O aplicativo que é a febre do momento se chama Meitu, criado pela empresa chinesa de mesmo nome. O app já teve mais de 10 milhões de downloads segundo o Google Play e também está bombando no iOS, com a capacidade de transformar suas fotos em algo que parece ter saído de um desenho animado japonês, os famosos animes.
O resultado é meio bizarro, mas isso não impede que as pessoas experimentem e se divirtam compartilhando suas fotos alteradas, gerando sempre algumas boas risadas com amigos no processo. Divertido e inocente, não é mesmo?
Nem tanto. O aplicativo é um pavor em termos de privacidade, e só deve usar quem realmente não tem o menor problema em ter todos os seus passos monitorados. Isso porque o Meitu pede basicamente TODAS as permissões que seu celular é capaz de dar, quando para ele funcionar bastaria apenas o acesso à câmera, ao armazenamento e talvez o acesso à Internet.
Mas não é assim que o aplicativo funciona. Além destas permissões básicas e esperadas, ele quer saber a localização do usuário, quer informações sobre o seu celular (incluindo a identidade do aparelho com IMEI e endereço MAC), acesso completo à rede, a capacidade de alterar configurações, a possibilidade de ser iniciado automaticamente quando o celular é ligado.
Permissões abusivas até são comuns em apps gratuitos do Android, mas o Meitu vai além e também cruza os limites do razoável também no iOS. O pesquisador Jonathan Zdziarski percebeu que o aplicativo checa regularmente se o celular tem jailbreak, qual operadora a pessoa usa, além de monitorar o endereço MAC do aparelho, que permite identificar individualmente o celular. Com tudo isso, o especialista aponta que o aplicativo é, na verdade, uma coleção de ferramentas de análise e pacotes de monitoramento de marketing e anúncios unidos com uma carinha bonita para fazer as pessoas usá-lo.
A Meitu tem outra explicação, no entanto. A empresa não nega que está coletando todos esses dados, mas a justificativa pelo menos é mais benigna do que simplesmente reunir dados para revendê-los a anunciantes. Todas essas permissões seriam necessárias pelo fato de que não há App Store ou Google Play na China (os serviços são bloqueados); estas lojas fornecem ferramentas de monitoramento de uso que são inacessíveis a empresas chinesas, que precisam usar soluções alternativas.
Por fim, a empresa também justifica a necessidade de iniciar o aplicativo quando o celular liga. Novamente, por ser chinês, o app não tem ligação com o Google Play Services, então, para conseguir usar notificações push é necessário um outro serviço chamado Getui. Ele depende do app ser iniciado junto do smartphone.
Boas justificativas ou não, as permissões necessárias ainda são enormes. Fica a seu critério decidir se vale a pena ou não fazer tantas concessões ao aplicativo em troca de fotos engraçadinhas.
ATUALIZAÇÃO: A Meitu entrou em contato com o Olhar Digital com o seguinte posicionamento, que já havia sido detalhado no texto acima. Confira:
“Como a Meitu está sediada na China, muitos dos serviços fornecidos pelas lojas de aplicativos são bloqueados. Para contornar isso, a Meitu emprega uma combinação de sistemas de rastreamento de dados de terceiros e verifica se os dados do usuário rastreados são consistentes. No entanto, a empresa ressalta que não vende os dados dos usuários a terceiros.”