Em janeiro de 2000, o Yahoo chegou a valer US$ 125 bilhões. Em 2008, a Microsoft fez uma oferta para comprar a empresa por US$ 45 bilhões. Hoje, o Yahoo foi vendido para a operadora de telecomunicações Verizon por US$ 4,83 bilhões. É fácil ver, portanto, que a empresa passou por uma enorme catástrofe financeira ao longo dos últimos dezesseis anos.
Essa perda imensa de valor foi resultado não apenas de uma série de apostas do Yahoo que não deram certo, mas principalmente de uma falta de ação da empresa diante de um mercado que mudava muito, e muito rapidamente. Abaixo, nós analisamos algumas das causas da desvalorização monstruosa do Yahoo:
Bolha da internet
O Yahoo foi fundado em 1994. O nome Yahoo significava “Yet Another Hierarchically Organized Oracle”, ou “Mais um oráculo organizado hierarquicamente”. Isso porque o site nada mais era que uma lista de sites. Naquela época, como ainda não havia muitos serviços de busca, descobrir um site novo era difícil, e listas de sites interessantes como o Yahoo eram muito valiosas.
Por esse motivo, o Yahoo se tornou bastante popular, e em 1998 ele era o “portal” mais popular da internet. Sua página inicial tinha quase 100 milhões de visualizações diárias e mais de 30 milhões de visitantes diferentes por mês, segundo a BBC. Em um trimestre, a receita da empresa chegou a aumentar 200% com relação ao mesmo período do ano anterior.
Esse crescimento astronômico, porém, foi ao menos em parte causado pelo que ficou conhecido como a “bolha da internet”, ou a “bolha.com”. Na virada da década de 90 para os anos 2000, muitos investidores estavam dispostos a jogar seu dinheiro em qualquer empresa que tivesse uma relação mínima com a internet, na expectativa de que elas gerariam lucros algum dia. Para muitas dessas empresas, contudo, isso não aconteceu.
Quando algumas empresas supervalorizadas começaram a falir, os investidores tiraram seu dinheiro das empresas desse ramo, o que fez com que seu valor de mercado despencasse. O própria Yahoo, cujas ações chegaram a valer US$ 118,75 em janeiro de 2000, chegou a setembro de 2001 negociando seus papéis a US$ 8,11 – menos de um décimo do valor.
Isso não significou, porém, que a empresa estivesse particularmente mal. Os negócios do Yahoo naquela época continuavam a gerar receita e lucro, mesmo com o crescimento do Google. A empresa passou a usar o Google para buscas em 2000, mas desenvolveu sua própria tecnologia de buscas e passou a implementá-la em 2004. Em 2007, ela ofereceu armazenamento ilimitado aos seus clientes de e-mail para fazer frente ao Gmail.
Redes sociais
Na metade da década de 2000, o cenário da internet começou a mudar drasticamente por causa das redes sociais. Sites como o Myspace, Orkut, Twitter e, mais tarde (mas principalmente) o Facebook mudaram radicalmente as formas como as pessoas interagiam na internet, e como elas chegavam a novos sites.
Essa foi uma mudança que o Yahoo simplesmente não acompanhou. Enquanto o Facebook crescia vertiginosamente, outras gigantes da internet faziam o possível para se adaptar a essa mudança – o Google, por exemplo, até tentou ter a sua própria rede social. Com o tempo, a empresa foi se focando cada vez mais na tecnologia de publicidade online que era sua principal fonte de receita.
A tentativa do Yahoo de ter alguma grande plataforma social só viria muito mais tarde: em maio de 2013, a empresa pagou US$ 1,1 bilhão no Tumblr. Esse acordo, no entanto, não teve os resultados esperados. Embora a aquisição tenha feito com que o tráfego na rede social crescesse de maneira expressiva (crescendo cerca de 33% em menos de um ano, segundo a Fortune), esse crescimento não se reverteu em receita para a empresa.
Foi o primeiro sinal de que a empresa não estava acompanhando as tendências mais recentes do mercado da internet. Para um site que começou como uma lista de sites e evoluiu para um portal, o processo de descentralização que as redes sociais trouxeram foi relativamente desestabilizante. Essa situação, no entanto, só pioraria.
Internet móvel
Outra mudança radical que o Yahoo não conseguiu acompanhar foi a dos smartphones. Desde o lançamento do primeiro iPhone em 2007, a forma como as pessoas acessavam a internet começou a mudar. E não se tratava apenas de uma mudança de dispositivo que as pessoas usavam, mas na maneira como elas esperavam obter informação.
Nos smartphones, os usuários passavam menos tempo navegando” na internet e mais tempo utilizando aplicativos dedicados dos sites e serviços que utilizavam com mais frequência. Um portal como o Yahoo, no qual esperava-se que as pessoas passassem bastante tempo, não tinha a mesma eficiência de um aplicativo de notícias com feed personalizado, por exemplo.
E essa mudança se associou às redes sociais para agravar ainda mais essa situação. Primeiramente, porque muitas vezes aquilo que as pessoas buscavam estava na própria rede social: notícias dos amigos e postagens de páginas que elas seguiam, por exemplo.
Mas também porque, mesmo nos casos em que as pessoas chegavam até um site, elas viam o site como uma espécie de “extensão” das redes sociais. Portais de notícia precisavam, portanto, usar as redes como plataformas para trazer audiência até si – não era mais apenas o caso de ser a “página inicial” do usuário. Mas o Yahoo não fez isso.
A empresa também não conseguiu aproveitar os dados gerados pelas redes sociais para melhorar o seu serviço de publicidade. Isso, associado ao fato de que a audiência dos sites e o uso dos serviços do Yahoo seguiam caindo, fez com que o valor de mercado da empresa despencasse.
Desvalorizada
Esses são alguns dos motivos que indicam por que o Yahoo se desvalorizou tanto nos últimos dezesseis anos. Não é que seu negócio tenha mudado radicalmente – esse é o principal problema, aliás, segundo o TechCrunch. Quando o Yahoo surgiu, a internet era uma coisa inteiramente diferente do que ela é hoje, e o serviço que a empresa prestava era, de fato, muito valioso.
Atualmente, no entanto, é de fato difícil enxergar valor no trabalho que a empresa faz. Os produtos e serviços da empresa, na maioria das vezes, passam longe do padrão de uso de internet de um usuários mais comum. Comparado ao que a empresa representava no fim da década de 90, isso realmente é muito pouco.
Além de seu negócio principal, o Yahoo também tinha ações no gigante chinês Alibaba e no Yahoo Japan, que pertence a outro grupo. Esses investimentos não foram incluídos na venda para a Verizon, e valem quase dez vezes mais do que a Verizon pagou pelo negócio principal do Yahoo. Quando olhamos para a trajetória da empresa nos últimos anos, no entanto, não é difícil entender o porquê.