por Ana Luiza Mano e Marcio Berber Diz Amadeu – psicólogos do site Psicólogos da Internet

Chega uma mensagem no WhatsApp, três notificações no Facebook e há mais duas tarefas no trabalho antes de poder ir para casa. Qual é a diferença entre estar acessível ao mundo durante o horário de trabalho e estar efetivamente disponível para outras atividades? Afinal, somos capazes de gerenciar nossa vida pessoal junto à vida profissional?

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Algumas empresas ainda têm dificuldade de integrar o uso de redes sociais ou mesmo aparelhos celulares – aspectos externos da vida dos colaboradores – ao ambiente de trabalho. A visão popular de que os trabalhadores são passivos na resposta aos seus alertas de comunicação digital e notificações não reconhece a extensão da capacidade de exercerem suas escolhas nas interações com as mídias digitais.

Em um artigo da Warwick Business School, os autores Joe Nandhakumar, João Baptista, e Niran Subramaniam, discutem que, mesmo no caso de conectividade constante proporcionada por meios digitais móveis, os trabalhadores são capazes de responder às comunicações em seu próprio tempo, permitindo o gerenciamento de tempo de tarefas pelos participantes. A interação via mídias sociais pode ser vista não como uma interrupção indesejada, mas talvez como parte da natureza do trabalho em si, bem como da vida dos trabalhadores.

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De acordo com outro artigo americano no site massplaner, frequentemente os funcionários têm necessidade de falar com os colegas para tirar dúvidas e tendem a usar as redes sociais para isso. Ao simplesmente compartilhar ideias ou questões com colegas, essas pessoas podem oferecer respostas em segundos, resultando numa melhora e rapidez dos serviços prestados aos clientes. Neste sentido, entende-se que se este hábito deveria tornar-se parte das práticas cotidianas das organizações contemporâneas.

Muitas áreas se beneficiam desse uso. Profissionais da área de marketing, por exemplo, utilizam redes sociais diariamente para gerenciar campanhas e responder consumidores. Algumas empresas atendem seus clientes exclusivamente por redes sociais e é difícil imaginar executivos ou vendedores realizando este trabalho hoje em dia sem a ajuda do LinkedIn. Mas nem sempre a percepção da comunicação via redes sociais é bem vista.

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Em uma pesquisa realizada em Novo Hamburgo/RS, as autoras Cáren Maria da Rosa Rinker e Vânia Gisele Bessi constataram que em ambientes de trabalho com funcionários e gestores, é comum a ideia de que a presença das redes sociais possa ter um impacto negativo na produtividade. Seja pela tentação constante que o feed de notícias oferece ou pelas notificações do Facebook, Instagram ou Snapchat intermitentes, a presença sedutora das redes sociais parece uma armadilha à uma jornada de trabalho ideal. Quando questionados se as redes sociais estão afetando aos usuários, interferindo em suas atividades rotineiras, ambos os grupos (gestores e funcionários) responderam, em média, que sim.

É interessante que, embora os participantes avaliem o seu grau de concentração e o seu desempenho como bons, mesmo utilizando redes sociais, acredita-se que este uso pode atrapalhar o desempenho, demonstrando que os usuários têm a percepção de a utilização precisa ser moderado. É importante notar também que a mesma pesquisa não encontrou ligação entre empresas com menor desempenho e liberdade de uso de redes sociais.

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Ou seja, apesar do uso rotineiro ser considerado normal, ainda permanece aquela visão de que as redes sociais são vilãs do trabalho produtivo e estão sempre à espreita tentando seduzir o trabalhador, mesmo que isso não seja observado. Um outro ponto interessante é que a percepção de usuários quanto à utilização de redes sociais no meio organizacional vem ao encontro da dos gestores. Ao longo desta pesquisa é possível evidenciar que ambos os grupos concordaram quanto à moderação.

Apesar dos resultados desses estudos, é muito cedo para avaliar o real impacto da nova forma de se comunicar na atualidade. O fato da comunicação mediada por computador ter se tornado tão presente no cotidiano reflete no ambiente de trabalho. E a forma de se trabalhar, ao mesmo tempo, acompanha essa mudança social. Por isso, não há como escapar da presença do contato virtual nesse ambiente. A cultura crescente do home office é um exemplo disso.

É bom notar também que a falta de motivação no trabalho muitas vezes é o resultado do próprio ambiente. É muito simples nos dedicarmos às redes sociais quando não vemos significado ou crescimento no trabalho. A distração causada pelas redes pode ser o resultado e não a causa da falta de motivação.

Os avanços tecnológicos são um caminho sem volta, e a liberação de uso de comunicadores instantâneos e redes sociais é recomendável, uma vez que os funcionários usam LinkedIn, Facebook e WhatsApp como ferramentas de trabalho. É necessário porém que haja orientação sobre como utilizar estes recursos de maneira segura, de modo a não compartilhar informações confidenciais, ainda que sem a intenção de fazê-lo.

Segundo um artigo da McKinsey Global Institute, as organizações devem transformar suas estruturas, processos e culturas, para que possam colher os benefícios das tecnologias sociais, tornando-se mais abertas e não-hierárquicas, criando assim uma cultura de confiança.

Em última análise, a quantidade de informações agora na ponta dos dedos do profissional moderno não deve significar que eles estão sobrecarregados, mas empoderados. Em contextos acadêmicos, conectividade digital e interações são muitas vezes vistos como um aspecto positivo do trabalho e uma parte essencial de como manter-se atualizado com novos conhecimentos e desenvolvimentos.