Imagine que, em vez de pagar mais de R$ 4 mil por um iPhone 6s de uma vez, você pudesse fazer uma assinatura dos serviços da Apple. Como funciona a Netflix, você pagaria algo em torno de R$ 160 por mês para manter por dois anos a versão mais nova do smartphone da maçã, e ainda poderia trocar por um modelo atualizado sem pagar nada a mais. Você compraria esse pacote?
Essa é a sugestão de um grupo de analistas da empresa de investimentos norte-americana Bernstein. A ideia vai ao encontro com o que muitos consumidores chamam de “estilo de vida” ou “experiência” de se ter produtos com a marca da Apple. Dessa forma, segundo os analistas, a empresa poderia evitar a iminente saturação do mercado e continuar satisfazendo seus fãs.
Hoje, vendas de iPhones representam quase 70% de todo o lucro que a Apple obtém no mercado. Só que mais cedo ou mais tarde, essa dependência pode acabar sendo a ruína da empresa. Como com qualquer produto, o mercado de smartphones pode acabar esgotando-se de novidades e cansando o consumidor, que não vai mais querer pagar o dobro do que pagou no seu celular por uma versão mais nova que, na prática, não tem nada de realmente novo.
Segundo os analistas da Bernstein, o mercado de smartphones está fadado a acabar como o de PCs: em queda livre, conforme menos pessoas se interessam em adquirir uma máquina nova e preferem manter suas antigas. Por outro lado, pesquisas mostram que o modelo de assinaturas não só está em alta como é muito bem visto pelos usuários.
Grande parte dos consumidores prefere pagar uma assinatura mensal da Netflix do que por filmes individuais, por exemplo, e ter a oportunidade de assistir a quantos filmes e séries quiser durante o mês, mesmo que acabe assistindo a nenhum. A proposta da Bernstein é parecida: por uma mensalidade fixa, o usuário pode manter seu iPhone, um iPad, o streaming da Apple Music e até armazenamento no iCloud à vontade, mesmo que não use tudo.
O que os analistas dizem é que o atual modelo torna a empresa refém de um ciclo de atualizações de hardware que, uma hora ou outra, vai se esgotar. Ou seja: quando as novidades se acabarem, os milhões de usuários que insistem em comprar um novo iPhone a cada dois anos não vão mais querer fazer um upgrade.
Mas se esses consumidores continuarem pagando uma quantia mensal pelo “estilo de vida Apple”, não importa se o novo iPhone tem grandes novidades ou não. O ciclo de atualizações pode até demorar mais, com um novo smartphone sendo lançado apenas a cada dois ou três anos – ao contrário do ciclo de 12 meses ou menos mantido atualmente.
Essa mudança de perspectiva poderia salvar não somente a Apple, mas toda a indústria de smartphones. Atualmente, a empresa de Cupertino já possui um programa de fidelidade que permite aos usuários, nos EUA, pagarem uma quantia fixa por mês e trocarem seu iPhone por um novo a cada lançamento. A proposta da Bernstein, porém, tornaria esse sistema a via de regra, e não a exceção.
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