Com o iOS 13, a Apple implementou um recurso importante de privacidade. O iPhone passou a avisar usuários sobre aplicativos que monitoram sua localização muito frequentemente, oferecendo uma opção simples para impedir a prática se a coleta de dados for um incômodo. Ao que tudo indica, desenvolvedores de apps não estão muito felizes com essa função.

Pelo fato de que muitos aplicativos se valem da coleta de localização do usuário em segundo plano, esses pop-ups se tornaram bastante comuns na vida dos usuários de iPhone. A preocupação dos desenvolvedores é que esses avisos recorrentes acabem afastando os usuários mais preocupados com a privacidade.

As ações da Apple têm um objetivo claro: impedir a coleta indevida de dados de usuários por empresas que só querem essas informações para vendê-las a anunciantes. Um efeito colateral, no entanto, é o fato de que existem apps legítimos que dependem da localização para funcionar corretamente, e essa decisão afeta diretamente seu modelo de negócios.

Ainda em agosto deste ano, várias empresas coescreveram uma carta a Tim Cook, CEO da Apple, falando sobre as dificuldades que o novo recurso traria para seus negócios. Como relata o Wall Street Journal, entre essas empresas estava a Life 360, que fornece um serviço para que familiares possam saber a localização uns dos outros, com a possibilidade de chamar uma ambulância em caso de emergência.

E as empresas têm motivos para estarem preocupadas com essa transição. Segundo uma estimativa da Location Sciences, uma empresa que verifica dados de localização, dezenas de milhões de pessoas já bloquearam o acesso de aplicativos aos seus dados de localização com o iOS 13. Além disso, o volume desse tipo de coleta diminuiu drasticamente, na casa de 70%, porque as pessoas preferem que as informações só sejam acessadas pelos apps quando eles estão em uso, e não quando estão em segundo plano.

Existe um motivo secundário para que empresas como a Life 360 se sintam incomodadas com a decisão da Apple. Boa parte das empresas que oferecem serviços que dependem da localização competem com o sistema “Find My iPhone”, da própria Apple, que coleta dados de geolocalização dos usuários sem emitir qualquer tipo de aviso. As empresas podem interpretar essa decisão como uma prática anticompetitiva.

A Apple, por sua vez, defende sua decisão afirmando que desenvolve seu hardware, software e seus apps pensando na privacidade. “A Apple não construiu um modelo de negócios que envolva saber a localização de um consumidor ou de seus dispositivos”, diz um representante da companhia.

Mas adianta?

No fim das contas, faz alguma diferença o usuário bloquear ou limitar o acesso aos seus dados de localização? Possivelmente, não. Isso porque um usuário pode bloquear o acesso de um aplicativo aos seus dados, mas liberar para outros. Como explica Bharad Ramash, diretor da agência de publicidade PHD Media, isso faz com que seus dados de localização ainda estejam disponíveis para direcionamento de anúncios.