O WhatsApp realizou hoje o seu primeiro evento voltado para a imprensa no Brasil. Executivos da empresa falaram sobre a importância do país para suas operações e sobre os casos de bloqueio do aplicativo pela Justiça brasileira.
De acordo com Ehren Kret, o gerente de desenvolvimento de software do WhatsApp, 94% dos usuários brasileiros do app consideram seu recurso de criptografia importante, e 71% usam-no para enviar mensagens com dados pessoais sensíveis. “Nós já somos uma parte importante das comunicações cotidianas das pessoas, mas estamos apenas começando”, disse.
Recentemente, a empresa divulgou que o aplicativo tem mais de 120 milhões de usuários no Brasil. De fato, Mark Kahn, o responsável pela área jurídica do aplicativo, disse que “o Brasil é um mercado extraordinariamente importante para o WhatsApp”.
Kret informou que a empresa pretende desenvolver o WhatsApp para que ele também se torne uma maneira de empresas e serviços se comunicarem com seus clientes. O WhatsApp não informou de que forma pretende fazer isso, e disse que por enquanto não tem planos de lançar funções de suporte a bots ou APIs que permitam integrar o app a outros serviços.
No entanto, Matt Steinfield, o gerente de comunicações e relações públicas da empresa, garantiu que isso não transformará o WhatsApp numa plataforma de propagandas, e que o serviço oferecido aos usuários continuará idêntico. Eventualmente, as empresas que quiserem usar os recursos do app poderão ser cobradas, mas os usuários, não.
Criptografia absoluta
Desde abril do ano passado, o WhatsApp passou a oferecer criptografia ponta-a-ponta a todos os seus usuários. De acordo com Kret, esse era um desejo que o fundador do aplicativo, Jan Koum, tinha desde que lançou a primeira versão do app. Koum nasceu e cresceu na Ucrânia quando ela ainda era parte da União Soviética, e dizia, segundo Kret, que cresceu “numa sociedade onde tudo era espionado”.
Agregar esse tipo de criptografia ao app, de acordo com o gerente de software, foi a maior implementação dessa tecnologia na história. Inicialmente, o recurso foi chegando aos poucos aos usuários. Mas o app tem um sistema de funcionamento que obriga usuários a atualizá-lo ao menos a cada seis meses. Por isso, Kret afirmou que atualmente todos os usuários do WhatsApp já usam criptografia ponta-a-ponta. “Nosso servidor já nem está mais configurado para receber mensagens descriptografadas”, disse.
O aplicativo usa o protocolo Signal, desenvolvido pela Open Whisper Systems. O protocolo é amplamente considerado na indústria como a forma mais segura de comunicação, e passa por revisões constantes de terceiros. “Com o máximo de poder computacional disponível hoje, levaria milhões de anos para descriptografar uma das nossas mensagens. E seria necessário repetir o processo para cada mensagem que você quisesse ler”, disse Kret.
Como a mensagem fica criptografada nos servidores da empresa, nem mesmo o WhatsApp consegue ler sobre que seus usuários conversam. E, caso eles fossem hackeados, os hackers também precisariam descriptografar as mensagens. Conversas de áudio e vídeo funcionam da mesma maneira. “É como se nosso servidor fosse um túnel que isolasse as pessoas que conversam do resto do mundo”, explica Matt Steinfield.
Na época em que o app começou a liberar a criptografia ponta-a-ponta para seus usuários, o Olhar Digital fez um vídeo explicando como a tecnologia funciona. Você pode vê-lo abaixo:
Justiça brasileira
Esse método de garantia do sigilo das mensagens que já levou o WhatsApp a ter problemas com a Justiça brasileira mais de uma vez. Em três ocasiões diferentes, o aplicativo foi bloqueado em todo o território nacional por conta da incapacidade da empresa de fornecer às autoridades informações referentes a investigações.
Mark Kahn, o responsável jurídico do WhatsApp, afirma que a empresa “respeita muito o trabalho da polícia e quer ajudar da maneira que for possível”, mas não pode desfazer a criptografia do aplicativo. “Criar uma maneira de furar a criptografia do WhatsApp enfraquece o aplicativo para todo mundo, e nos deixa vulnerável a hackers”, explica Kret.
Os executivos estão no Brasil para uma audiência com o Supremo Tribunal de Justiça em Brasília amanhã. Na ocasião, Kahn afirma que pretende mostrar às autoridades a importância do aplicativo e a inviabilidade de se furar sua criptografia, além de deixar claras as maneiras como o app pode cooperar com a Justiça sem prejudicar seus usuários. “A última coisa que nós queremos é ser bloqueados de novo por aqui”, diz.
Ainda segundo Kahn, o aplicativo já teve problemas com a Justiça em outros países, mas por outras questões; com relação à sua criptografia, o Brasil foi o único país a ter uma questão jurídica dessa proporção. Kahn ressalta, porém, que nunca houve um caso em que a empresa teve que quebrar a própria criptografia. “Somos uma empresa dos Estados Unidos, e nem mesmo lá nós já tivemos que quebrar nossa própria criptografia”, diz.