Quer pegar empréstimo pela internet? Conheça prós e contras

Redação22/03/2017 20h29, atualizada em 04/04/2017 13h50

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Se você já usou o Uber para chamar um carro ou o Airbnb para achar um lugar para passar as férias, sabe que a internet oferece novas e práticas maneiras de fazer coisas que já fazíamos antes. O mercado de empréstimos não ficou de fora da revolução online: hoje é possível conseguir dinheiro emprestado sem sair de casa, em até dois dias úteis.

É isso o que prometem sites como Lendico, Geru e Simplic. Com páginas simples e diretas, eles abrem as portas para que o usuário solicite empréstimos de até R$ 50 mil e, logo de cara, é possível fazer simulações nos sites com a quantia e o prazo de pagamento desejados para ver como ficariam as parcelas.

As taxas de juros costumam ser menores que as dos bancos. Se nas instituições bancárias elas vão de 4% a mais de 6% ao mês, dependendo do caso, serviços como o Geru e a Lendico prometem taxas de 3% ao mês ou até menos. Mas como isso é possível?

Tiro certeiro

De acordo com Marcelo Ciampolini, um dos fundadores da Lendico no Brasil, a prática de taxas menores de crédito é possível graças a dois fatores: custos fixos reduzidos e assertividade na seleção de pessoas que receberão empréstimo.

O primeiro desses fatores é fácil de se explicar: enquanto bancos tradicionais precisam manter centenas de agências e contas, a Lendico tem um gasto muito menor. “Nossa operação no Brasil inteiro é feita a partir de um escritório”, comenta Ciampolini. Essa redução de custos permite que a empresa se mantenha rentável mesmo cobrando uma taxa de juros menor de seus clientes.

Já o segundo fator dessa equação faz mais diferença no longo prazo. Segundo Ciampolini, a Lendico só aprova empréstimos para perfis com risco baixo de inadimplência: em outras palavras, só quem tem chance alta de pagar o empréstimo recebe o dinheiro.

Sandro Reiss, fundador da Geru, também reconhece a importância da seletividade na hora de escolher quem vai receber empréstimos. A empresa tem um “modelo proprietário” de crédito que tira proveito do fato de que, “hoje em dia, todo mundo deixa uma pegada digital”, o que permite que a empresa use dados “alternativos” para montar um perfil de crédito para seus clientes.

“Um banco normal corre mais riscos e precisa cobrar mais juros para fechar a conta. Assim, o bom pagador acaba pagando pelo mau pagador”, comenta Ciampolini. Este cenário, entretanto, não acontece nessas empresas, porque elas evitam os maus pagadores tanto quanto possível. O lado negativo para o público é que é bem mais difícil ter seu pedido aprovado junto a elas: de acordo com Ciampolini, apenas cerca de 5% das pessoas que pedem empréstimo por meio do site têm a solicitação atendida.

A Creditas, por outro lado, consegue atender mais gente, mas com um porém incômodo. A empresa oferece empréstimos de valores maiores pedindo como garantia um imóvel ou automóvel do tomador de crédito. Segundo o sócio-diretor da empresa, Felipe Zullino, é essa garantia – junto a um sistema de uso de dados – que permite que eles ofereçam taxas menores e prazos maiores que a concorrência.

Fluxograma do empréstimo

Como a empresa sabe quem vai pagar e quem não vai? Aqui, novamente, entra a magia da tecnologia. Todas elas contam com algoritmos que conseguem extrair uma série de informações sobre o solicitante para criar um perfil dele com base no qual o empréstimo é concedido ou negado. O “modelo proprietário” da Geru é algo desse tipo, e cada empresa tem o seu. E, como se pode imaginar, a precisão é essencial para o sucesso da operação.

