Num momento em que vários representantes do setor possuem seus próprios serviços de conteúdo via streaming, as empresas de TV por assinatura parecem ter começado a amenizar o discurso em relação a quem até então consideravam concorrentes – incluindo a Netflix.

Em evento repercutido pelo UOL nessa terça-feira, 21, o presidente da Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA), Oscar Simões, afirmou que “dezenas e dezenas” de canais pagos ativaram opções de conteúdo sob demanda. “Isso mostra a resposta da indústria”, comentou. “Passou a ser a demanda? Vamos ao máximo para criar o que o telespectador quer. É crescente e parece uma tendência inexorável.”

“O importante com essa tendência é atender ao jovem, uma classe que não quer mais se vincular, ficar sentado e acompanhar em um certo horário”, acrescentou o vice-presidente jurídico da entidade, José Francisco de Araújo Lima, que também é diretor de relações institucionais das Organizações Globo. “On-demand é uma alternativa para essa nova geração.”

Na mira do setor desde 2015, quando as empresas a acusaram de concorrência desleal, a Netflix parece não incomodar mais tanto. Simões afirmou que a recente queda na quantidade de assinantes da TV paga não tem relação com a concorrência, e sim com a condição de renda da população. Aliás, para ele, nem adversária a Netflix é: “Na operação digital, a empresa se aproxima mais de uma produtora de conteúdo. E nesse sentido ela é mais complementar do que uma competidora.”

Há mais de um ano que representantes das TVs pagas tentam forçar a Netflix a se adequar a regras que indiretamente enfraqueceriam a locadora virtual. Uma delas é o pagamento do Condecine, uma taxa de R$ 3 mil sobre cada título disponível em seu catálogo. Em janeiro, surgiu a informação de que o setor se preparava para uma guerra contra a Netflix por meio de um “megalobby” em Brasília.

Apesar de tirar o pé do acelerador, a ABTA ainda não vê a Netflix como amiga. “Acho que o tratamento deva ser igual para que você tenha competição. Se eu tenho obrigações de cota, tributárias, uma serie de obrigações, e eu tenho um concorrente que não as tem, ele tem uma vantagem em relação ao meu negócio. Então ou você regulamenta para todos ou desregulamenta para todos. Eu até preferia essa segunda opção. Mas o Estado vai ter que analisar”, disse o presidente da entidade.