Roger McNamee, um dos primeiros investidores do Facebook, escreveu na última semana três artigos em jornais de grande circulação dos Estados Unidos (o Washington Post, o Guardian e o Washington Monthly) atacando a rede social. Segundo McNamee, que foi mentor de Mark Zuckerberg, a rede se tornou tóxica e não assume responsabilidade pelos problemas que causa.

McNamee diz ter notado uma onda de “desinformação” circulando pela rede social em 2016, antes das eleições presidenciais das quais Donald Trump saiu vitorioso. Ele comunicou a empresa, mas disse que não foi levado a sério. “A plataforma estava sendo explorada por uma ampla gama de maus atores, incluindo apoiadores de extremismo, mas sua gerência dizia que não tinha responsabilidade”, contou.

O investidor da rede se preocupa com que “as mesmas ferramentas que fazem o Facebook ser tão viciante para os usuários e tão eficiente para os anunciantes estão nas mãos de maus atores”. Ele considera que Mark Zuckerberg deve aparecer diante do congresso estadunidense para justificar a “recusa de assumir responsabilidade” por causar dano aos seus usuários na forma de informações falsas.

“Posso entender que tenha sido inicialmente difícil para o Facebook acreditar que seu produto era culpado, mas não há mais nenhuma desculpa que justifique a inação”, diz McNamee. “Eu me importo profundamente com o processo democrático e a proteção de sua integridade. Não quero que qualquer pessoa use nossas ferramentas para enfraquecer nossa democracia”, comentou em relação à influência do governo russo sobre as eleições dos EUA em 2016.

Ação radical

Na opinião de McNamee, a rede social precisa mudar drasticamente para prevenir seus usuários. “Por causa da automação, o Facebook não consegue prevenir dano atualmente. Vai acontecer de novo e de novo até que o Facebook tome uma atitude agressiva. O problema não pode ser consertado simplesmente contratando revisores para avaliar posts problemáticos”, disse o investidor.

O artigo de McNamee no Wahington Monthly é particularmente crítico da maneira como o Facebook alimenta emoções negativas em seus usuários para alavancar seus lucros. “Algoritmos que maximizam atenção dão vantagem a mensagens negativas. (…) Medo e ódio geram muito mais engajamento e compartilhamento do que felicidade. O resultado é que o algoritmo favorece conteúdo sensacionalista em detrimento de substância”, escreveu o investidor de Zuckerberg ao periódico.

As “bolhas” do Facebook também são um risco aos usuários, segundo ele. Elas são “a ferramenta mais importante” usada pela rede, pois mostram a cada usuário “uma fonte sem fim de posts que confirmam suas próprias crenças”. “O resultado é que cada pessoa vê uma versão diferente da internet, feita sob medida para criar a ilusão de que o resto do mundo inteiro concorda com elas”, diz.

Para resolver esse problema, McNamee sugere que reguladores imponham ao Facebook algumas atitudes: proibir que a empresa faça novas aquisições antes de resolver seus problemas, proibir totalmente o uso de bots que imitam perfis humanos, mostrar com transparência os agentes por trás de cada post político e ser mais transparente quanto ao seu algoritmo.