Ao se cadastrar no site, o usuário precisa criar um login fornecendo dados como CPF, nome da mãe, emprego, renda e motivo do empréstimo. Com base nessa informação, o algoritmo busca mais dados sobre a pessoa: informações do Serasa (o “principal fator”, segundo Zullino), perfil de navegação na internet e comportamento nas redes sociais são alguns dos fatores analisados nessa etapa – as “fontes alternativas” de informação mencionadas acima.

Se, no fim desse cômputo, o algoritmo considerar que o nível de risco daquele perfil é alto, o empréstimo é negado. Caso contrário, o algoritmo continua a buscar: essa pessoa já está endividada? Ela costuma honrar suas dividas? Nesse momento, o usuário precisa mostrar a movimentação de suas contas nos últimos meses. O algoritmo avalia as finanças da pessoa para ver se ela tem como pagar pelo empréstimo. Se a análise concluir que o risco de inadimplência é baixo, o programa calcula a taxa de juros e faz uma proposta à pessoa. Embora seja complexo, todo o processo é feito em questão de minutos.

Há, ainda, um último empecilho: antes de o empréstimo ser concedido, o solicitante precisa provar que esses dados são verdadeiros. Para isso, é necessário enviar (eletronicamente) documentos como comprovante de renda e de residência. Não se trata de uma formalidade: segundo Ciampolini, 40% das pessoas aprovadas dizem ter renda até 40% superior do que têm de fato. Quando isso se revela, a taxa de juros precisa ser recalculada. Se tudo estiver certo, então o acordo é finalmente fechado.

Reprodução

Aquela forcinha

Felipe Garcia passou por um processo semelhante a esse quando solicitou seu empréstimo junto à Creditas. Como já explicamos, trata-se de uma plataforma digital de empréstimos que disponibiliza valores mais altos e pede imóveis ou veículos como garantia do pagamento. Oferecendo o carro como garantia, Garcia conseguiu um empréstimo de R$ 20 mil a juros de 2,8% ao mês; nos bancos, todas as taxas que ele havia encontrado superavam 4%.

Garcia ficou com um pé atrás quando ouviu falar desse tipo de serviço pela primeira vez. “Eu não acreditava, achava que era falcatrua”, comentou. No caso dele, havia uma oportunidade à vista: ele trabalhava vendendo bonés há 5 anos na cidade de Aparecida, no interior de São Paulo, e recentemente havia entrado em contato direto com os fabricantes. Eles lhe permitiriam adquirir um lote maior por um preço vantajoso – se ele pudesse pagar.

Diante da oportunidade de conseguir margens de lucros maiores, ele se informou melhor e resolveu pesquisar opções de empréstimo. Não ficou satisfeito com as propostas dos bancos, mas resolveu apostar no novo modelo de empréstimo. “É bem aquilo mesmo que está no site”, conta. Embora o processamento de seus documentos tenha demorado, ele considerou que a solução foi bem melhor que a de um banco tradicional, tanto pelos juros mais baixos quanto por evitar a burocracia das agências bancárias.

Olhando minhas contas

Se o perfil do usuário não é eliminado nas primeiras etapas, eventualmente ele precisará fornecer informações bancárias à Lendico. Esses dados permitirão à empresa analisar os hábitos financeiros do interessado no crédito. Isso não seria uma infração do sigilo bancário das pessoas? Ciampolini diz que não é o caso, já que “a própria pessoa permite que a gente faça a consulta”. Caso essa consulta fosse feita sem autorização, aí sim seria uma infração de sigilo bancário. No entanto, como o usuário disponibiliza os dados por sua própria vontade, não há irregularidade.

Para Reiss, fundador da Geru, a empresa faz um “esforço sobre-humano para proteger a integridade dos dados” de seus clientes. E não é para menos: é fácil imaginar o problema que a empresa teria nas mãos caso os dados que ela possui sobre seus clientes vazassem na internet. É uma “preocupação tremenda”, avalia ele sobre a privacidade dos usuários.

