É difícil de acreditar, mas hoje a WhatsApp Inc. completa exatos dez anos de vida. Nesta década, o aplicativo revolucionou o mundo das comunicações, ao oferecer uma alternativa gratuita para trocar mensagens instantâneas pelo celular, e viu seu número de usuários explodir pelo mundo todo. A empresa foi fundada em fevereiro de 2009, nos Estados Unidos, por dois ex-funcionários do Yahoo!, o ucraniano Jan Koum e o norte-americano Brian Acton. Desde 2014, pertence ao Facebook.
De polêmicas a atualizações importantes, de notícias falsas a criptografia de mensagens, o WhatsApp viveu grandes momentos ao longo da sua existência. Relembre alguns desses fatos.
1. Fundação do WhatsApp
Poucos sabem, mas a proposta inicial do WhatsApp era completamente distante daquela que, posteriormente, conquistou o mundo. A função de troca de mensagens só foi disponibilizada na versão 2.0, que chegou à App Store em agosto de 2009. Foi ela que fez a quantidade de usuários saltar para 250 mil “de repente”, segundo os próprios criadores.
A primeira versão do aplicativo, lançada no início do mesmo ano, era bastante instável e focava em um “status”, que ficava visível para os contatos e que era atualizado à vontade pelos usuários. Essa história começou a mudar em junho, após algumas correções e o lançamento das notificações no iOS. Com os alertas aparecendo na tela do celular, as pessoas passaram a usar o app para, simplesmente, conversar. Foi aí que o WhatsApp virou a chave.
O serviço viu potencial para competir internacionalmente com o SMS, que, apesar de gratuito nos Estados Unidos, ainda é pago em vários países. “É ridículo”, Koum explicou na época. “É uma tecnologia morta como uma máquina de fax remanescente dos anos 70, sentada lá como uma vaca de dinheiro para as operadoras.”
2. Comprado pelo Facebook
Em fevereiro de 2014, o WhatsApp foi comprado pelo Facebook por um investimento total de US$ 19 bilhões. Desses, US$ 12 bilhões foram dados em ações do Facebook, e ainda US$ 3 bilhões em ações restritas, distribuídas aos funcionários do WhatsApp. Pelo acordo, Jan Koum, cofundador e CEO do WhatsApp, se tornou um executivo do Facebook, também ocupando uma cadeira no conselho.
À época, o aplicativo tinha 450 milhões de usuários ativos por mês. Seis meses depois, ele já era o serviço de mensagens mais popular do mundo, com 600 milhões de usuários ativos mensalmente. O WhatsApp era avaliado em US$ 1,5 bilhão.
A aquisição foi a maior realizada pelo Facebook até então, e foi extremamente estratégica para assentar sua posição no mercado de mensagens instantâneas – algo não atingido eficientemente com o Messenger. Antes do Facebook, o Google foi quem fez uma oferta de compra da startup no valor de US$ 10 bilhões, mas o negócio não foi fechado.
O negócio, no entanto, foi polêmico. O WhatsApp sempre se vendeu como um aplicativo que valorizava a privacidade de seus usuários, e havia caído nas mãos do Facebook, uma das empresas que mais ganha dinheiro explorando os dados que consegue coletar do público. A promessa, na ocasião era de que as duas empresas se manteriam separadas, mas bastou pouco mais de um ano para que o Facebook começasse a usar informações do WhatsApp para o direcionamento de publicidade.
3. Um bilhão de usuários
O aplicativo atingiu a marca recorde de 1 bilhão de usuários mensais em fevereiro de 2016, além de um total de 42 bilhões de mensagens compartilhadas diariamente. Em nota publicada no próprio blog, a empresa afirmou: “Diante de todos os progressos que fizemos nos últimos sete anos, a nossa missão nunca mudou. O WhatsApp começou como uma ideia simples: garantir que qualquer pessoa pudesse ficar em contato com a família e os amigos em qualquer lugar do planeta, sem custos ou gadgets atrapalhando seu caminho.”
Desde que foi comprado pelo Facebook, o WhatsApp apresenta enorme crescimento. Um ano e meio depois, em julho de 2017, o aplicativo chegou a 1 bilhão de usuários recorrendo aos serviços diariamente. Pouco tempo depois, em fevereiro de 2018, foi anunciada a marca de 1,5 bilhão de usuários mensais.
4. Mensagem visualizada, videochamadas e outros recursos
Foram várias as mudanças introduzidas no aplicativo ao longo desses anos. Entre elas, as figurinhas, os GIFs, o envio de áudios, o encaminhamento de mensagens e a conexão ao servidor web.
Uma das mais relevantes foi a funcionalidade de confirmação de visualização da mensagem. A novidade desagradou boa parte dos usuários, que alegaram danos à privacidade. Por isso, uma semana depois, o WhatsApp teve que lançar uma atualização para permitir a desabilitação da ferramenta.
