A crise da Uber piorou nas últimas horas com o anúncio de que Jeff Jones, presidente da companhia e de seu negócio de caronas compartilhadas, está de partida — e justamente por causa dos diversos problemas que acometeram a Uber nos últimos meses.

A notícia da saída foi reportada pelo Recode e depois confirmada tanto pelo executivo quanto pela Uber. De acordo com fontes do site, Jones decidiu sair por ter se desencantado com a cultura da empresa, o que ficou claro em um comunicado enviado por ele ao mesmo Recode:

“Me juntei à Uber por causa da sua missão e do desafio de construir capacidades globais que ajudariam a companhia a amadurecer e crescer a longo prazo.

“Está claro agora, no entanto, que as crenças e abordagens de liderança que têm guiado minha carreira são inconsistentes com o que eu vi e vivi na Uber, e eu não posso mais continuar como presidente do seu negócio de corridas.”

Ex-diretor de marketing da Target, Jones passou apenas seis meses na Uber, tempo que usou para se aproximar dos motoristas e realizar um estudo aprofundado sobre a reputação da marca da empresa. O próprio CEO, Travis Kalanick, em carta enviada a seus funcionários, reconhece que o ex-presidente causou um “importante impacto na companhia”, em parte por sua “obsessão” em relação aos motoristas.

Sequência negativa

O descontentamento do executivo está ligado a uma nuvem de problemas que paira sobre a Uber. A empresa recebeu mais de uma acusação de omissão sobre assédio moral e sexual, o que levou à exposição de uma cultura sexista que causou demissões e até a contratação do ex-advogado geral dos Estados Unidos para condução de uma investigação. Um dos diretores de engenharia da Uber, inclusive, foi dispensado após a revelação de que ele estava sendo investigado pelo seu empregador anterior justamente devido a acusações de assédio sexual.

Antes disso, porém, a Uber já tinha enfrentado uma campanha de boicote porque seu sistema aumentou os preços das corridas durante um protesto de taxistas nos EUA contra a legislação que endureceria o processo imigratório no país. A ação foi tão feroz que a empresa teve de automatizar o processo de descadastramento — mais de 200 mil usuários partiram.

Depois, como se tudo isso não fosse ruim o bastante, a Uber passou a ser atacada judicialmente pelo Google e agora vê seus planos de lançar serviços baseados em carros autônomos ameaçados. Isso porque boa parte de seus engenheiros nessa área vieram de uma empresa fundada por ex-empregados de uma empresa que hoje pertence ao Google, que acusa essas pessoas de terem roubado suas tecnologias. Em suma, o Google diz que a Uber não pode colocar carros autônomos da rua porque eles estão sendo desenvolvidos com base em roubo de propriedade intelectual.

Em meio a esse furacão, Travis Kalanick anunciou que precisava de ajuda para aprender a liderar e que faria isso através da contratação de um diretor de operações. Essa pessoa acabaria disputando espaço com Jones, o que teria incomodado o então presidente. Kalanick até traça uma relação implícita entre esses fatores em sua carta aos funcionários, na qual diz que a “difícil decisão” de Jones foi tomada após o anúncio de que a Uber estava em busca de um COO. O Recode afirma, no entanto, que não foi esse o motivo da partida, e sim o fato de que Jones “não gosta de conflitos”.