Cientistas e pesquisadores nos Estados Unidos e Canadá estão realizando uma série de esforços para fazer backup de dados referentes a pesquisas sobre mudança climática. Segundo o Washington Post, os acadêmicos temem que a equipe de Donald Trump que assumirá o Departamento de Energia dos EUA queira contestar, e talvez até mesmo deletar, os dados que confirmam o fenômeno do aquecimento global.

Por esse motivo, os pesquisadores organizaram eventos e “mutirões de download de dados” para disponibilizar o maior volume possível dessas informações em servidores não ligados ao governo federal. Um dos eventos, organizado pelo Internet Archive na Universidade de Toronto, recebeu o nome de “Guerrilla Archiving” (arquivamento de guerrilha) e pede a voluntários para “ajudar a selecionar e organizar informações que precisam ser preservadas antes da transição [para o governo] de Trump”.

Segundo os organizadores, “esse projeto é urgente, pois a equipe de transição de Trump já identificou a EPA [agência de proteção ambiental dos EUA] e outros programas de meio-ambiente como prioridades para cortes”. Os organizadores chegaram até mesmo a criar um evento no Facebook para combinar melhor as atitudes a serem tomadas.

Libertando os dados

Além de copiar os dados das agências governamentais, os cientistas também pretendem criar uma base de dados aberta e independente com essas informações. Essa base está sendo organizada em torno de um site chamado Climate Mirror, cuja finalidade é “garantir que esses conjuntos de dados continuem livres e amplamente acessíveis”. O site dá o crédito de sua concepção a um tweet do jornalista Eric Holthaus que pode ser visto abaixo:

O objetivo é que o Climate Mirror sirva como um centro a partir do qual será possível acessar todas as bases de dados científicas disponíveis sobre mudança climática e aquecimento global. Por enquanto, contudo, ainda há apenas algumas bases “linkadas” no site. O acesso a demais bases de dados desse tipo, com links para download, pode ser feito por meio deste Google Doc.

Não há tempo a perder

Embora a preocupação dos cientistas possa parecer excessiva, há motivos para acreditar que Trump e sua equipe podem tomar medidas drásticas quanto à pesquisa sobre mudança climática nos EUA. Um dos pilares da campanha eleitoral de Trump foi a negação do fenômeno do aquecimento global. Em um tweet, ele chegou a dizer que o aquecimento global foi uma mentira inventada pela China para prejudicar a indústria dos Estados Unidos:

Desde que ganhou a eleição, contudo, Trump vem dando mostras de que esse discurso não tinha apenas o objetivo de lhe render votos. Consultores de campanha do presidente eleito já disseram que pretendem cortar drasticamente o orçamento da NASA destinado a pesquisas sobre mudança climática, um assunto que eles consideram que seja “ciência politizada”.

Não parou por aí: mais recentemente, de acordo com o Washington Post, a equipe de transição de Trump no Departamento de Energia dos EUA pediu aos oficiais da agência que dissessem quais funcionários de lá haviam participado de pesquisas sobre aquecimento global. A agência se negou a responder, segundo o Engadget, “em respeito à integridade e indpendência científica de seus funcionários”.