Nós já sabemos que nada é de graça, especialmente na internet. Ou em outras palavras, quando um serviço online é de graça, isso significa que o produto é você. 

Companhias de Internet coletam dados sobre você – quais sites você visitou, o que você comprou, em qual tipo de público você se encaixa – em troca de serviços “gratuitos”, como Gmail, Google Maps ou Facebook e Instagram, por exemplo. Eles usam essas informações para melhorar suas experiências nessas plataformas, e claro, fazer com que você receba os anúncios segmentados e pague por produtos/serviços.

O problema é que, normalmente, os usuários não sabem a quantidade de dados coletados sobre eles, não sabem para que elas estão sendo usados e se eles estão protegidos. Às vezes, essas informações podem chegar nas mãos de hackers ou serem usadas para outros fins, que não a publicidade.

O Google Chrome é basicamente uma ferramenta de vigilância para o gigante das buscas, além de inúmeras outras empresas de coleta de dados, de acordo com o Washington Post. O Facebook está sendo processado por não proteger o login e informações de 30 milhões de usuários. E no topo dessa confusão está a Cambridge Analytica, gerando debates sobre o que as empresas de tecnologia estão fazendo com os dados de seus visitantes.

É por isso que dois senadores, Mark Warner (Partido Democrata) e Josh Hawley (Partido Republicano), lançaram um projeto que exigiria que empresas como Facebook, Amazon e Google divulgassem qual a importância dos seus dados para elas.

Para a jornalista do portal Vox, Rani Molla, isso deve nos fazer pensar sobre o quanto da internet – e dos produtos e conteúdos que consumimos nela – é pago pela publicidade e por quais informações os anunciantes pagam mais. Segundo ela, se as empresas de tecnologia não tivessem publicidade, com certeza teriam menos incentivo para pegar nossos dados de forma tão intensa. Mas então, eles teriam que encontrar outra maneira de ganhar dinheiro, o que provavelmente significa que eles passariam a cobrar pelos serviços.

Quanto exatamente? Bem, esse não é um cálculo simples. Por isso é um resultado aproximado de como as maiores plataformas da internet poderiam, teoricamente, funcionar sem depender quase que totalmente de nossos dados pessoais.

Os donos de mídias digitais nos Estados Unidos – uma empresa que vende espaço publicitário ou tempo online para anunciantes, como Facebook ou Google – devem receber US$106 bilhões (aproximadamente R$408,02 bilhões) em gastos com publicidade só em 2019, segundo a empresa de mediação de anúncios Zenith.

Quando dividido pelo número de adultos nos EUA – cerca de 250 milhões de pessoas – o resultado é de US$420 (R$1616,66) por ano, ou seja, cerca de US$34 (R$134,72) mensalmente, por pessoa.

Portanto, em teoria, você precisaria pagar US$34 por mês para substituir todo valor faturado com a publicidade e fazer com que seus dados sejam deletados pelas empresas.  Essa seria uma versão sem anúncio.

“Muitas pessoas estão bem pagando por uma ou duas assinaturas de plataformas que usam muito, mas querem os anúncios subsidiem o resto”, disse ao portal Recode, David Pickes, co-fundador e diretor técnico da empresa The Trade Desk.

A Recode entrou em contato com algumas dessas principais empresas. A Amazon e o Google se recusaram a comentar se eles considerariam oferecer serviços sem anúncio e o Facebook não respondeu à solicitação.

O Facebook receberia uma grande parte desses US$35 – cerca de US$10 por mês, com base em sua receita média de anúncios por pessoas nos EUA e Canadá no último trimestre. Obviamente, o Google receberia a maior parte, já que é a empresa que mais ganha dinheiro com anúncios digitais – mas seus negócios e usuários são variados, por isso é difícil presumir o número exato de dólares que pertence “à Big G”. O resto do dinheiro seria distribuído entre outros gigantes do mundo do anúncio, e talvez, sobresse uma parte – ínfima, como sempre – para os sites de notícia.

Algumas ressalvas:

  • Uma versão por assinatura de todas as plataformas que integram a Internet seria impossível. Distribuir US$35 por todas elas seria uma tarefa gigantesca e não é o que o portal Recode está propondo.
  • Seus dados podem valer mais do que o calculado, pois a medição foi feita com base no que as empresas estão obtendo com vendas de anúncios.
  • Nem todo mundo consome tudo, então o preço desse modelo de assinatura sem anúncio seria muito variado. E vale ressaltar que nem todo mundo usa internet. Mais precisamente metade da população mundial, algo em torno de pouco mais de 3 bilhões de pessoas.
  • Se as empresas não coletassem dados, seriam menos úteis. Por exemplo: a sua localização no Google Maps ajuda a plataforma a escolher a melhor rota para você e os produtos comprados na Amazon ajuda a descobrir as melhores sugestões de compra no futuro.
  • Os anúncios segmentados podem não ser tão eficazes no final das contas, então talvez toda a coleta seja em vão.
  • Já existem concorrentes que utilizam da assinatura sem anúncios, mas ainda assim, os consumidores preferem os modelos tradicionais, com publicidade.
  • Por fim, a Internet seria completamente diferente do que conhecemos. Muitas das nossas empresas favoritas ficariam totalmente irreconhecíveis.

De acordo com Jonathan Barnard, chefe de previsões da Zenith, “se os anúncios acabassem completamente, o Google com certeza não existiria da forma que conhecemos”. “Mas você ainda poderia fazer pesquisas na Internet. O Facebook também não existiria dessa forma, mas você ainda poderia entrar em contato com seus amigos e familiares”.

Como citado anteriormente, é bem pouco provável que as companhias de tecnologia como Google e Facebook mudem totalmente – ou até ofereçam – modelos sem anúncios. E é quase inimaginável que eles parem de coletar seus dados. Mas propostas de legislação com a de Warner e Hawley nos Estados Unidos, são mais um sinal de como a regulamentação está chegando e, provavelmente, em algum ponto, eles terão que reavaliar essa coleta de dados.

  

Fonte: Recode