Como um grupo de memes do Facebook mostrou a fragilidade de moderação da rede social

Popular grupo de memes foi banido com base em infundadas denúncias de discurso de ódio no começo da semana; Facebook voltou atrás e reconheceu o erro
Equipe de Criação Olhar Digital18/05/2019 01h10

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O banimento de um grupo de compartilhamento de memes do Facebook com quase 500 mil membros causou um efeito dominó em outros que, por temerem ser alvo da mesma medida, vem mudando desde quarta-feira (15) suas configurações de privacidade de “fechado” para “secreto”. Neste modo, além do conteúdo, a existência do grupo fica oculta a todos que não são participantes.

O grupo Crossovers Nobody Asked For (CNAF ou, em tradução livre, Crossovers que ninguém pediu) foi subitamente removido da rede social no último dia 13. Os administradores criaram um CNAF 2 e tentaram deslocar membros do anterior para ele, mas o Facebook o fechou apenas um dia depois. Outros grupos também foram banidos pela empresa.

Usuários encontraram publicações em um grupo chamado Comissão de denúncia da Indonésia (em inglês, Indonesian Reporting Commission ou na sigla IReC) comemorando o banimento do CNAF. A celebração sugere que o grupo reportou denúncias em massa ao Facebook contra um suposto teor ofensivo do CNAF, o que obriga o Facebook a derrubá-lo. A suspeita não foi confirmada pela rede social.

Pouco tempo depois, usuários da plataforma começaram a acusar o IReC de falsamente incriminar o CNAF por discursos de ódio – o que faz sentido, já que o alvo era um grupo de memes. Não demorou muito para descobrirem a identidade do administrador principal do IReC, levando-o a se retratar. “Minha razão para essa transgressão foi excluir ou destruir tudo o que é negativo no Facebook, como a SARA (piadas religiosas ofensivas), hoax (boatos que podem conter vírus) e outras, que violam as regras do Facebook”, escreveu Muhammad Salim.

Ele disse que encontrou discursos de ódio e ofensas religiosas nos grupos que denunciou. Apesar disso, lamentou pelos banimentos e pelos “nossos erros” e concluiu que, como líder do IReC, vai encerrar a operação do grupo e “nos responsabilizar por tudo o que aconteceu”. Mesmo não confirmando o envolvimento no caso, a decisão de Salim significa que o IReC foi de fato um dos responsáveis pela remoção do CNAF.

As notícias sobre o envolvimento da Comissão de denúncia da Indonésia na remoção de grupos rapidamente se espalharam pelo Facebook, fazendo com que muitos dos principais grupos da plataforma mudassem suas configurações de privacidade para “secreto” como precaução. “É melhor prevenir do que remediar”, explicou um administrador de um grupo.

O Facebook reverberou a responsabilidade do IReC ao voltar atrás na remoção e afirmar, nesta quinta-feira (16), que está “trabalhando para restaurar” os grupos que foram “erroneamente” removidos ou afetados por “sabotagem” e evitar que isso aconteça novamente.

Um porta-voz disse ao site Mashable que, após investigação, a empresa descobriu que o conteúdo que violava as políticas da rede social e levou ao banimento dos grupos havia sido “postado para sabotar grupos legítimos” que seguem as diretrizes de uso da plataforma.

Apesar do Facebook reconsiderar os banimentos e assumir o erro, o fato de suspensão ou proibição de conteúdos da plataforma depender de sistema de relatórios baseado em algoritmos enfatiza a vulnerabilidade da moderação da rede social.

Na tarde de quinta-feira, o Crossovers Nobody Asked For foi restaurado ao Facebook, assim como outros grupos que foram fechados depois dele. “Desde então, mudei [as configurações] de volta, pois parece que o susto pode ter sido injustificado com base no conteúdo de nossa página de memes”, disse ao Mashable o administrador do grupo.

Via: Mashable e The Verge