A ex-CFO da Huawei e filha do fundador da empresa, Meng Wanzhou, voltou aos tribunais, pela primeira vez desde maio deste ano, para novamente defender-se de acusações de fraude e violação de sanções internacionais ao fazer negócios com o Irã por meio de uma empresa fantasma. Ela foi originalmente presa em 2018, no Canadá, durante a execução de um mandado de busca emitido pelos Estados Unidos.

Wanzhou pode acabar sendo extraditada para o país governado por Donald Trump caso não consiga provar a sua inocência. Durante a audiência de ontem (28), a executiva sênior da Huawei, por meio de sua equipe de defesa, argumentou que os documentos de acusação sumarizam em demasia toda a situação, acusando os Estados Unidos de “escolher e omitir” evidências referentes ao caso.

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Meng Wanzhou, CFO da Huawei: executiva de 48 anos pode ser extraditada aos EUA se acusações de fraude internacional forem comprovadas. Imagem: The Globe and Mail/Reprodução

A acusação formalmente alega que Wanzhou (48) usou uma empresa fantasma chamada Skycom para vender equipamentos de telefonia e rede da Huawei para o Irã, apesar de sanções comerciais impostas pelos EUA estarem em vigor. Segundo a promotoria, a CFO cometeu ato de fraude ao mentir à divisão de investimentos do banco HSBC sobre seus negócios no país, ao supostamente não informar ao banco que a Huawei é a controladora da Skycom.

A defesa da executiva alega que a acusação é baseada em uma apresentação de PowerPoint com data de agosto de 2013, feita a um executivo do banco durante um almoço corporativo. O advogado Scott Fenton argumentou que a promotoria “escolheu slides específicos” da apresentação para montar a base de suas acusações, porém se a apresentação inteira fosse exibida, todos veriam que Wanzhou menciona a Huawei e a Skycom como “uma relação normal e controlável”.

O advogado de defesa ainda afirmou que Meng Wanzhou entregou informações suficientes ao HSBC para que o banco tomasse suas próprias decisões: “Ela lhes disso tudo o que precisavam saber para medir os riscos relacionados às sanções”, ele disse. A executiva, presente durante a audiência, usava um dispositivo eletrônico de rastreamento como parte do acordo feito para aguardar o processo em liberdade. Atualmente, ela está impossibilitada sair dos EUA, vivendo em prisão domiciliar controlada (quando a acusada pode transitar livremente, sem deixar a cidade nem usar dispositivos eletrônicos).

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O presidente americano, Donald Trump, segue em uma guerra comercial contra a China, na qual a prisão de Meng Wanzhou foi um capítulo bastante destacado. Imagem: Evan El-Amin/Shutterstock

Os advogados de defesa pedem pela paralisação do processo de extradição de sua cliente, alegando que as autoridades cometeram diversos abusos de poder. Segundo eles, os agentes do órgão de fiscalização de fronteiras do Canadá questionaram Meng Wanzhou sem a presença de um advogado, além de forçá-la a entregar seus equipamentos eletrônicos (tablets, notebooks, celulares…) e ser coagida a fornecer senhas de acesso a eles antes da prisão ser efetuada. A defesa ainda afirma que os agentes canadenses agiram a serviço do FBI estadunidense, que buscava informações sigilosas contidas dentro dos aparelhos em posse da acusada.

A prisão de Meng Wanzhou, realizada ao final de 2018, foi um episódio de grande escala na guerra comercial entre EUA e China. Pouco antes desse fato, Donald Trump já havia banido a empresa (junto de outra companhia, a ZTE) de fazer negócios com empresas americanas sob suspeita de compartilharem informações de cidadãos dos EUA com o governo chinês. Com a prisão da executiva, a situação escalou consideravelmente e vem se arrastando até hoje. A Huawei segue negando todas as afirmações americanas.

Em maio, um juiz definiu como “improcedente” um pedido de paralisação do processo de extradição após entender que as ações de Meng Wanzhou também poderiam constituir um crime no Canadá. Se condenada, a executiva da Huawei pode ser presa nos EUA em caráter definitivo.

Fonte: The Guardian