Alimento para a imaginação. Na parte norte do aeroporto Lambert – Saint Louis, nos Estados Unidos, um prédio sem identificação guarda segredos que apontam o futuro. Estamos falando do futuro de amanhã, de alguns meses adiante ou da realidade daqui a 25 anos. A unidade é responsável por alguns dos projetos mais secretos ligados a sistemas de defesa dos Estados Unidos e de outros aliados. Os poucos que têm a chance de entrar nesse complexo se deparam com estruturas que lembram filmes de ficção científica. Num galpão, uma aeronave de formas diferentes, suspensa, rodeada de plataformas de madeira – parecidas com palcos – a partir das quais times de engenheiros podem examiná-la de todos os ângulos. Em outras dependências, as imagens holográficas, os simuladores, os protótipos de robôs e as telas imensas de altíssima definição completam o cenário que poderia ter saído da cabeça de um roteirista de Hollywood. Há até uma seção inteira dedicada aos chamados jogos de guerra, aqui, simulações de cenários de combate são feitas num grau de realismo impressionante. Os resultados de cada exercício, é claro, são altamente secretos.
Apesar da discrição que cerca boa parte dos projetos desenvolvidos aqui, chega a ser surpreendente o fato de que, nas ruas próximas ao complexo, você encontrará placas indicando a localização desses prédios. Essas placas de trânsito talvez sejam uma indicação da nova fase “um pouco menos secreta” vivida atualmente pela organização. Ainda assim, é claro, muito do que acontece por aqui recebe o selo de confidencial. Mas, parte do trabalho foi liberado para o público – e você vai conhecer um pouco aqui. O que permanece envolto numa áurea de mistério é o nome da organização (ele também parece saído de algum roteiro de cinema): Phantom Works.
Engenheira da Phantom Works em Huttington Beach, Califórnia
Os laboratórios da Phantom Works são parte de uma divisão da Boeing que se encarrega de criar o futuro – o braço da companhia dedicado à pesquisa e desenvolvimento. A sede fica em St. Louis, no estado do Missouri, mas há um enorme complexo também em Huttington Beach, na Califórnia, além de outros laboratórios menores espalhados pelos Estados Unidos e por outros países. O nome é derivado de um caça chamado F-4 Phantom II e tem tudo a ver com os dias da Guerra Fria (se você quiser saber detalhes dessa história, clique aqui). Darryl Davis, presidente da Phantom Works, resume a missão desta forma: “nosso trabalho é criar e desenvolver a tecnologia que vai tornar nossas soluções reais. A ideia é nos colocar na vanguarda para nossos clientes e, é claro, em relação a nossos concorrentes”.
Soluções reais
Alguns produtos criados pela Phantom Works foram tornados públicos recentemente. Na lista estão desde aeronaves até sistemas de comunicação. Nos céus, chamam a atenção os aviões não tripulados. Um deles, o Phantom Eye (você pode conferir um vídeo da aeronave aqui), tem entre seus destaques a propulsão. Trata-se de uma aeronave desenhada para tarefas de vigilância. Os motores são alimentados por células de hidrogênio. Ou seja, além de altamente eficiente, trata-se de uma aeronave de enorme autonomia que não polui. Basicamente, o resíduo de sua operação é água.
Phantom Eye, movido a hidrogênio
Indo ainda mais alto, no laboratório da Califórnia, em Huttington Beach, engenheiros estão em pleno de desenvolvimento de um software que serã o responsável por guiar uma das novas naves espaciais da Boeing, a CST 100, para que lea atraque sozinha à Estação Espacial Internacional (clique aqui para conhecer a espaçonave). Uma equipe de 35 pessoas está à frente deste sistema que usa informações visuais e de coordenadas para conduzir a nave.
No campo militar, uma das mais recentes estrelas se chama Dominator. Trata-se de um tipo de drone e um de seus diferenciais é ser extremamente compacto. A ponto de poder ser lançado a partir de outro avião. A mecânica é surpreendente. Para poder ser transportado mesmo por aeronaves de menor porte, o Dominator viaja dobrado. Uma vez lançado ao ar, ele abre suas asas, assumindo sua forma final. A aeronave pode carregar armas de pequeno porte.
Cultura de inovação
Evidentemente, trabalhar num centro de desenvolvimento que constrói o amanhã é um privilégio e é o sonho de muitos profissionais. Mas, há um traço que permeia todos os depoimentos dos funcionários da Phantom Works: eles são unânimes em afirmar que um fator decisivo é o incentivo para que eles pensem de forma independente. Esse é um dos motores da inovação. Há exemplos disso mesmo em relação a outros setores da própria Boeing. Dois anos atrás, um time da Phantom Works descobriu que estava trabalhando no mesmo projeto que um time ligado aos aviões comerciais da empresa. Mas, as abordagens eram bem diferentes. Fred Swanstrom, engenheiro da divisão de aviões comerciais, resume a colaboração que nasceu a partir daí: “nossa abordagem era conservadora, a deles (da Phantom Works) não. Agora, estamos mesclando as duas visões. O trabalho da Phantom nos mostrou o que é possível no futuro. Por enquanto, estamos apenas nos estágios iniciais do que podemos alcançar”. O resultado desse encontro já está presente na nova geração de jatos comerciais 737 MAX, que já começa a ganhar os céus em 2016.
Novos ares
Essa nova fase, que mistura o sigilo dos projetos militares, com a publicidade em torno de alguns novos produtos tem chamado a atenção de vários funcionários da Phantom Works, que durante muito tempo viveram acostumados ao anonimato. Um exemplo recente foram os testes do X-51 WaveRider (clique aqui para ver o desenvolvimento do WaveRider). Trata-se de uma aeronave desenhada para desenvolver a tecnologia dos futuros voos hipersônicos. Em seu teste, o WaveRider quebrou todos os recordes de duração para um voo desse tipo. Dois dias depois, o vídeo com o teste estava disponível no YouTube, para surpresa dos envolvidos. Um dos engenheiros que trabalhou no projeto resumiu: “nunca tinha visto algo assim em minha carreira. Mas foi muito bom poder acessar o vídeo e, finalmente, poder mostrar para minha família: isso aqui é o que eu faço”. Você pode conferir o vídeo logo abaixo.