Dragonfly: a versão censurada do Google na China na mira do congresso dos EUA

O projeto Dragonfly é muito controverso, pois, supostamente é um mecanismo de busca censurado para a China, um país que a empresa deixou de atuar há oito anos.
Rene Ribeiro12/12/2018 21h22, atualizada em 13/12/2018 10h00

20181212194919

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

No final da audiência no congresso dos Estado Unidos com o CEO do Google, Sundar Pichai, na terça-feira (11), o deputado Ted Lieu fez uma forte crítica ao projeto Dragonfly, uma versão censurada do Google na China.

“Esta é a quarta audiência de uma série ridícula sobre a liberdade de expressão das empresas de internet”, disse o democrata californiano. “Uma parte significativa desta audiência foi uma perda de tempo.”

Lieu estava se referindo a outras sessões com executivos do Facebook, Twitter e Google, desde as eleições de 2016, nas quais as grandes empresas de tecnologia foram levadas ao Congresso para se defender contra alegações de preconceito político. As últimas audiências aconteceram em setembro com o CEO do Twitter, Jack Dorsey, e com a diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg.

Embora o Google tenha enviado executivos de divisões menores para defender o caso no passado – incluindo o diretor de privacidade Keith Enright e o diretor de políticas públicas do YouTube, Juniper Downs – essa audiência foi a primeira em que o CEO do Google compareceu perante os legisladores.

O Google não estava filtrando intencionalmente as informações para atender a qualquer agenda política, argumentou Lieu, e havia questões mais urgentes para uma das empresas mais poderosas do mundo. Isso inclui preocupações sobre as operações maciças de coleta de dados do Google e seus esforços na China, o que poderia ajudar um governo autoritário a censurar seu povo.

Lieu não foi o único que achou que o tempo de Pichai poderia ser melhor aproveitado. Observadores externos também falaram muito sobre isso.

“Em vez de realmente querer entender o fato, eles usaram essa oportunidade extremamente rara de se concentrar em questões altamente partidárias que não chegam tocam no verdadeiro problema, que é o modelo geral de negócios do Google”, disse Jeff Chester, diretor executivo do Centro de Democracia Digital da empresa.

Isso ocorre porque o Google recebe quase 90% de sua receita em publicidade, e a empresa consegue cobrar tanto dos profissionais de marketing por causa das informações pessoais que a empresa coleta dos usuários. A segurança desses dados – tanto nas mãos de hackers e governos – se tornou uma discussão acalorada para toda a indústria de tecnologia.

-> Google: história, curiosidades e tudo que você precisa saber sobre o buscador!

A controvérsia do projeto Dragonfly

Quando os legisladores finalmente saíram do tópico do viés, conseguiram cobrir um terreno importante.

O projeto Dragonfly é muito controverso, pois, supostamente é um mecanismo de busca censurado para a China, um país que a empresa deixou de atuar há oito anos. Na época de sua saída, o co-fundador do Google, Sergey Brin, que cresceu na União Soviética, citou o “totalitarismo” das políticas chinesas para os movimentos da empresa. Rumores do projeto por si só estimularam protestos e renúncias de funcionários.

Questionado sobre a Dragonfly, Pichai disse repetidas vezes que o país “não tem planos” de lançar um mecanismo de busca lá. Mas quando pressionado, ele reconheceu que o projeto tinha “mais de cem pessoas” trabalhando nele. Isso é notável porque é o maior detalhe que a empresa revelou em relação ao tamanho do projeto. Apesar do número de funcionários, Pichai chamou isso de “esforço limitado” dentro da empresa.

Ele também expôs o que parece ser o principal argumento da empresa para que ela volte ao imenso mercado chinês. “Obter acesso à informação é um importante direito humano”, disse ele. “Somos sempre obrigados, em todo o mundo, a fornecer acesso à informação”.

Em uma entrevista ao Washington Post após a audiência, Pichai falou mais sobre como o projeto poderia ser. “Podemos explorar e servir os usuários na China, em áreas como educação e saúde?” ele disse. “Podemos até deixar de lado um mecanismo de buscas. Estamos tentando entender um mercado”.

Bob O’Donnell, analista-chefe da empresa de pesquisa Technalysis, aplaudiu o dever de casa de pelo menos alguns dos legisladores e seus assessores, e sua capacidade de superar os problemas de preconceito. Por exemplo, o deputado David Cicilline, democrata de Rhode Island, que fez as perguntas mais pontuais sobre Dragonfly, foi o único legislador a apresentar os princípios de IA (Inteligência Artificial) do Google, um conjunto de diretrizes que Pichai divulgou em junho para descrever como a empresa não usará a IA.

“As questões fundamentais de privacidade de dados são muito reais”, disse O’Donnell. “Eu esperava que fosse assim que eles (congresso) abordariam o caso, porque essas são as perguntas mais importantes para o Google.”

Essa é uma das razões pelas quais ele ficou desapontado pelo Congresso ter gasto tanto tempo na questão do preconceito, que o deputado Lieu rejeitou.

“Se você quer resultados de pesquisa positivos, faça coisas positivas. Se você não quer resultados de pesquisa negativos, não faça coisas negativas”, disse ele. “Se você está recebendo artigos de imprensa ruins e resultados de pesquisa ruins, não culpe o Google, o Facebook ou o Twitter. Você pode se culpar.” Uma referência clara a um governo ditador.

Colaboração para o Olhar Digital

Rene Ribeiro é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital