Boston – EUA – Um dos grandes desafios que envolvem o mundo do software livre tem a ver com uma dicotomia: por um lado, os custos sempre foram mais baixos (ainda que não se possa confundir software livre com software gratuito), de outro, sempre foi necessária uma mão-de-obra qualificada (e até tempos atrás) de mais difícil localização. A questão da mão-de-obra teve significativa melhora nos últimos anos, mesmo no Brasil – onde o número de profissionais capacitados para trabalhar com Linux vem crescendo constantemente. Agora, o próprio trabalho de desenvolvimento em Linux ganhou um impulso novo, com ferramentas que prometem simplificar o processo de criação de aplicações.
Um mundo diferente, com algumas semelhanças
No universo do software livre, a Red Hat talvez seja uma das únicas empresas a atuar como uma corporação, digamos, mais tradicional. E, nesse sentido, o Red Hat Summit – encontro anual da companhia, realizado em Boston, nos Estados Unidos – se assemelha a outras reuniões de grandes empresas de tecnologia norte-americanas. Durante 3 dias, cerca de 6 mil participantes se espalham pela dependências do Centro de Convenções da cidade. Entre Keynotes (sessões plenárias) e dezenas de salas dedicadas a treinamentos ou oficinas, os participantes exploram uma nova leva de ferramentas que, segundo a empresa, devem trazer mais velocidade e agilidade ao desenvolvimento de aplicações a partir de código livre.
O principal destaque é a plataforma Shift.io, lançada no primeiro dia do evento. Trata-se de um ambiente em que os desenvolvedores podem criar, modificar e até testar suas aplicações antes de levá-las à produção. A ferramenta é bastante flexível e facilita a integração de diferentes API’s de modo praticamente instantâneo, agilizando significativamente o desenvolvimento, por diminuir a necessidade de reescrita de código. Para completar – e talvez aí esteja uma nota decisiva – todos os recursos da plataforma são gratuitos. Ou seja, você pode criar seu código, testar sua funcionalidade e não precisará desembolsar nada por isso.
Aposta nos aplicativos
A oferta dessa plataforma faz sentido dentro da estratégia de mais longo prazo da Red Hat. Ainda hoje, boa parte do trabalho da empresa está ligado à infra-estrutura, com recursos voltados para o gerenciamento e implantação de sistemas em datacenters. A plataforma Shif.io é, na verdade, um instrumento para atrair ainda mais desenvolvedores para o mundo Linux – e em especial para a distribuição Red Hat. Uma aposta no crescimento da comunidade de desenvolvedores mais ligados aos aplicativos que propriamente aos sistemas de gerenciamento.
Outro dos destaques do evento desse ano foi a parceria anunciada entre Red Hat e AWS (Amazon Web Services). Por meio do novo acordo, quem usar as plataformas de desenvolvimento da Red Hat pode se beneficiar da infraestrutura do serviço de computação na nuvem da Amazon. Para os profissionais de desenvolvimento, a principal vantagem é que os recursos das duas empresas estão integrados: se você já usa o serviço da Amazon, ao construir seu aplicativo, ele já estará, praticamente, também no ambiente de produção.
Há certo consenso na indústria de tecnologia de que o caminho do software livre é mais efetivo e mais ágil que o das soluções proprietárias. A lógica é simples: mesmo que uma empresa tenha milhares de empregados dedicados ao desenvolvimento de suas ferramentas, ela dificilmente alcançará o númro de desenvolvedores que se juntam a comunidades e fazem evoluir constantemente os códigos do software livre. Nesse sentido, a Red Hat atua quase como uma curadora de tendências, coletando as boas ideias desse universo multi-facetado e transformando-as em ferramentas para o mundo corporativo. A estratégia funciona: em 2016, a empresa faturou US$ 2,05 bilhões globalmente, com um crescimento de 15% sobre o ano anterior. A empresa não revela números regionais, mas chega a dizer que em regiões como o Brasil e a América Latina, mesmo num período de crise, esse crescimento ultrapassou os 20%.
*o Olhar Digital viajou a Boston a convite da Red Hat.