Grupos de Telegram são usados para venda de contas e dados roubados de brasileiros

Usuários se aproveitam de um semianonimato para comercializar dados privativos
Renato Santino15/08/2019 01h31

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O Telegram continua terra de ninguém. Em 2017, o Olhar Digital relatou como grupos na plataforma eram utilizados para, entre outras coisas, comercializar produtos e serviços ilegais. Agora, dois anos depois, as coisas continuam iguais: contas de Netflix, Spotify, cartões de crédito e até mesmo serviços piratas de TV pela internet (o famoso IPTV) e serviços de 4G ilimitado ou dados pessoais.

Uma matéria da BBC publicada nesta quarta-feira, 14, mostra como o aplicativo ainda é usado como uma grande “feira do rolo” digital, aproveitando a facilidade oferecida para criação de contas e o semianonimato proporcionado pelo sistema.

Os grupos são gigantescos, e chegam a superar 20 mil usuários. A negociação, nestes espaços, é livre. Alguns dos casos mencionados pela reportagem incluem um membro solicitando o nome da mãe e o RG de uma pessoa, oferecendo cartões de crédito em troca. Da mesma forma, um outro usuário busca descobrir um CPF oferecendo R$ 2 pela tarefa, enquanto outro procurava saber uma data de nascimento para consultar um CPF. Dados pessoais como esses podem ser usados na criação de contas falsas em nome da vítima, por exemplo.

Contas da Netflix e Spotify também são moeda de troca comum nesses grupos, vendidas por preços muito abaixo do cobrado por essas empresas. Essas contas são feitas, muitas vezes, com cartões de crédito roubados e com dados falsos, ou são contas roubadas de usuários legítimos por meio de ataques de phishing ou como fruto de vazamentos de bancos de dados.

Existem algumas curiosidades dentro do mercado de cartões de crédito roubados. Há uma orientação para que as transações realizadas com esse material sejam de pequenos valores, para tentar não chamar a atenção da vítima. Além disso, pessoas com o “score” de crédito alto tendem a ter suas informações mais valorizadas, porque seu limite no cartão tende a ser mais alto, o que faz com que transações pequenas possam passar despercebidas mais facilmente. “Pega uns 10 cartões com um score alto, acima de 800. Tira 50 de cada um. O dono paga sem saber porque o limite é alto”, é a recomendação de um dos usuários do grupo.

Muitas das informações trocadas no grupo são publicamente acessíveis em órgãos governamentais, mas de forma dispersa. O que algumas pessoas fazem nesses grupos é criar aplicativos conhecidos como painéis, que reúnem dados obtidos de múltiplas fontes legais ou ilegais, como é o caso de invasões de bancos de dados de sites brasileiros.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital