A busca do Google e da divisão de inteligência artificial DeepMind pela evolução da tecnologia para domínio do jogo de tabuleiro Go teve um efeito colateral inesperado. Lee Se-Dol, sul-coreano campeão da modalidade que foi derrotado por 4 a 1 em uma disputa com a máquina, decidiu se aposentar vendo-se desmotivado diante da capacidade dos computadores.
Segundo a agência coreana Yonhap, Lee entendeu que jamais poderia ser o número um novamente diante do avanço da inteligência artificial, mesmo com muito esforço. “Com a chegada da IA a jogos de Go, percebi que eu não estarei no topo mesmo se me tornar o número um por meio de esforços frenéticos. Mesmo se eu for o número um, há uma entidade que não pode ser derrotada”, afirmou o rapaz ao anunciar sua aposentadoria.
A humanidade já havia sido superada pelas máquinas no xadrez desde a década de 1990, quando o computador Deep Blue, da IBM, venceu o campeão Garry Kasparov. No entanto, Go era visto como um desafio consideravelmente mais complexo para as máquinas, pelo fato de que as combinações de posições de peças em um tabuleiro podem superar o número de átomos no nosso universo. Então, quando o Google decidiu encarar o desafio e superar um dos mais hábeis praticantes da modalidade no mundo, a vitória se tornou um marco para a inteligência artificial.
Lee Se-Dol havia sido derrotado em 2016 pela inteligência artificial AlphaGo, que foi treinada com um banco de dados de mais de 100 mil jogos de Go. Com isso, a máquina foi capaz de identificar padrões e desenvolver técnicas de jogo a partir do que observou. A IA chegou até mesmo a inovar no jogo, em uma ação que ficou conhecido como “movimento 37”, que chegou até mesmo a ser considerada um erro por parte de especialistas humanos, mas provou-se um método efetivo de garantir a vitória na segunda partida.
De lá para cá, a inteligência artificial já evoluiu ainda mais. A DeepMind chegou a anunciar a AlphaGo Zero, uma nova versão do algoritmo que, como seu nome indica, partiu do zero no aprendizado do jogo. Em vez de ser alimentada com um banco de dados de milhares de jogos, a máquina simplesmente jogava contra si mesmo repetidamente para desenvolver técnicas próprias e aprender o que funcionava e não funcionava. Em apenas três dias de jogos em velocidade sobre-humana, o algoritmo estava capaz o suficiente para vencer o seu antecessor AlphaGo por um placar de 100 a 0.
Apesar da aposentadoria, Lee Se-Dol ainda não desistiu completamente de enfrentar inteligências artificiais especializadas em Go. Em dezembro, para celebrar a sua aposentadoria, ele enfrentará a HanDol, uma IA sul-coreana que já venceu outros cinco dos maiores jogadores do país. Lee ainda receberá uma vantagem de duas peças ao início do jogo, mas mesmo assim prevê uma derrota na primeira partida.