Outra grande mudança foi o serviço de videochamadas. Adicionado em 2018, ele permite que você faça chamadas em vídeo com até quatro pessoas ao mesmo tempo. Há também a possibilidade de desabilitar o vídeo e apenas conversar em áudio com o grupo. Até então, o aplicativo só habilitava essa ferramenta para conversas a dois.
5. Criptografia de ponta-a-ponta
O recurso de mensagens encriptadas foi adicionado ao aplicativo em abril de 2016. O aviso aparece em cada nova conversa aberta, indicando que ninguém, nem o próprio WhatsApp, pode interceptar os textos, fotos, áudios e vídeos que os usuários trocam entre si, seja em grupos ou conversas particulares. Desde então, cada mensagem é enviada com um cadeado e apenas os interlocutores possuem a chave para destrancá-lo, sem qualquer chance de desativar o recurso.
Essa medida, apesar de dar um grande passo rumo à proteção da privacidade, gera muita polêmica até hoje. Isso porque a ferramenta não permite nem mesmo que autoridades policiais acessem mensagens particulares a fim de investigar atividades criminosas. No Brasil, o projeto da Lei Anticrime, de autoria do ministro Sérgio Moro, pretende mudar esse quadro para facilitar a interceptação das conversas. A disputa não deve ser tranquila.
6. Primeiro bloqueio no Brasil
Como não lembrar dos episódios de proibição do aplicativo pelo país? Foram quatro vezes em dois anos que o brasileiro teve o acesso ao WhatsApp restrito. Na primeira ocasião, em fevereiro de 2015, um juiz do Piauí determinou a sua suspensão após a empresa se recusar a fornecer informações para uma investigação policial. Para seu azar, o app não chegou a ficar fora do ar.
Em dezembro do mesmo ano, porém, o WhatsApp chegou a ficar fora do ar por 14 horas. Segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo, a empresa não atendeu a uma determinação judicial de julho de 2015 envolvendo uma ação criminal. No dia seguinte ao do início do bloqueio, uma liminar do TJ-SP permitiu que as operadoras deixassem de suspender o acesso ao aplicativo.
7. WhatsApp Business
Em 2017, surgiu o WhatsApp Business, uma versão empresarial do aplicativo que fornece recursos voltado especificamente para empresas, sendo que algumas das ferramentas são pagas para companhias que lidam com grandes bases de clientes. O serviço funciona como um aplicativo separado, o que permite que pequenos empresários possam separar as suas contas pessoais das profissionais e ter as duas versões em um só aparelho.
Ele representou uma mudança agressiva de mentalidade da empresa, em direção à monetização e à garantia de lucros. Até por isso, foi pivô de um desconforto que levou, no ano seguinte, à saída dos fundadores; entende-se que o Facebook exigia que o WhatsApp enfraquecesse a criptografia do serviço para facilitar alguns recursos do WhatsApp Business.
8. O adeus dos fundadores
Jan Koum e Brian Acton começaram a entrar em rota de colisão com os novos valores da empresa. O ideal gratuito, que fez o WhatsApp deixar de cobrar US$ 1 a cada 12 meses e o manteve sem propagandas, estava sendo progressivamente abandonado. Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, pretendia caminhar em direção à monetização do aplicativo, como mostrou com o WhatsApp Business e com sua intenção de inserir anúncios na interface.
Por isso, no ano passado, os dois fundadores deixaram a empresa. “Eu vendi a privacidade dos meus usuários em troca de um benefício maior. Eu fiz uma escolha e assumi um compromisso. E vivo com isso todos os dias”, afirmou Acton na ocasião. “Eu sou um vendido. Eu reconheço isso.”
9. Interferência eleitoral?
Em meio a eleições federais conturbadas no Brasil, a repórter Patrícia Campos Mello, da Folha de São Paulo, denunciou um esquema ilegal de disparo de mensagens via WhatsApp. A reportagem, divulgada durante o segundo turno, afirmou que empresas compraram pacotes para enviar, em massa, centenas de milhões de textos com conteúdo anti-PT. Os contratos chegavam a R$ 12 milhões e se configuravam como doação de empresas não declarada, prática proibida pela legislação eleitoral.
O Tribunal Superior Eleitoral não deu sequência às investigações. A disseminação de notícias falsas via redes sociais foi um grande transtorno durante o processo eleitoral.
10. Polêmicas na Índia
Não é só o Brasil que vive em situação de conflito com o WhatsApp. A Índia, um dos principais mercados da empresa, viveu uma epidemia de linchamentos, no ano passado, com 27 mortos em dois meses, devido a correntes falsas que circularam pelo aplicativo. O resultado disso é que a empresa começou a ser pressionada pelo governo indiano para tentar frear a distribuição desse tipo de conteúdo.
No início do ano, o Facebook anunciou uma série de medidas para conter o uso inadequado do aplicativo de mensagens. Entram nessa categoria, por exemplo, aqueles que enviam mensagens em massa na plataforma e os que criam contas múltiplas para espalhar conteúdo não confiável. O pacote foi anunciado visando as eleições presidenciais na Índia, marcadas para abril.