A polícia alemã usou técnicas de realidade virtual para condenar o criminoso de guerra nazista reinhold Hanning pelo seu papel no assassinato de 170 mil pessoas no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau durante o governo nazista na Alemanha. Segundo a AFP, com o auxílio da técnica, o nazista de 94 anos foi condenado a cinco anos de prisão.

Uma equipe de investigadores da delegacia criminal da Bavária (LKA) liderada por Ralf Breker construiu um modelo em realidade virtual do campo de concentração na época do genocídio. O modelo foi criado com base em mais de mil imagens de arquivo e mapas da época. O vídeo abaixo mostra o modelo em funcionamento:

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Esses materiais foram complementados com informações que Breker colheu em duas viagens a Auschwitz. Com a ajuda de um scanner 3D, ele e um colega conseguiram criar modelos dos poucos prédios que restaram inteiros do campo. Durante a recuada do exército nazista após a chegada do exército soviético, os nazistas demoliram muitos dos edifícios para acabar com rastros de seus crimes.

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O que os nazistas viam

Criado o modelo tridimensional, os investigadores puderam usar o equipamento de realidade virtual HTC Vive para explorar a Auschwitz da década de 1940. Segundo Breker disse à NBC News, “o modelo pode ser usado em julgamentos para responder à objeção de suspeitos que alegam não ter visto execuções ou marchas até a câmara de gás de seus postos de trabalho”.

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É frequente no julgamento de nazistas que eles aleguem não saber o que acontecia no campo onde trabalhavam, segundo Breker. “A vantagem desse modelo é que eu consigo ter uma visão geral do campo e consigo ver da perspectiva de um suspeito, por exemplo em uma torre de guarda”, disse. Usando essa técnica, é possível desmentir nazistas que afirmavam não ter visto o que acontecia no campo.

“Não há palavras”

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Breker já utilizava essa técnica de modelagem de cenas de crimes em realidade virtual para resolver casos atuais. O primeiro caso de uso dessa tecnologia foi em 2014, para investigar o caso reaberto de um ataque de extrema direita que matou treze pessoas durante uma Oktoberfest na década de 1980.

No entanto, o investigador considerou que esse projeto foi “uma das tarefas mais difíceis que ele já teve”. “Quando eu voltava para o meu quarto de hotel a cada noite depois de estar em Auschwitz, eu estava acabado. Nós passávamos cada dia com o diretor do arquivo de Varsóvia e ele nos dava detalhes extremamente chocantes”, disse. 

Por exemplo, em determinada ocasião, o volume de pessoas assassinadas foi tão grande que fez com que as chaminés dos fornos de cremação rachassem. “Os homens da SS [Schützstaffel, exército nazista] então criaram ralos para colher a gordura dos corpos queimados, e usavam-na para alimentar o fogo da próxima leva de corpos. Realmente não há palavras para isso”, conta Breker.

Futuro

A caça a nazistas na Alemanha é chefiada por Jens Rommel, que lidera um escritório federal dedicado a isso. Segundo Rommel, ainda há um “número de dois dígitos” de nazistas vivos que podem ser acusados com a ajuda do modelo criado. Segundo Breker, “não há modelo mais exato de Auschwitz [do que esse] ao meu conhecimento”.

O investigador acredita que “em dois ou três anos, será possível entrar virtualmente na cena de qualquer crime sério”. Com relação ao modelo de Auschwtiz, no entanto, ele é mais cuidadoso. Uma vez encerradas as investigações sobre os crimes do campo, o futuro do modelo é incerto.

Isso porque, segundo Breker “nós teríamos que ter muito cuidado para que ninguém o roubasse – o abuso dos dados seria um pesadelo”, argumenta. Ainda assim, a LKA já sinalizou que poderia emprestar o modelo ao museu Yad Vashem de Israel, segundo o Engadget. O museu é um memorial do holocausto, e poderia usar o modelo para mostrar em realidade virtual o ambiente horrendo.