Tim Cook subiu o tom ao falar abertamente sobre uma disputa travada entre Apple e FBI. O órgão investigativo conseguiu que a Justiça obrigasse a empresa a ajudá-los na criação de uma ferramenta para hackear o iOS, e o CEO não apenas respondeu que não fará isso como ainda disse que o governo pode colocar em risco a privacidade de milhões de pessoas, caso não desista da ideia.
A decisão judicial saiu na última terça-feira, 16. Um tribunal federal afirmou que a Apple precisa colaborar forçosamente com o FBI para quebrar a segurança de um iPhone 5c encontrado com Syed Farook – que, com a esposa Tashfeen Malik, matou 14 pessoas num tiroteio em San Bernardino, Califórnia, em 2 de dezembro.
“Apesar (…) de um mandato autorizando a busca, o governo não consegue completar a busca por não conseguir acessar o conteúdo criptografado do iPhone. A Apple tem os meios técnicos exclusivos que poderiam ajudar o governo a completar sua busca, mas tem se negado a dar tal assistência voluntariamente”, informa a Justiça, em decisão repercutida pela NBC.
A Apple tem cinco dias para responder à Justiça por que não pretende cumprir com a ordem recebida ontem. Tim Cook acabou de tornar público que tipo de argumento deve mandar para o tribunal.
O executivo divulgou uma carta nesta quarta-feira, 17, deixando claro que não ajudará o governo porque o que o FBI quer é uma ferramenta capaz de modificar o iOS a ponto de torná-lo vulnerável. Por mais que os investigadores digam que a técnica seria usada apenas neste caso, Cook lembrou que o importante aqui é a técnica que, uma vez explorada, pode ser replicada por qualquer um com conhecimento suficiente.
“O governo quer que nós removamos funcionalidades de segurança e adicionemos novas capacidades ao sistema operacional, permitindo que um código de acesso seja implantado eletronicamente. Isso tornaria mais fácil desbloquear um iPhone por ‘força bruta’, tentando milhares de milhões de combinações com a velocidade de um computador moderno”, explica o CEO.
Para ele, as implicações das demandas são “arrepiantes”, porque o FBI está interpretando parte da constituição americana de uma forma que, caso seja juridicamente aceita, abrirá brechas para que no futuro sejam feitos pedidos ainda mais obscuros.
“O governo poderia estender essa brecha de privacidade e demandar que a Apple crie um software de vigilância para interceptar suas mensagens, acessar seu histórico médico ou dados financeiros, rastrear sua localização ou até acessar o microfone e a câmera do seu celular sem que você saiba.”