Biohacking: o uso da tecnologia para “recriar” seres humanos

Redação01/06/2016 16h11, atualizada em 01/06/2016 16h19

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Lentes de contato que permitem enxergar no escuro, chips de computadores implantados no corpo e sensores. Esse elementos que nos lembram filmes de ficção científica não só já fazem parte da nossa realidade como promete ser uma tendência para o futuro.

Pouco difundido no Brasil, o biohacking é basicamente a prática de misturar biologia com ética hacker para mapear a própria biologia e, com isso, projetar e instalar melhorias corporais, como implantes magnéticos, antenas e chips, para mudar os seres humanos.

Pesquisadores acreditam que a prática levará à criação de uma nova raça humana e, eventualmente, até à imortalidade. Para o futurologista da Academia do Mundo para Artes e Ciência, Ian Pearson, até 2050 a espécie “Homo Optimus”, que é um híbrido entre seres humanos e robôs, estará andando por aí.

“Com genomas otimizados e organismos reforçados por ligações com a tecnologia externa, as pessoas poderiam ser mais bonitas, mais inteligentes, mais emocionalmente sofisticadas, fisicamente mais capazes, mais socialmente conectadas, geralmente mais saudáveis e felizes”, afirma.

A técnica ainda choca muitas pessoas pela forma como é feita. Além de não ser totalmente aprovada pela medicina, ela ganha adeptos que fazem experimentos por conta própria. Ellen Jorgensen, uma das criadoras do movimento de biotecnologia DIY, ou “faça você mesmo”, e fundadora do Genspace – um laboratório biotech sem fins lucrativos –, explica que a ideia é tornar a biotecnologia acessível ao cidadão comum, e não apenas a cientistas e aos que trabalham em laboratórios do governo.

“Colocar a tecnologia nas mãos do usuário é uma boa ideia, porque eles sabem com mais clareza quais são suas necessidades”, explica. Ela ainda lembra que a intenção não é criar uma nova versão do Frankenstein ou acabar, por acidente, desenvolvendo uma arma biológica.

“Os Estados Unidos publicaram um relatório nesta área, no qual foi concluído que o potencial deste tipo de tecnologia para o bem é muito maior do que o seu risco negativo. Inclusive, foi levado em consideração as comunidades DYIbio (do-it-yourself biology) e notaram que a imprensa tem a tendência de superestimar nossas capacidades e nossa ética. Na verdade, indivíduos DIY do mundo todo se reuniram em 2011 para criar um código de ética comum. Isso é muito mais do que a ciência convencional já fez”, afirma.

Mesmo assim, é importante lembrar que dispositivos implantados, por exemplo, podem conter materiais tóxicos, como baterias que podem acabar vazando e prejudicando a saúde do usuário.

Eles já estão entre nós
Em 2013, Tim Cannon implantou um sensor em seu braço que mede constantemente sua temperatura e gera relatórios; dessa forma ele consegue saber quando há uma baixa em seu sistema imunológico e agir de forma preventiva. O dispositivo, que conta com sensores, bateria que pode ser carregada via wireless e uma placa lógica, se comunica com smartphones e tablets.

O sensor de Cannon, batizado de Circadia, foi criado pela Grindhouse Wetware, um coletivo de programadores, engenheiros e entusiastas do biohack que desenvolvem equipamentos “seguros, acessíveis, com tecnologia de código aberto” para serem implantados.

 

O grupo também já lançou a North Star, o protótipo de um dispositivo que permite controlar outros gadgets através de gestos. Por enquanto, o aparelho, implantado nas costas da mão, só acende agumas luzes quando ativado por um ímã.

Os biohackers também são capazes de adquirir “sexto sentido” através de imãs nas pontas dos dedos que conseguem sentir ondas eletromagnéticas. Caso de Peyton Rowlands, que inseriu um imã no dedo anelar. “Você não sente que o seu dedo está sendo puxado, porque ele é muito pequeno. Você sente um leve zumbido quando a eletricidade passa por ele”, explica.

No entanto, ele precisou tirar o implante após sofrer uma reação ao imã. Este é um risco relativamente comum, já que os implantes precisam ser revestidos com algum tipo de material bio compatível para evitar ser expelido pelo corpo. No entanto, mesmo estes revestimentos podem causar alguma reação.

Um grupo de pesquisadores também foi atrás de novos sentidos para os humanos e criou o North Sense, um dispositivo implantável que vibra sempre que o indivíduo estiver virado para o norte magnético do planeta.

Já Neil Harbisson usou o movimento para resolver uma deficiência visual. Harbisson nasceu com uma síndrome chamada acromatopsia e enxerga o mundo em preto e branco, mas após convencer os médicos, conseguiu implantar um sistema que permite ouvir o som das cores através de indução óssea.

Outro que também teve ajuda da medicina foi Kevin Warwick, professor e especialista em Cibernética da Universidade de Reading. Ele passou por uma cirurgia para ligar seu sistema nervoso a um computador e transformou-se no primeiro ciborgue do mundo.

Um grupo que também ganhou as manchetes foi o Science for the People. Eles desenvolveram um colírio de clorina e6, insulina e dimetilsulfóxido que permite enxergar no escuro; Gabriel Licina, que foi a cobaia da experiência, conseguiu identificar com 100% de precisão pessoas escondidas à noite, enquanto um grupo de controle só achava em 30% dos casos.

Tudo isso pode parecer assustador, mas o futurista Zoltan Istvan, lembra que a possibilidade de mudanças no nosso DNA pode ajudar a eliminar doenças genéticas, como o Mal de Alzheimer e de Parkinson, além de retardar o envelhecimento.

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital