A venda de anúncios nos resultados de busca é uma das principais fontes de receita do Google. No entanto, de acordo com uma análise feita pela empresa SEMrush a pedido do Wall Street Journal, a empresa favorece os próprios produtos nas buscas, em detrimento das empresas que pagam por anúncios.
De acordo com a análise, que fez mil pesquisas diferentes com 25 termos distintos, em 91% dos casos o primeiro resultado da busca era um produto do Google ou de outras empresas da Alphabet (grupo do qual o Google faz parte). Em 43% dos casos, os dois primeiros resultados eram produtos relacionados ao Google.
Houve, contudo, disparidades ainda maiores. Buscas por “phones” (telefones) começavam sempre com três propagandas consecutivas dos smartphones Pixel, do Google. Todas as mil buscas pela palavra “laptop” traziam de volta uma propaganda para o Chromebook na primeira posição e, em 98% das buscas pela palavra “watches” (relógios), o primeiro resultado foi um relógio inteligente com Android.
O Wall Street Journal ainda diz que compartilhou os resultados da análise com o Google no dia 15 de dezembro. Após essa data, no entanto, a maioria das propagandas desapareceu, e uma segunda análise feita no dia 22 de dezembro teve resultados significativamente diferentes. O Google não quis comentar a disparidade, mas informou ao jornal que “desenvolveu conscientemente e cuidadosamente” seus programas de marketing de maneira que eles não afetem outros anunciantes.
O gráfico abaixo mostra a porcentagem de pesquisas que tinham um produto do Google como destaque principal dos resultados:
Conflito de interesse
Segundo o WSJ, os anúncios do Google são vendidos num esquema de leilão. Os anunciantes escolhem termos de busca e investem um determinado valor, e um algoritmo determina quais propagandas serão mostradas com base em fatores como a relevância e a qualidade do anúncio e o valor investido pelo anunciante. A empresa informa, no entanto, que quando ela compete por espaço de anúncio, o preço pago pelos outros anunciantes não é influenciado.
Mesmo assim, a prática ressalta um caso de conflito de interesse comum em empresas como o Google, a Microsoft e o Facebook: quando alguém paga por um anúncio nessa plataforma, está concorrendo também com a própria empresa responsável pela plataforma.
Embora o Google diga que sua participação nos leilões de anúncios não afeta os clientes, um especialista em marketing ouvido pelo Wall Street Journal considerou que não é tão simples assim. Como as propagandas do Google ocupam o espaço de uma propaganda normal, o fato de a empresa estar participando faz com que os anunciantes tenham que pagar mais para ter a chance de aparecer. “É certamente problemático”, considerou.
Não é a primeira vez que o Google se encrenca por causa de práticas desse tipo. A empresa também está sob investigação na Europa por favorecer seus próprios aplicativos no Android, e já chegou a ser multada na Rússia por manter seus aplicativos pré-instalados em dispositivos Android.