A Uber anunciou ontem que pretende rever o uso da ferramenta Greyball, um software que permite que diferentes usuários vejam versões diferentes de seus aplicativos. Dentre outros usos, essa feramenta era utilizada para ajudar a Uber a “fugir da polícia” enquanto operava em regiões onde era ilegal.
É justamente esse tipo de uso que será descontinuado pela empresa. “Estamos expressamente proibindo seu uso [da Greyball] sobre a ação de reguladores locais daqui para frente”, disse Joe Sullivan, o diretor de segurança da empresa, no comunicado.
Fungindo da polícia
De acordo com o CNET, policiais em algumas cidades nas quais o Uber opera ilegalmente usam o aplicativo para multar os motoristas. Os oficiais acionam o app em busca de um carro e, assim que ele chega, ocorre a autuação. No entanto, para fazer isso, eles ficam chamando vários carros em sequência – um padrão de uso do aplicativo que o Greyball conseguia identificar.
Quando a ferramenta identificava esse padrão de uso, passava a mostrar àquele usuário uma versão diferente do Uber. Assim, segundo o New York Times, os policiais viam um mapa sem carros ao abrir o app, e os motoristas que eles conseguiam chamar rapidamente cancelavam a corrida. A primeira vez que a empresa usou o Greyball dessa maneira, segundo o Times, foi em Portland, em 2014.
Práticas questionáveis
Naturalmente, essa prática chamou a atenção dos reguladores de maneira muito negativa. Dois dias antes do anúncio da Uber de que deixaria de usar a Greyball dessa maneira, oficiais de Portland solicitaram uma investigação sobre a empresa para averiguar a prática. Uma legisladora holandesa do Parlamento Europeu também já chegou a levar a questão à Comissão Europeia.
Para a empresa, portanto, há bons motivos legais para deixar de fazer isso. No entanto, há questões mercadológicas envolvidas também. Desde o começo do ano, o aplicativo Uber já sofreu dois boicotes, sendo que só o primeiro deles fez o serviço perder mais de 200 mil usuários. O segundo, motivado por denúncias de machismo sistemático na empresa feitas por uma ex-engenheira, agravou o dano, e a empresa precisou até mesmo criar um sistema separado de exclusão de contas.
Outros usos
Isso tudo não significa, porém, que a empresa deixará de usar a Greyball totalmente. Ainda segundo seu comunicado, a plataforma também é usada para oferecer promoções, testar novos recursos, prevenir fraudes e proteger a segurança dos motoristas. Essas utilizações da ferramenta usam o mesmo princípio de identificação de padrões de uso, mas não deverão sofrer alterações.
Mesmo assim, a empresa informou que a interrupção do uso da Greyball para fugir da polícia levará algum tempo para entrar em efeito, “devido à maneira como nossos sistemas estão configurados”. Quando o New York Times quis saber exatamente o porquê da demora, um porta-voz da Uber se negou a comentar de maneira mais aprofundada.