Profissionais de TI ganham de acordo com as exigências das empresas?

Redação01/02/2016 13h41, atualizada em 01/02/2016 14h14

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Recentemente, a rede social LinkedIn listou 25 habilidades consideradas importantes para profissionais de TI conseguirem um bom emprego em 2016. Entre os leitores do Olhar Digital, a reação foi quase unânime: muitos afirmam que as empresas fazem exigências surreais aos candidatos, mas não oferecem uma remuneração compatível. Será mesmo? E, se for verdade, por que isso acontece?

Antonio Neto, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo (Sindpd), concorda com as queixas. “Quando você compara com outras categorias de grau universitário, não há necessidade de tanta atualização. Você se forma em TI, vai trabalhar em uma empresa e precisa ter certificação específica para cada ferramenta, saber outro idioma, dominar várias linguagens de programação… é muito investimento para que ele tenha uma remuneração que não condiz.”

Por isso o Sindpd debate regularmente com o Seprosp, sindicato representante dos “patrões”, sobre reajustes de salários e opções de regulamentação da profissão, incluindo a determinação de um piso salarial para toda a categoria. Procuramos o sindicato patronal para falar a respeito deste assunto, mas nenhum porta-voz foi localizado.

De quem é a culpa?

Para André Ribeiro, gerente de mercado da empresa de planejamento de carreira Produtive, o problema não é tão generalizado quanto parece. De acordo com ele, há de se identificar quais são as empresas que estão exigindo mais do que a remuneração reflete, levando em conta se são companhias onde o “núcleo” do negócio é TI ou não.

“Empresas como Microsoft, HP, IBM têm uma exigência maior, mas o pacote de remuneração – além do salário, todos os benefícios, oportunidade de crescimento, etc. – é maior também. Em outras indústrias, como uma empresa de varejo ou bens de consumo, onde a especialidade não é TI, acontece que, muitas vezes, quem chega ao topo de um cargo administrativo não tem origem em TI, mas sim na área comercial, finanças, operações…”, comenta André.

Quando o gerente responsável pelo setor de TI de uma empresa não é um profissional formado na área, as chances de que a remuneração seja incompatível com as cobranças são muito maiores, afirma André. Mas nem tudo é culpa da empresa: o funcionário também precisa entender que o mercado é muito competitivo, e, por isso, as exigências favorecem os mais preparados.

É o que diz Fábio Saad, gerente sênior da empresa de recrutamento Robert Half. “Dependendo da área, existe muita oferta de profissionais. Você tem que investir na sua carreira para se diferenciar, tem que se certificar, atualizar, porque você concorre com muita gente. Mas quando a economia entra em recessão e o mercado demanda menos, os salários caem mesmo”, diz.

Reprodução

Fábio explica que, como em qualquer outra área além de TI, é normal que as empresas apliquem “filtros” no momento de abrir um processo seletivo de novos profissionais. Isso acontece porque, se a vaga for divulgada exigindo apenas as qualificações mínimas para a função, o número de concorrentes poderá ser maior do que os departamentos de recursos humanos das empresas suportam.

“Não é só em TI, muitas áreas exigem inglês fluente ou desejável, entre outras qualificações”, comenta Fábio. “Quando você tem uma grande oferta de candidatos, você precisa de filtros, para diminuir a sua amostra na hora de entrevistar os finalistas. Tem muita gente que faz isso.”

Perspectivas de mudança

Empresas e analistas de mercado insistem que especializações são importantes para qualquer currículo. Mas para o presidente do sindicato de profissionais de TI, algumas exigências são desmedidas. “O que sofre com obsolescência é hardware, não software. Quando você conhece o eixo básico de qualquer produto, você vai trabalhar com facilidade, não precisa de tanta atualização”, diz Antonio.

“As empresas deveriam investir na qualificação do próprio funcionário, mas elas preferem buscar no mercado quem já tenha experiência”, continua o presidente do Sindpd. Para ele, esse cenário só deve mudar quando o Congresso Nacional regulamentar a profissão de acordo com o que já é feito em outras áreas, como Direito e Engenharia, aumentando assim o salário e a qualificação dos profissionais.

Para André Ribeiro, da Produtive, a mudança está mais nas mãos dos candidatos do que nas mãos das empresas. “Eles têm que ampliar suas visões de negócio, extrapolar mesmo, para que, no médio prazo, eles atinjam posições de liderança numa empresa. Aí sim a área de tecnologia passa a ter mais força”, comenta o especialista.

Fábio Saad, da Robert Half, argumenta ainda que problemas desse gênero – incompatibilidade entre exigências e remuneração – não são exclusividade do TI. “Quando você tem alta demanda e pouca oferta de profissionais, o salário vai lá para cima”, diz. Por isso, ele acredita que a tendência para o mercado é de que a situação melhore para o profissional.

“A certificação é um diferencial”, pondera Fábio. “Mas entender do negócio é importante. Fazer sugestões, ser proativo. Uma coisa é ser um funcionário operacional e outra é ser um profissional construtivo. Tem o profissional que fica executando e o profissional que usa seu conhecimento para agregar valor ao trabalho dele”, diz. Ou seja: as coisas devem melhorar, mas não para todo mundo.

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital

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