Faz tempo que o Facebook vem procurando formas de entrar na China, onde a atuação governamental impossibilita a operação da plataforma de acordo com sua própria missão de “fazer do mundo um lugar mais aberto e conectado”. Agora surgiu a informação de que uma das possibilidades exploradas pela companhia envolve justamente ignorar o mote e abraçar de vez a censura.
O New York Times reportou ontem que Vaughan Smith, vice-presidente do Facebook que cuida da área móvel e do desenvolvimento corporativo e de negócios, vem liderando a iniciativa de criar uma ferramenta que possibilite o bloqueio de informações para usuários de determinadas regiões — com foco especificamente na China.
Três pessoas, entre funcionários e ex-funcionários, explicaram ao jornal que a plataforma abriria o Facebook a softwares terceirizados, e seriam eles que ficariam responsáveis por monitorar o conteúdo que circula pela rede social. Ao invés de proibir a publicação de determinados termos, o Facebook estaria permitindo que outra empresa (provavelmente ligada ao governo) entrasse no seu sistema para decidir o que fica e o que sai.
O modelo seria vantajoso para os dois lados. O Facebook teria acesso a um mercado com mais de 1 bilhão de internautas sem ter de se envolver diretamente com a censura, enquanto o governo ganharia uma ferramenta potente de monitoramento, uma vez que seria capaz de rastrear tudo o que seus cidadãos fazem na rede social.
Não se sabe quando o projeto foi iniciado, mas ele tem gerado preocupação no Facebook, tanto que vários funcionários envolvidos na ideia deixaram a empresa por discordar do que estavam fazendo. Segundo o NYT, no meio do ano o assunto vinha sendo tão debatido num fórum interno que acabou se tornando tópico em uma das tradicionais reuniões de sexta-feira na empresa. Na ocasião, o próprio Zuckerberg informou que a ideia era incipiente, mas destacou que “é melhor para o Facebook fazer parte da possibilidade de haver conversas, mesmo que não seja a conversa inteira”.
A revelação sobre tal ferramenta surge num momento complicado para o Facebook, que vem enfrentando pressões devido à proliferação de notícias falsas na rede social. Dois estudos, um nos Estados Unidos e outro no Brasil, indicaram que os links mentirosos circulando por lá conseguem angariar mais engajamento que as notícias verdadeiras, o que serviria para influenciar a opinião dos usuários.
As pessoas entrevistadas pelo NYT ressaltam, entretanto, que não há indícios de que o esquema de censura será implementado. Como tudo o que é pensado pela empresa, essa pode acabar se tornando mais uma ferramenta que chega à fase de testes mas acaba abandonada antes de vir a público.