Desde 2010, quando o Brasil recebeu a primeira edição da Black Friday – em que lojistas aplicam grandes descontos em seus produtos por 24 horas -, muitos consumidores que se sentiram lesados por preços em desacordo com a proposta do evento chamam-no de “Black Fraude“. E nesta sexta-feira, 27, o país recebe sua sexta edição com certa desconfiança.
O motivo para o apelido depreciativo se deve à prática de algumas lojas em falsificar promoções. Muitos consumidores disseram ter encontrado produtos custando ainda mais caro do que o normal no dia dos descontos, sugerindo que, no Brasil, a Black Friday consiste em “tudo pela metade do dobro”.
Trata-se de uma estratégia comercial que pode aumentar os lucros dos varejistas e fabricantes, convencendo o cliente a comprar seus produtos por meio de uma falsa sugestão de descontos que, na realidade, não se aplicam. E o consumidor que não estiver atento a essas fraudes, certamente poderá ser lesado.
A principal diferença entre os primeiros anos de Black Friday no Brasil e a edição deste ano do evento é o cenário econômico no país. Se em 2010 o governo federal manteve o mercado aquecido com a facilitação do crédito e derrubada de impostos, 2015 é marcado por empresas fechando portas e altos índices de demissões que, invariavelmente, afetam o setor do comércio.
Para os amantes de tecnologia, outros fatores também podem, em tese, influenciar essa Black Friday. O governo federal decretou em 2015 o fim da Lei do Bem, que durante anos manteve muitos smartphones e outros eletrônicos fabricados no Brasil abaixo dos R$ 1.500, contribuindo para a inclusão digital de milhões de brasileiros.
Ainda que a medida não tenha sido efetivada até agora, é natural que muitas fabricantes já comecem a subir os preços de seus produtos desde já. O que, teoricamente, só contribui para uma repetição da chamada “Black Fraude”: preços altos e descontos enganosos, tudo pela metade do dobro.
Ou será que não?
Contudo, há bons motivos para acreditar que a Black Friday deste ano trará descontos de verdade. O principal deles é o nível dos estoques nas lojas virtuais e físicas, avaliado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP) em 94,6 pontos em novembro.
O Índice de Estoques do Fecomercio leva em conta a visão dos empresários filiados sobre quantos produtos eles têm nas prateleiras, prontos para a venda, mas ainda parados. O índice vai de 0 a 200, sendo que quanto mais alto, mais satisfatório; e quanto mais baixo, menos satisfatório.
Com um índice abaixo de 100 pontos, é possível concluir que as empresas estão com muitos produtos parados em estoque – o que não é bom para a produção e nem para o comércio em si. Afinal, as lojas precisam vender para lucrar e produzir mais renda, emprego e bens. Assim gira a roda da economia.
A Black Friday seria o momento ideal para colocar todo esse estoque em movimento. Uma pesquisa realizada pelo site Reclame Aqui mostrou que 61% dos consumidores brasileiros entrevistados pretendem, sim, fazer compras no evento deste ano. Deste total, cerca de 25% quer gastar entre R$ 1.000 e R$ 2.000.
Sendo assim, há motivos para acreditar que o resultado deste ano será diferente. Uma projeção dos organizadores da Black Friday, o grupo Busca Descontos, diz que o total de vendas deve chegar próximo ou ultrapassar o R$ 1 bilhão. De todo modo, é importante tomar cuidado para não cair em fraudes, evitar certas lojas online e pesquisar a fundo as empresas participantes.