Alguns dos recentes acontecimentos específicos dentro da internet, seja o aumento dos discursos de ódio descarados ou a criação e veiculação de fake news, dão força a quem defende cada vez mais a necessidade de regulamentações neste sentido. Tal ideia já é discutida no Brasil e no mundo, principalmente no que se refere à grandes empresas de tecnologia, como Google e Amazon.

Mas os indícios de que a questão é urgente são quase palpáveis para qualquer pessoa que também seja um internauta. Nos Estados Unidos, esta necessidade ficou ainda mais nítida nestes tempos de pandemia, onde a desinformação contribuiu para minar o combate à doença no país, inclusive com teorias da conspiração. “Há quatro principais áreas da tecnologia que devem ser observadas na hora de criar uma efetiva regulamentação, sendo elas segurança, privacidade, competição e honestidade”, afirma o investidor Roger McNamee em publicação para a revista Time.

Segurança

Talvez este tópico seja o mais importante quando o assunto é a regulamentação em serviços de tecnologia. A partir dele, duas outras vertentes podem ser levantadas: desenvolvimento de produtos e modelo de negócios. No primeiro, pode-se levar em conta várias falhas já encontradas em dispositivos ou aplicações lançadas aos clientes sem a devida testagem ou proteção. Com isso, o controle de qualidade para nas mãos do consumidor final.

O artigo salienta vezes em que o preconceito racial e de gênero apareceu através da inteligência artificial ou reconhecimento facial. Deste ponto de vista, o ideal seria aplicar o mesmo rigor nas avaliações de produtos de empresas de medicamentos, por exemplo, às empresas de tecnologia, visto os danos a serem causados por problemas nos equipamentos ou sistemas.

Já sobre o modelo de negócios, Roger McNamee destaca como as gigantes Facebook, Instagram, YouTube e Twitter monetizam por meio de publicidade. Um algoritmo amplia a interação do usuário com conteúdo de conspirações, por exemplo, que são os mais atraentes para o público. Não há incentivos às plataformas com o objetivo de filtrar melhor este tipo de material malicioso, o que permite o maior afrouxamento em prol dos disseminadores de discursos mentirosos ou até violentos.

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Maior segurança é um dos pontos principais para futura regulamentação. Créditos: Pexels/Reprodução

Privacidade

Quem nunca comentou sobre um produto ou serviço em uma roda de amigos e depois encontrou anúncios sobre o assunto no celular? Infelizmente, a questão de privacidade envolvendo tecnologia vai muito além da teoria de que os aparelhos de telefone ouvem, mesmo quando o microfone não está ativado. Isso foi provado quando em 2018 a Cambridge Analytica foi desmascarada por vazar dados de milhões de pessoas para o direcionamento de campanha política nos Estados Unidos e outros países. O caso foi mais um exemplo de que as empresas de tecnologia não dão a devida atenção à verdadeira privacidade.

Como toda pessoa que possui um celular ou uma conta em uma rede social deveria saber, dados de localização ou financeiros, compras com cartões de crédito, informações pessoais e atividades no geral, são registradas e armazenadas em grandes bancos de dados. Diante disso, é preciso ter garantia de que estas informações estarão seguras e serão utilizadas apenas com a autorização do dono. Mas na prática, ainda não é isso que acontece. Empresas particulares usam o tempo todo dados de seus clientes ou de outras instituições, focando o sucesso da publicidade com o direcionamento assertivo.

Concorrência

O artigo ainda lembra que a falta de concorrência faz com que empresas como Google, Facebook e Amazon se tornem intocáveis e, por isso, não se esforçam para eliminar comportamentos inadequados. Desta forma, também não há espaços para concorrentes. Até mesmo a internet acaba por oferecer um número limitado de opções neste sentido, fazendo do consumidor um refém.

Honestidade

A grande questão aqui são os valores arrecadados com publicidade, o que as empresas grandes de tecnologia não deixam totalmente claro muitas vezes. Ainda vale dizer que estas gigantes não permitem que agências ou comerciantes auditem seus números, deixando um espaço vazio nestes termos. Tal ausência também pode abrir caminho para vários crimes.