Não é novidade que as pessoas que trabalham na linha de montagem dos produtos da Apple vivem em condições precárias e análogas ao trabalho escravo. Mas o jornal Daily Mail teve acesso a um dos dormitórios da Pegatron, parceira da gigante de tecnologia, em Xangai, e descobriu que a situação é pior do que o imaginado.

O prédio de quatro andares foi esvaziado no início do ano após queda na produção e abrigava 3 mil pessoas, que trabalhavam seis dias por semana em turnos diários de 12 horas para receber em torno de R$ 1.200 por mês e abastecer o mundo com o iPhone 6S. A maioria dos trabalhadores são migrantes das províncias mais pobres da China que vivem durante todo o ano nos dormitórios da fábrica.

De acordo com um segurança que continuou responsável pela vigia do prédio. Em épocas de pico das produções da Apple, o local chegava a receber 6 mil trabalhadores. “As encomendas foram ficando cada vez menores nos últimos dois anos, por isso a empresa decidiu fechar todo o complexo”, afirma.

De fato, a Apple teve uma queda nos smartphones. Em abril, a empresa anunciou que vendeu 16% iPhones a menos do que no mesmo período de 2015 e lucrou 18% a menos. Vale lembrar que os iPhones são responsáveis por quase dois terços da receita total da companhia.

Dentro do alojamento
A publicação afirma que cada andar tinha 50 quartos, onde dormiam mais de 12 funcionários; além disso, os quartos não tinham banheiro próprio, sendo que cada andar tinha um vestiário coletivo com uma média de 20 chuveiros. A Pegatron insiste que apenas oito trabalhadores viviam em cada quarto, mas, ao mesmo tempo, admite que as condições nos dormitórios são inaceitáveis e violam o código de conduta da Apple.

Veja o vídeo:

 

Um membro da China Labor Watch, uma organização que investiga más condições de emprego, se infiltrou na Pegatron e morou por dez dias no complexo. Segundo o investigador, na época, metade dos banheiros estavam interditados.

“Todos os dias muitos trabalhadores abandonavam os seus empregos. Descobri que a maioria dos trabalhadores não fez isso por causa dos baixos salários, mas por causa das duras condições de trabalho e as más condições de vida nos dormitórios”, afirma.

Em depoimento, um dos trabalhadores afirmou que um dos maiores problemas era a criminalidade dentro do complexo. A equipe de segurança não conseguia controlar todos os moradores e era comum as pessoas terem seus salários roubados; quando isso acontecia, elas tinham que revirar as latas de lixo para conseguir sobreviver.

Se já não bastasse as condições de moradia, os trabalhadores ainda eram obrigados a pagar R$ 80 por mês de aluguel para poder morar nos dormitórios da companhia.

Em defesa
Há anos a Pegatron é acusado de abusos trabalhista na produção do iPhone, tanto que em 2014, a BBC fez uma investigação denunciando as péssimas condições de trabalho dentro das fábricas. Em resposta, a companhia convidou, no início do ano, jornalistas e fotógrafos para uma excursão dentro da fábrica de Xangai, mas impediu a visitação ao dormitório.

“Nos últimos anos, nós construímos novos e modernos dormitórios no campus e continuamos reformando as instalações existentes com o objetivo de proporcionar um ambiente confortável para os nossos colaboradores. Todos os quartos são equipado com instalações de controle de incêndio, de acordo com as normas nacionais, ar-condicionado, água quente 24 horas por dia, serviços de segurança e serviços de limpeza seis dias por semana”, afirma a empresa.

As leis trabalhistas chinesas não falam sobre os padrões de alojamento para os trabalhadores, embora edifícios alugados estejam cobertos por uma série de regulamentos de construção, de higiene e de segurança que se aplicam a qualquer unidade comercial.