Tome cuidado

A objetividade, clareza e rapidez que esses serviços oferecem fazem com que, hoje em dia, pegar um empréstimo seja mais fácil do que jamais foi – e isso pode ser perigoso, segundo Marcia Tolotti, que é psicanalista, economista e parte da equipe de consultoria GC-5.

Ela alerta que a comunicação e as estratégias de marketing desses sites têm diversas características comuns: focam-se em jovens, mostram pessoas felizes, ressaltam a atratividade das taxas praticadas (“todos dizem ter as taxas mais baixas do mercado”), a facilidade e a “inteligência” daquela solução. Na visão dela, o objetivo é “transformar algo sério em algo banal” e apelar para o viés do impulso.

O fato de esses serviços serem online também acaba reforçando essa intenção, dando às plataformas uma roupagem “moderna” e “jovem”, além de criar ilusão de coletividade, de que a pessoa que pretende tomar o empréstimo “não está sozinha”. Se a experiência de ir a um banco pedir empréstimo pode ser intimidante, fazê-lo por meio da internet é quase reconfortante e – preocupantemente – positiva, opina Tolotti.

Com essa imagem positiva que os empréstimos ganham, o risco de que a pessoa fique superendividada cresce, o que também aumenta a chance de que ela não pague o que deve. Além de ser um problema para ela, a inadimplência, segundo Tolotti, é também um problema social: a conta pode acabar caindo nas costas de fiadores ou parentes daquela pessoa, muitos dos quais nem mesmo se beneficiaram do empréstimo.

Não é só isso: “Ninguém endividado trabalha bem”, ressalta a psicanalista. Os impactos pessoais da inadimplência podem se traduzir, no trabalho, em ausências, desatenção generalizada, queda de produtividade e, em alguns casos, até mesmo em acidentes de trabalho.

Quando e de onde

Por isso, Tolotti defende que é necessário tomar cuidado na hora de pegar um empréstimo. Para ela, empréstimos “servem para fomentar a geração de renda, e não para consumo”. Em outras palavras: você pode tomar um empréstimo para comprar uma máquina de costura (que lhe permitirá costurar e vender roupas) ou uma moto (que lhe permitirá realizar entregas) ou até mesmo para fazer um curso profissionalizante.

Tomar um empréstimo para comprar um celular, por exemplo, é uma decisão equivocada, segundo ela. Esse também pode ser o caso de um empréstimo tomado para quitar dívidas advindas de um padrão de consumo que a pessoa não tem condição de manter – mesmo que o empréstimo substitua uma dívida de juros altos por outra de juros menores. “O empréstimo tem que ajudar a pessoa a aprender uma lição”, diz.

Essa lição pode ser difícil de se digerir, mas ao que parece muitas pessoas estão tendo que aprendê-la: de acordo com Reiss, mais de 60% dos empréstimos concedidos pela Geru têm o mesmo motivo: renegociar dívidas. Dívidas de cartão de crédito, por exemplo, costumam ter juros extremamente altos – acima dos 400% por ano. Por isso, “trocar” essas dívidas por outras com juros menores é uma atitude relativamente positiva.

A recomendação é que o interessado em pegar empréstimo investigue se o fornecedor que lhe interessou é autorizado pelo Banco Central, leia o contrato com atenção e confira a taxa mínima da instituição. E também é recomendável ficar atento às ofertas mirabolantes: “Ainda é muito mais fácil cair em golpe na internet do que na vida real”, diz.

O fundador da Geru sugere dicas práticas que podem evitar situações desse tipo. A primeira delas é tomar cuidado com o certificado do site: olhar sempre no navegador para ver se a página tem o cadeado verde ao lado do nome (o que indica segurança) e não entrar em sites suspeitos. Ele recomenda também que o cliente investigue a “presença digital” da empresa antes de se comprometer com ela, visualizando sua página nas redes sociais e sua reputação junto a sites como o Reclame Aqui. Além, é claro, de nunca enviar pagamentos antecipados.

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Colaboração para o Olhar Digital

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