Por Gustavo Sumares

O convívio com gringos fez com que Oberdan Basilio virasse Obi Wan. Em novembro de 2011, seu irmão, Vinícius, teve a ideia de abrigar estrangeiros na casa da família, na favela da Rocinha. Pouco tempo depois, porém, ele conheceu sua esposa, australiana, e se mudou com ela para a Austrália, deixando Obi e sua mãe, dona Neuza, para tocar o negócio – “o primeiro hostel da Rocinha”, segundo ele.

Não foi um processo fácil. Sem saber inglês, Obi precisava fazer mímica para se entender com os turistas. Sua mãe também não se acostumou tranquilamente com a ideia: “era muita gente estranha dentro da minha casa”, conta. A própria favela não olhava com bons olhos os estrangeiros que vinham visitar.

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Oberdan Basilio, o Obi Wan, e sua mãe mantêm um hostel na rocinha (Foto: Gustavo Sumares)

Ao longo de 2012 e 2013, Obi criou e manteve uma página no Facebook para o Rocinha Guesthouse, seu negócio. As fotos que ele postava dos visitantes em sua casa, e o olhar maravilhado que eles tinham sobre aquele lugar, motivaram o jovem a trabalhar também como guia turístico pela Rocinha. Um dia, porém, o albergue recebeu uma crítica. O motivo: o gerente não falava inglês. Obi então começou a se esforçar e, eventualmente, aprendeu a língua “na marra, por necessidade mesmo”.

Com a copa do mundo em 2014, naturalmente, os negócios decolaram. A frequência cada vez maior de visitantes fez com que a Rocinha se adaptasse à sua presença e aproveitasse as oportunidades de negócios que eles traziam. A página do Facebook ajudou a dar visibilidade ao empreendimento: a Rocinha Guesthouse já foi visitada por repórteres do New York Times, Sunday Times, e pela BBC.

Atualmente, Obi consegue abrigar oito visitantes em dois quartos. Para as Olimpíadas, contudo, pretende acrescentar mais um quarto, para poder hospedar até 12 pessoas ao mesmo tempo, de forma a poder aproveitar melhor o período. 

Do Vidigal para o mundo 

ReproduçãoO evento também está na mira de Fábio Pimenta e Fabíola Barroso, casal dono do Bar Lacubaco, no morro do Vidigal. Após uma experiência de seis meses funcionando como bar, o casal optou por transformar seu negócio em um restaurante, e usou o Facebook para ajudar a divulgar o local. 

Fabíola diz que o efeito da página é fácil de se perceber: “Quando a gente posta fotos dos pratos todo dia, na outra semana a gente já percebe que o movimento aumenta”. A divulgação por meio da rede social é eficaz também em trazer clientes de fora. Segundo o casal, 70% de sua clientela vem de fora do Vidigal e, destes, 30% são estrangeiros.

A visibilidade que o Facebook também foi importante para a carreira de Fábio. Graças à página, ele conseguiu um estágio de um mês no restaurante Dalva e Dito, em São Paulo, sob a tutela do chef Alex Atala. “Voltei cheio de ideias”, conta.

Com R$ 2 por semana 

A periferia é cheia de pequenas e médias empresas, de pessoas que buscam contornar o preconceito, que muitos empregadores ainda têm com os moradores da favela, abrindo seu próprio negócio. Faz sentido, portanto, que haja uma agência de marketing e mídias sociais voltada especialmente para elas. 

Trata-se da Agência #TudoNosso, de Nova Iguaçu, gerenciada por Cristiane e Petter Oliveira. “As empresas pagam o que podem e, com isso, a gente já consegue fazer muita coisa usando o Facebook”, conta Cristiane. 

Reprodução Cristiane e Petter Oliveira mantém a Agência #TudoNosso (Foto: Gustavo Sumares)

A #TudoNosso conta com sete clientes, alguns dos quais investem apenas R$ 2 por semana em mídias sociais (totalizando R$ 8 por mês) e, segundo Petter, já conseguem perceber um crescimento em seus negócios. A aquisição mais recente da agência foi uma empresa de turismo chilena que percebeu como poderia ser valioso ter uma agência no Brasil, atraindo turistas para o Chile. “É um momento em que a periferia vira centro”, comenta Cristiane. 

Para ela, “o Facebook não é uma ajuda – ele é indispensável”. O crescimento dos clientes da agência – e consequentemente o da própria agência – foram resultados do uso eficiente da rede social para promover os negócios. “A gente foi descobrindo a melhor maneira de usar a ferramenta como alguém que vai destravando novos movimentos em um game”, conta Petter.