Um ‘bug’ no código do sistema Parity de carteiras digitais fez com que um valor superior a R$ 154 milhões (R$ 500 milhões) ficasse congelado nas contas dos usuários. Segundo a Parity, o problema afeta todos os usuários de carteiras multi-assinaturas do seu sistema, usadas para gerenciar fundos na criptomoeda Ethereum, criadas depois do dia 20 de julho.

Por meio do Twitter, a empresa anunciou que os valores em Ethereum contidos nas carteiras afetadas não podem ser usados ou sacados. A empresa diz que está apurando ainda uma maneira de contornar o problema, e que notificará seus usuários quando houver uma solução. O comunicado da Parity pode ser visto abaixo:

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Jogando a chave fora

Carteiras multi-assinatura são um tipo específico de carteiras de moedas virtuais. Elas contém medidas criptográficas que exigem a aprovação de diversas partes antes de que qualquer acordo de compra ou venda seja feito. Elas são, portanto, bastante úteis para empresas ou partes desconhecidas envolvidas em uma mesma negociação.

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De acordo com o Ars Technica, uma falha no código do sistema permitia que qualquer usuário de uma carteira tradicional transformasse a própria carteira em uma carteira multi-assinatura da qual ele é dono. Um usuário inadvertidamente acionou essa falha e, ao fazer isso, se tornou um membro de todas as carteiras multi-contrato do sistema. Em seguida, ele desativou a própria conta. 

A consequência disso é que todas as carteiras multi-contrato precisam agora da aprovação de um membro que não existe mais no sistema. E, por esse motivo, não é possível mover os valores contidos nela enquanto o problema não for corrigido. De acordo com o economista Tuur Demeester, caso um acidente de mesma magnitude ocorresse no sistema do dólar em vez do Ethereum, ele representaria o congelamento de cerca de US$ 73 bilhões (cerca de R$ 237 bilhões):

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Maiores vítimas

No total, segundo o pesquisador de segurança Patrick McCorry, cerca de 500 mil ethers (as moedas do sistema Ethereum) ficaram congeladas como resultado da falha – um montante que equivale a mais de US$ 154 milhões, ou R$ 500 milhões. Ele chegou ao número com base na análise das listas públicas de carteiras afetadas, e sua avaliação pode ser vista abaixo:

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O sistema Ethereum permite que os usuários criem outros contratos inteligentes (ou outras moedas) em sua mesma infraestrutura. Frequentemente, é essa o recurso que as empresas e organizações exploram quando fazem “ICOs” – ou seja, quando começam a vender uma nova moeda para angariar fundos com os quais investir em si mesmas. 

Uma das empresas que havia feito isso recentemente, segundo o TechCrunch, foi a Polkadot. A empresa foi fundada por Gavin Wood, que também foi um dos criadores do sistema Parity de carteiras digitais. Com o objetivo de conectar blockchains públicas e privadas, a iniciativa havia levantado mais de US$ 140 milhões em fundos com seu ICO. De acordo ainda com Demeester, cerca de US$ 90 milhões da empresa ficaram congelados como resultado:

Consequências

Graças à natureza pública das transações na Ethereum, já foi possível identificar a conta responsável por causar o problema. O dono da conta chegou até a se pronunciar, dizendo que era um “novato” no sistema, e que está “aprendendo agora” como mexer nele. “Eu vou ser preso por isso?”, ele questionou (embora ninguém tenha respondido, a resposta é, provavelmente, não):

E como seria de se esperar, o anúncio da falha fez com que o valor do Ether caísse ao menor patamar nas últimas duas semanas: US$ 291. Desde então, no entanto, ele já recuperou boa parte de seu valor, voltando a ser negociado por cerca de US$ 300 – um patamar em torno do qual ele gravita desde agosto desse ano, aproximadamente:

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