“ Quo altior mons, tanto profundior vallis”
“Quanto mais alto é o monte, mais profundo é o vale”
Provérbio latino
Você entra numa biblioteca e vai até a recepção. Lá, uma gentil bibliotecária está pronta para atendê-lo. Você então pede livros sobre carros. Ela vai até o acervo e volta com uma seleção do que considera os melhores livros sobre carros.
Substitua agora a biblioteca por uma ferramenta de busca, neste caso o onipresente Google, seu pedido por uma palavra digitada no buscador, a bibliotecária por um algoritmo e a entrega dos livros pelo resultado que o Google apresenta na sua tela. Comparar internet com uma biblioteca infinita, a Babel de Jorge Luis Borges transformada em bits, faz sentido se pensarmos que biblioteca e internet são de fato “repositórios de fontes de conhecimento”. Mas as semelhanças param por aí. A biblioteca do primeiro parágrafo não é uma megacorporação digital, cujo objetivo é maximizar o lucro dos acionistas e não possui modelo de negócios baseado em publicidade dirigida, orientado por variáveis de mercado e anunciantes. A bibliotecária tem nome, formação técnica, experiência, não é um algoritmo ou melhor, coleção de algoritmos complexos. O tempo do inocente Pagerank já passou. A questão que fica no ar: Poderia o Google “favorecer” no resultado da busca websites que tenham seus anunciantes pagantes? Poderia a bibliotecária ter lhe entregado um livro específico, escrito por exemplo, pelo seu marido? Fácil saber no segundo caso, basta ver o sobrenome do autor e compará-lo com o da bibliotecária, mas muito mais difícil em relação ao Google.
O caso Google Shopping
O Google acaba de ser multado pela Comissão Européia (CE) em quase R$ 9 bilhões (2,42 bilhões de euros) por violações antitruste. Para CE o serviço de busca do Google, favorece o Google Shopping, em seus resultados. Destaco uma das declarações da CE em relação ao caso:
“O Google rebaixou serviços de comparação de preços de seus competidores em seus resultados de busca: os serviços de comparação de preços dos competidores aparecem nos resultados de pesquisa do Google com base nos algoritmos de pesquisa genéricos do Google. O Google incluiu uma série de critérios nesses algoritmos, como resultado os serviços de comparação de preços dos rivais são rebaixados. A evidência mostra que mesmo o serviço rival mais altamente classificado aparece, em média, apenas na página quatro dos resultados de busca do Google, e outros aparecem ainda mais abaixo. O próprio serviço de compras de comparação do Google não está sujeito aos algoritmos de pesquisa genéricos do Google, incluindo estes rebaixamentos.”
Em resumo, os algoritmos de busca do Google simplesmente fizeram sumir ou rebaixaram os concorrentes de seu próprio serviço, o Google Shopping.
Bibliotecários algorítmicos
Não há como seres humanos participarem ativamente das buscas por conteúdo na internet. Volume, velocidade e variedade, os 3 vs do Big data tornam esta tarefa impraticável. Na biblioteca infinita, a Babel de Jorge Luis Borges transformada em bits, precisamos de bibliotecários algorítmicos. Se temos uma biblioteca que depende de algumas editoras para existir, as quais pagam suas contas, ela vai acabar em contrapartida, entregando aos leitores mais e mais livros desta editora. Em outras palavras, ferramenta de busca e o venda de mídia digital precisam estar nas mãos de corporações diferentes. No universo virtual, são algoritmos que fazem esta ponte, em especial, conectando negócios.
Se existe algo que algoritmos sabem fazer muito bem é criar correlações, analogias, correspondências, convergindo para um final comum, o qual pode ser o favorecimento de seu próprio criador.
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