Pandemia ‘derruba’ fundos baseados em inteligência artificial

Capazes de prever pequenas oscilações do mercado, fundos quantitativos apresentaram forte queda com a chegada do coronavírus
Igor Shimabukuro24/07/2020 16h44, atualizada em 24/07/2020 19h07

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Diferentemente dos dias atuais — onde o cenário econômico parece se descolar da política e do coronavírus —, o mercado de capitais apresentou forte volatilidade em março: enquanto a Dow Jones caiu quase 13% em um único dia, o Ibovespa teve seu pior mês desde 1998. Dentre os diversos investimentos que sofreram grandes perdas, as operações quantitativas tiveram destaque negativo durante a pandemia e seus algoritmos matemáticos (incluindo inteligência artificial) foram colocados em xeque.

Os fundos quantitativos fazem o uso da tecnologia como estratégia. A inteligência artificial prevê oscilações de ativos do mercado e determina o que se deve comprar ou vender. Mesmo dispondo de tecnologia de ponta, as operações não se adaptaram à chegada da Covid-19.

Alguns fundos da Bridgewater Associates apresentavam queda de 21% até março. Outro fundo administrado pela D. E. Shaw, caiu 9% até o dia 24 do mesmo mês. A empresa de operações quantitativas Renaissance Technologies também afirmou que seus algoritmos falharam em resposta à volatilidade do mercado.

As perdas apontaram uma limitação da inteligência aritifical usada para definir padrões do mercado financeiro. Os dados — que alimentam esses fundos de hedge — foram “confundidos” pelas oscilações e pelo pânico dos investidores, já que não contabilizam tantos casos de crise em suas tecnologias. Ernie Chan, gerente da QTS Capital Management lembra que grandes turbulências globais são raríssimas, e não podem ser usadas como base pela machine learning.

Andrew Lo, professor do MIT e presidente do AlphaSimplex, compara as perdas das empresas quantitativas, com as quedas vistas na crise global de anos atrás. “O que vimos em março de 2020 não é diferente do que aconteceu em 2007, exceto que foi mais rápido, mais profundo e muito mais difundido”, conta Lo.

Em entrevista, Zura Kakushadze, presidente da Quantigic Solutions, reforçou a tese de que nem a IA pode salvar investidores diante de uma volatilidade como a observada na pandemia do coronavírus. “Não me importo se você está utilizando inteligência artificial, machine learning ou qualquer outra coisa. Você vai quebrar, independente de tudo”, afirmou.

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Tecnologias como inteligência artificial e machine learning têm sido cada vez mais usadas no mercado de investimentos. Foto: Unsplash

Casos isolados

Ainda assim, foi possível observar alguns fundos que tiveram resultados positivos diante da pandemia. O Medallion, por exemplo, apresentou crescimento de 9% em março e registra ganhos de 24% até o momento. O Brasil ainda apresenta pouca exploração do modelo de investimento. No entanto, o fundo quantitativo Seival FGS Agressivo, que realiza aplicações em índices de ações, moedas, commodities e taxas de juros, registrou ganhos de 29% entre fevereiro e março.

Via: Wired

Colaboração para o Olhar Digital

Igor Shimabukuro é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital