Adolescente e a sua mãe tentaram alertar Apple sobre a falha do Facetime

Eles fizeram contato com a empresa pelo Twitter, pelo Facebook, por telefone e até por fax, mas descobriram que precisariam ter uma conta de desenvolvedor para informar esse tipo de situação.
Roseli Andrion30/01/2019 16h48, atualizada em 30/01/2019 17h30

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Se você é fã do FaceTime, o recurso de chat com vídeo da Apple, precisa ler isto aqui! O aplicativo tem um bug um pouco inconveniente: quem faz uma chamada em grupo pode ouvir tudo enquanto os aparelhos dos receptores ainda estão tocando. Ou seja, basta chamar para saber o que se passa do outro lado mesmo que a ligação nem seja atendida. E a Apple foi alertada sobre essa falha.

Assim que ela foi descoberta por Grant Thompson, um adolescente de Tucson, no Arizona (EUA), o garoto e sua mãe, Michele Thompson, tentaram avisar a empresa sobre o problema. Em declaração ao Wall Street Journal, Michele relata que ficou bastante frustrada por tentar ajudar a companhia a corrigir uma falha e ter dificuldade para fazê-lo. Quando perguntada sobre o caso, a porta-voz da Apple preferiu não comentar.

Michele diz que tentou todos os métodos disponíveis para falar com alguém na Apple, mas encontrou muitas barreiras. Ela e o filho fizeram contato com a empresa pelo Twitter, pelo Facebook, por telefone e até por fax, mas descobriram que precisariam ter uma conta de desenvolvedor para informar esse tipo de situação.

Seu empenho os levou até a trocar alguns e-mails com a equipe de segurança da Apple, mas a empresa só tomou uma atitude concreta quando informações sobre o bug se espalharam pelas redes sociais. Nesse ponto, a Apple desabilitou o recurso que causava o problema e prometeu apresentar uma solução ainda esta semana.

Essa falha aparece em um momento crítico para a empresa: além de ter tido uma queda significativa na venda de sua linha de iPhones, uma brecha como essa mancha a reputação da companhia, que tem buscado enfatizar seu compromisso com a privacidade dos usuários como forma de se destacar dos concorrentes.

Não se sabe quando o erro surgiu, mas ele afeta a funcionalidade Group FaceTime, que foi lançada em outubro de 2018. A falha é tão expressiva que o governador de Nova York emitiu um alerta ao consumidor — ação pouco comum da parte dele. “O bug do FaceTime é uma brecha significativa de privacidade que coloca os nova-iorquinos em risco”, disse.

Como a falha foi descoberta

Tudo ocorreu de forma acidental. Há cerca de dez dias, no domingo, 20/01, Grant iniciava uma conversa em grupo com amigos no FaceTime para falar sobre uma sessão de “Fortnite” que eles fariam mais tarde. Conforme adicionava os participantes, passava a ouvir o áudio deles, mesmo que não tivessem atendido a chamada ainda. Ele ficou surpreso: afinal, podia ouvir o que as pessoas falavam sem seu consentimento.

Grant, então, contou a situação para a mãe e eles decidiram informar a Apple sobre o erro. Desde a descoberta, a saga da dupla foi longa. Ainda no domingo, Michele publicou mensagens no Twitter e no Facebook da empresa, com a esperança de que as equipes de mídias sociais ou suporte as vissem. Depois, tentou o Twitter de Tim Cook, o CEO da companhia. Na terça, ela enviou uma mensagem por fax e ligou diretamente para a fabricante.

Quando conseguiu contato com a equipe de suporte — que telefonou para ela em resposta às mensagens enviadas —, o atendente não tinha informações sobre a falha. E mais: disse que não podia fazer nada sobre o problema e que era necessário que ela se registrasse como desenvolvedora para ser capaz de enviar o comunicado sobre a brecha de privacidade.

Michele, que é advogada, então se registrou como desenvolvedora para participar do Apple’s Bug Reporter Program. Desde 2016, a Apple oferece prêmios em dinheiro para quem descobre bugs significativos — Michele espera obter um bônus para Grant, mas ainda não sabe se ele será oferecido pela companhia. Aparentemente, no entanto, as equipes de mídias sociais e suporte não são integradas nesse processo.

A equipe de segurança da Apple entrou em contato com Michele na quarta-feira passada, 23/01, e ela enviou, dois dias depois, uma descrição da falha e o link para um vídeo em que ela e Grant demonstram como o bug aparece.

Apenas três dias depois, anteontem, a empresa desabilitou a funcionalidade — depois que ela se tornou pública pelas redes sociais. Especialistas em segurança recomendam que os usuários desabilitem o FaceTime até que a companhia tenha um patch para corrigir o problema (a Apple informou que deve apresentá-lo ainda esta semana).

Colaboração para o Olhar Digital

Roseli Andrion é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital