A Gestão da Inovação antes da Inovação

O que distingue e gera valor para as empresas inovadoras não são as inovações que elas fazem, mas sim sua capacidade de inovar
Liliane Nakagawa11/01/2020 00h32, atualizada em 13/01/2020 20h20

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É comum, e ao mesmo tempo surpreendente, ver executivos em posições de destaque misturarem as inovações em si com o tema gestão de inovação. Falam dos produtos inovadores desprezando os processos e arranjos organizacionais que possibilitam gerá-los. Metaforicamente, é como explicar a origem das maçãs sem mencionar a existência das macieiras. Esses dirigentes são cobrados por resultados palpáveis; como tal, o foco de seu trabalho está mais nos gols do que nos esquemas táticos armados para garanti-los.

Nas empresas que são referência em inovação o cenário é bem diferente. Nelas, é nítida a preocupação com a estruturação e o permanente aperfeiçoamento de tudo o que precisa ser feito para a inovação acontecer repetida e sustentadamente. Essas empresas empenham-se em definir os pontos centrais da gestão da inovação:

  • Uma estratégia que assegure alinhamento dos esforços de inovação;
  • Uma cultura ou, em outras palavras, um ambiente favorável à inovação;
  • Práticas consolidadas que permitem transformar ideias em resultados;
  • Pessoas mobilizadas em esquadrões que se dedicam a fazer as inovações acontecerem;
  • Conexões com o ecossistema de inovação, com startups, pesquisadores e institutos de ciência e tecnologia.

Sempre foi assim, e não vai a lugar nenhum quem espera que a inovação apareça de repente, em lampejos ou espasmos de criatividade.

Há três anos vimos pesquisando o Império Romano, buscando entender como se tornou a mais próspera, poderosa e inovadora organização da história da humanidade. Em seu auge, estendia-se por cerca de 6 milhões de quilômetros quadrados e tinha sob sua égide 60 milhões de pessoas, um quarto da população mundial da época.

Constatamos que não foram as inovações em si a assegurar prosperidade, mas sim o sistema de gestão com foco em inovação que Roma construiu e sempre alimentou. A força do império não estava apenas nos fantásticos aquedutos que levavam água de qualidade por longas distâncias, nas estradas e pontes erguidas sem qualquer recurso de cálculo tal como temos hoje nem nas extraordinárias armas e técnicas surpreendentes de guerra. Tampouco no concreto capaz de secar na água, nos arcos que sustentavam estruturas pesadíssimas ou no sistema de esgoto, até hoje utilizado. Tudo isso era somente efeito de uma estratégia e de um conjunto de práticas de gestão da inovação, esse sim o verdadeiro “motor” da prosperidade. Graças a ele o império cresceu e se fortaleceu ao longo de quase mil anos.

Esse fantástico sistema de governança da inovação na Roma antiga norteava todas as decisões e ações empreendidas pelo império. Algumas práticas se tornaram a marca registrada da expansão de Roma e até hoje ensinam. Por exemplo:

  • Integrar conhecimentos e fortalecer a cultura para a inovação;
  • Manter uma estratégia clara para inovar;
  • Fortalecer o senso de pertencimento nas equipes;
  • Capacitar as pessoas para inovar;

Muitos gestores da atualidade vivem falando de inovação, mas relutam em adotar lições comprovadamente eficazes.

Portanto, para tornar sua empresa mais inovadora e valiosa, plante a “árvore” da inovação. Estruture a governança, o caule principal; monte os grupos de implantação e os times de realização da inovação, em especial o comitê gestor da inovação, pois será ele o responsável por coordenar toda a implantação. Assegure raízes profundas estimulando uma cultura propícia à inovação que sustentará toda a estrutura. Para que a árvore cresça, ela precisará de chuva, isto é, de recursos variados, financeiros em especial. Precisará da luz do sol, metáfora para uma inspiradora e atraente visão de futuro da empresa tornada inovadora. Por fim, tenha paciência. Espere a árvore crescer minimamente para a primeira colheita de inovações: elas não brotam em uma semana. Verá que surgirão repetidamente inovações de qualidade.

Liliane Nakagawa é editor(a) no Olhar Digital