, embora sejam inaudíveis para nós, ainda podem causar danos físicos ou psicológicos
Rafael Rigues12/08/2019 14h17, atualizada em 12/08/2019 14h24

20190227093148

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Durante a conferência de segurança DEFCON 2019 em Las Vegas, nos EUA, um pesquisador de segurança da PWC UK chamado Matt Wixey demonstrou uma forma de criar malware que pode induzir alto-falantes conectados a vários tipos de dispositivos a produzir frequências inaudíveis de alta intensidade, ou frequências audíveis em alto volume, que tem o potencial para danificar a audição humana, causar tinitus ou até mesmo efeitos psicológicos.

Em seu estudo, Wixey analisou o potencial acústico de alto-falantes integrados a vários aparelhos, entre eles um notebook, um smartphone, uma caixa de som Bluetooth, um smart speaker, um par de fones de ouvido “over-ear” (que cobrem as orelhas), um alto-falante montado a um carro de som, um alto-falante piezoelétrico e um alto-falante paramétrico, que consegue concentrar o som em uma direção específica.

O pesquisador então escreveu código capaz de rodar em cada um dos dispositivos e os colocou em uma câmera anecóica (uma câmera isolada, onde os sons do mundo exterior não conseguem penetrar e revestida de forma a anular a produção de eco). Um decibelímetro foi colocado junto a cada dispositivo para medir o volume de som produzido, e um termômetro monitorava a temperatura dos aparelhos antes e depois de cada “ataque”.

Wizeu descobriu que o smart speaker, os fones de ouvido e o alto-falante paramétrico eram capazes de emitir altas frequências que excediam a média recomendada por várias publicações acadêmicas. Além disso, o alto-falante Bluetooth, o smart speaker e os fones de ouvido também foram capazes de produzir sons de baixa frequência que, novamente, excediam o recomendado. Sons em frequências muito baixas, por exemplo, podem produzir no corpo humano efeitos como náuseas, tontura, desorientação e um sentimento de ansiedade.

Além disso, o pesquisador conseguiu programar o smart speaker de forma que emitisse uma frequência que produziu calor suficiente para começar a derreter seus componentes internos após 4 ou 5 minutos, causando danos permanentes ao aparelho. Por segurança, Wixey não testou os ataques em humanos e prefere não identificar os aparelhos testados, nem divulgar o código que escreveu para o projeto. Entretanto, ele afirma que o fabricante do smart speaker foi informado da falha, e uma correção para o problema já foi disponibilizada para os usuários.

“Há muitas questões éticas, e queremos minimizar o risco”, disse ele. “Mas o lado positivo é que apenas uma pequena parte dos aparelhos que testamos poderia ser atacada e reprogramada para funcionar como armas acústicas”.

Segundo Wixey, há várias formas de impedir que nossos alto-falantes se virem contra nós. Fabricantes podem limitá-los fisicamente para que não possam produzir frequências inaudíveis, e os sistemas operacionais poderiam monitorar as entradas e saídas de som para filtrar frequências perigosas. Até mesmo anti-vírus poderiam ser usados para monitorar atividade suspeita nas interfaces de áudio.

Wixey aponta que a pior parte desta categoria de ataques é que na maioria dos casos as vítimas não teriam a menor idéia do que está acontecendo. “A não ser que você ande por aí com um decibelímetro, você nunca saberá exatamente a quê está sendo exposto”, disse ele.

Fonte: Wired

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital